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6 lições que o Brasil precisa aprender sobre a educação do amanhã

Rafael Parente
6 lições que o Brasil precisa aprender sobre a educação do amanhã


 

O mundo está se tornando um lugar cada vez mais complexo e cheio de incertezas. A experiência global com a pandemia da Covid-19 é um exemplo bastante concreto disso. A globalização, incluindo aspectos migratórios, os avanços tecnológicos e científicos, o aparecimento de novos vírus, dentre outros fatores, estão gerando oportunidades para o desenvolvimento humano, e, por outro lado, desafios sem precedentes. O progresso educacional está sendo mais valorizado porque há maior compreensão que só as escolas, especialmente as públicas, podem preparar, em escala, as crianças e os jovens para um futuro completamente imprevisível. Neste contexto, quais são as seis principais lições que o Brasil precisa aprender sobre a educação do amanhã?

1. As escolas e os sistemas estão em transformação acelerada e contínua. E ela custa caro. Os tipos de espaços, rotinas, hábitos, materiais e metodologias utilizados nas escolas há décadas já estavam ultrapassados. A pandemia acelerou as mudanças. Em todos os países, escolas estão se esforçando para se tornarem espaços acolhedores, inspiradores, desafiadores e que utilizam novas tecnologias de forma “invisível”, sem grandes choques. Os sistemas educacionais, por sua vez, estão passando a apoiar a inovação, a cooperação entre escolas e atores, a autonomia e o empoderamento dos profissionais. Tudo isso, entretanto, tem um alto custo, e o fato do nosso investimento atual ser comparável à média da OCDE não diz muito. Como passamos a maior parte de nossa história investindo muito pouco (mesmo em comparação com nossos vizinhos latinoamericanos), há uma correção histórica a ser feita. Além disso, não podemos comparar os investimentos atuais porque a nossa média em vários aspectos (infraestrutura, materiais, TI – internet e computadores –, formação de professores, número de escolas e creches em tempo integral, etc.) e em resultados educacionais é bastante inferior à média da OCDE.

2. A estabilidade social e o aumento da produtividade dependem de uma oferta mais igual de serviços educacionais. O trabalhador brasileiro leva uma hora para fazer o que o norte-americano faz em quinze minutos. Não melhoraremos a produtividade, resolveremos nossos “voos de galinha” na economia, ou a violência endêmica sem equacionar a crise de aprendizagem. Nossos trabalhadores não conseguem produzir por falta de conhecimento, cultura e habilidades de vida. A violência é, também, fruto da desigualdade. E não adianta termos apenas algumas escolas públicas e particulares de excelência, enquanto a maioria sofre com a falta de itens básicos de infraestrutura, os profissionais estão desmotivados e não têm formação inicial ou continuada adequada. A desigualdade educacional reproduz e agrava a desigualdade social.

3. O conhecimento importa tanto quanto o que se faz com ele (competências), valores, e atitudes. 53% dos professores ingleses acreditam que habilidades socioemocionais serão mais importantes do que conhecimentos acadêmicos para o futuro de seus alunos. O conhecimento estará mais acessível, disponível em qualquer lugar. Os jovens precisarão de uma educação integral que inclua habilidades de liderança, vocacionais, de comunicação, entre outras. Em suas vidas e trabalhos, os jovens deverão saber gerenciar seu tempo, ser curiosos, criativos, resilientes e inteligentes emocionalmente. Eles terão de respeitar e apreciar a diversidade de ideias, valores e perspectivas. Precisarão saber lidar com o fracasso e a rejeição para conseguir avançar na adversidade.

4. O ofício dos professores é complexo e fundamental para os avanços civilizatórios de qualquer sociedade. Os professores não serão substituídos por inteligência artificial ou automação. Uma pesquisa da OCDE mostrou que o salário do professor brasileiro de ensino médio é o pior do mundo, e que a média salarial brasileira é 13% inferior à média da América Latina. É impossível ter equidade em resultados e um sistema inteiro de escolas que oferecem educação de excelência se os profissionais não forem muito bons.

Nenhuma tecnologia ou inteligência artificial será capaz de substituir a potência de uma relação de confiança e motivação entre um professor e seu aluno. A solução é investir em seleção, formação e no reconhecimento (de todos os tipos) dos profissionais da educação.

5. Foco no pensamento computacional, na solução de problemas e STEM ajuda a preparar os jovens para grandes desafios. Em todo o mundo, 92% dos empregos futuros precisarão de habilidades digitais e 45% dos empregos exigirão trabalhadores que possam programar e trabalhar com sistemas digitais. Ciências, tecnologia, engenharia e matemática estão se tornando ainda mais importantes. Habilidades digitais não são extras. Elas já são vistas como um direito essencial para todos os alunos.

6. Novas tecnologias, novas pedagogias, mais protagonismo dos estudantes, familiares e comunidade estão modificando completamente a rotina das escolas. No Japão, 91,2% dos alunos do ensino médio dizem que são ensinados a memorizar conteúdo, enquanto apenas 16,6% relatam que suas aulas demandam pesquisas independentes, relatórios e apresentações.

Nas políticas educacionais mais avançadas, as novas tecnologias são implementadas ao lado de pedagogias ativas, como aprendizagem baseada em projetos.

Alunos, famílias e toda a comunidade escolar participam de decisões importantes na escola e a relação entre profissionais, familiares e estudantes se torna mais direta, próxima e horizontal. Há uma mudança importante da cultura da autoridade, da cobrança e do controle para a cultura do apoio, da confiança e da colaboração. Isso não significa que organização e disciplina deixem de ser fundamentais.

Ainda estamos distantes de uma realidade em que nossas escolas, nossos sistemas educacionais e nossas comunidades escolares se aproximam de seu pleno potencial no Brasil. A qualidade de nossas escolas e a equidade dos resultados precisa avançar muito e mais rapidamente. É essencial refletir sobre estas lições e construir um esforço articulado, olhando para as melhores práticas, para as evidências científicas, e para as macrotendências globais. Precisamos fazer com que nossas escolas e sistemas educacionais se tornem mais inclusivos, democráticos, e humanizados. É nossa responsabilidade oferecer, a todos, uma educação de excelência, que os prepare para liderar transformações positivas em um mundo mais complexo e imprevisível. Encaremos esta responsabilidade.

 

 

Sobre o autor:

Rafael Parente é CEO da BEĪ Educação, PhD em educação pela Universidade de Nova York (NYU), cofundador do Movimento Agora!, presidente do conselho do CEIPE, sócio-efetivo do Movimento Todos pela Educação e conselheiro do Mapa Educação. Fundou e dirigiu a Edufuturo e o LABi. Foi secretário de estado de Educação do Distrito Federal e subsecretário de inovação no município do Rio de Janeiro. Com sua equipe, criou e implementou projetos inovadores como o Educação na Veia, a Conecturma, a Educopédia, e a escola GENTE, na Rocinha

 

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