A Educação pode ser Presencial, EaD, Remota ou Híbrida, mas o que importa é que seja “sem distância”
-
“Como assim, uma educação remota pode ser ‘sem distância’?” você pode ter se perguntado.
-
“Pode, sim. E deve!” eu respondo.
Ou, talvez, você pode ter exclamado:
-
“Obviamente as aulas fisicamente presenciais são ‘sem distância’!”.
-
Bem, nem sempre.
A confusão aqui ocorre porque quando falo em “distância” na educação, não estou me referindo à distância física. Na verdade, a simples proximidade física pode fazer bem pouco pela educação, se não houver uma metodologia, fundamentada em princípios pedagógicos, a sustentar o processo de ensino-aprendizagem. O interessante é que, com uma metodologia adequada, a proximidade física pode nem ser essencial.
-
Mas você não disse, já no título, que “educação sem distância” é essencial?
-
Sim, disse. E continuo a dizer.
A proximidade é muito importante, mas não a física. O que deve ser eliminado, numa atividade pedagógica, chama-se “distância transacional” (DT), um conceito proposto por Michael Moore. Essa “distância” não é medida em metros. Nem mesmo é possível mensurá-la com precisão. Trata-se de uma percepção de “distanciamento”, um estado psicológico por parte do(a) estudante. É a DT que explica porque é possível haver situações em que um(a) aprendiz pode se sentir distante do(a) professor(a), de colegas e/ou do conteúdo sendo trabalhado, mesmo estando fisicamente presente numa sala de aula. Da mesma forma, é a eliminação da DT que explica aqueles momentos em que você se engaja num chat, num telefonema ou numa videochamada e até se esquece que está interagindo com pessoas fisicamente distantes, parecendo que estão todos sentados a uma mesa.
-
E como a DT pode ser reduzida?
-
De várias formas. E nenhuma tem relação com estar fisicamente próximo.
Michael Moore, no artigo seminal em que propõe o conceito de DT (leia-o aqui), apresenta três fatores que impactam a percepção de distanciamento em atividades educacionais:
-
Diálogo: quanto mais interatividade, menor será a DT
-
Estrutura: quanto mais flexibilidade do programa educacional, menor será a DT
-
Autonomia: quanto mais liberdade de decisão tiver o(a) aluno(a), menos será a DT
Outro aspecto mal compreendido diz respeito ao conceito de “presença”. Na retomada à realização das aulas nos espaços físicos das escolas, todos falam em “retorno ao presencial”. O correto seria dizer “retorno ao FISICAMENTE presencial”, uma vez que podemos ter atividades, com a presença de todos os participantes, realizadas de forma online. Não se deveria chamar tais atividades de “não presenciais”. O mais interessante é que, mesmo estando sob o mesmo teto, durante muito tempo ainda, alunos, professores e funcionários necessitarão permanecer em “distanciamento físico”. E, certamente não mais deixarão de utilizar recursos e ambientes online, mesmo quando em atividades “fisicamente presenciais”.
Portanto, qualquer que seja a situação, física ou virtualmente presencial, EaD, remota ou híbrida, as atividades educacionais precisarão ser, cada vez mais, “sem distância”. Sem "distância transacional”, bem entendido. E para reduzirmos distância transacional precisamos de metodologia e tecnologia. Para atividades remotas a tecnologia é obrigatória, mas será cada vez mais comum em espaços físicos de aprendizagem também. Em comum, visando aproximar o aluno aos colegas, aos professores e aos conteúdos, as metodologias devem incorporar muita interatividade. Interatividade é a chave para redução de distâncias em educação. “Interatividade”, aliás, é outra incompreendida. Alguns acreditam que seja a mesma coisa que “interação”. Outros propõem que “interação” é entre pessoas e “interatividade” entre pessoas e máquinas.
-
“Como assim? Afinal ‘Interatividade’ é ou não é diferente de 'interação'?"
-
É tão diferente quanto “radiatividade” é de “radiação”.
Mas isso é assunto para o meu próximo texto. Até lá.
Saiba mais sobre o autor:
Romero Tori é membro do Conselho da Bett Educar, Professor Associado 3 da Escola Politécnica da USP, autor do livro “Educação sem Distância” e mantém o blog de mesmo que o livro.
Gostou do conteúdo? Compartilhe em seus canais digitais: