A 30ª edição da Bett Brasil abriu espaço para uma roda de conversa descontraída sobre o desenvolvimento de competências socioemocionais. Com diferentes olhares e experiências, o historiador e escritor Leandro Karnal e o cantor e educador Leo Chaves, abordaram como o equilíbrio emocional e o autoconhecimento são pilares fundamentais para a aprendizagem e para a construção de relações saudáveis dentro e fora da escola. A mediação do encontro foi da educadora Giselle Fouyer.

No painel “Educação socioemocional: o poder da autogestão para a construção de vínculos”, foi destacado o papel da autogestão emocional no fortalecimento dos vínculos interpessoais e no enfrentamento de desafios cotidianos no ambiente educacional e familiar. A roda de conversa também chamou a atenção para a importância da empatia, da escuta ativa e da construção de ambientes mais acolhedores e humanos nas instituições de ensino e dentro de casa.

Karnal abriu a conversa com uma crítica à concepção histórica da educação. “Por séculos, a escola foi pensada para formar operários e soldados. Hoje, ela precisa ser afetiva e integral. O aluno não é apenas conteúdo; ele é um ser humano inteiro”, afirmou.

Para o pensador, embora disciplinas como português e matemática sejam indispensáveis, outras áreas como artes, dança e teatro também são fundamentais para o desenvolvimento pleno do estudante com a temática e com o educador. “Você pode esquecer o que aprendeu, mas nunca esquece quem ensinou. As relações humanas são o que permanece”, enfatizou.

Karnal foi um dos palestrantes da 30ª edição da Bett Brasil. Foto: Bett Brasil.

Na sequência, Leo Chaves compartilhou sua trajetória pessoal. Reconhecido pela carreira artística, ele contou como a fama o afastou da própria essência e das relações familiares. “Vivia um personagem dentro de casa. Era um pai ausente, igual a um professor que apenas entrega a matéria, sem explicar, sem criar vínculos”. Ao buscar conhecimento sobre educação emocional, passou a ressignificar seu papel dentro e fora de casa. “Educar é dar exemplo, é dedicar tempo, é participar. Precisamos acolher essa nova geração e enxergá-la com sensibilidade”, afirmou.

A conversa foi enriquecida com a participação ativa do público. Uma professora levantou a questão sobre como equilibrar a gestão do tempo entre demandas profissionais e familiares, além de pensar formas para que jovens possam construir e cumprir metas.

Chaves ressaltou a força dos exemplos práticos, enquanto Karnal pontuou: “Filhos perdoam pais conservadores ou liberais, mas não pais ausentes. Precisamos trabalhar com o tempo real que temos, não com a fantasia do comercial de margarina”.

"Precisamos acolher essa nova geração e enxergá-la com sensibilidade", destacou Leo Chaves. Foto: Bett Brasil.

A roda de conversa contou também com o depoimento emocionante de um jovem de 23 anos, que relatou como o modelo tradicional o afastou da escola e o fez duvidar de si mesmo. Ao participar de um projeto de residência de aprendizagem pelo país, ele reencontrou o prazer de aprender e ampliou seu olhar para as desigualdades e os desafios educacionais do país. Hoje, ele cursa sociologia.

Ao final os participantes deixaram uma mensagem clara: educar é um processo contínuo de presença, escuta e transformação — tanto para quem ensina quanto para quem aprende. Em meio às pressões do cotidiano e às mudanças sociais e tecnológicas, é preciso resgatar o olhar humano nas relações e a potência dos vínculos afetivos.

Karnal sintetizou: “Educação é como um bonsai, exige cuidado diário – não é agronegócio”. Uma metáfora que convida educadores, famílias e instituições a cultivarem com delicadeza o desenvolvimento integral de cada ser humano.

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