A juventude em risco
Acompanho com grande preocupação o que vem se passando com quase sete meses de escolas fechadas em tempos de automação acelerada- inclusive pela COVID- e advento da Inteligência Artificial, o que poderá significar perda de postos de trabalho e demanda por competências mais sofisticadas para os novos postos criados.
Se olharmos os dados do módulo de Educação da PNAD contínua, publicado em julho pelo IBGE, há no mundo pré-COVID, alguns motivos de comemoração. Na Educação Básica, a taxa de escolarização segundo grupos de idade evidencia um avanço contínuo desde 2016, desde a creche (0 a 3 anos), com 35,6% das crianças matriculadas, até a faixa de 15 a 17 anos, com 89,2% desses jovens na escola. De fato, avançamos no acesso aos bancos escolares.
Há que se lembrar, porém, que os jovens de 15 a 17 anos deveriam estar todos na escola, já que essa, desde 2016, esta passou a ser idade de escolaridade obrigatória e ainda temos um grupo grande de adolescentes desta faixa fora das aulas.
Para piorar, muitos dos estudantes desta idade são mais velhos do que o esperado para sua série letiva, o que faz com que parte deles esteja no ensino fundamental e não no ensino médio, que seria o correto. Este atraso tem, infelizmente, contribuído para um aumento do abandono escolar, quase sempre após uma ou duas reprovações.
A parcela de brasileiros de 25 anos ou mais com ensino médio completo cresceu no Brasil. Mas mais da metade dos adultos nesta faixa não concluiu essa etapa de escolaridade. É importante lembrar que, em tempos da chamada revolução 4.0, em que a automação acelerada e a Inteligência Artificial substituem trabalho humano, inclusive aquele que demanda competências intelectuais, ter cursado menos do que o ensino médio significa baixíssima empregabilidade ou capacidade empreendedora.
Por isso é tão importante fazer a busca ativa dos alunos que mostram sinais de que podem não continuar seus estudos. No contexto da pandemia que vivemos, isso pode ser evidenciado pela não participação em atividades de aprendizagem remota ou por perda de renda das famílias.
Afinal, em outro levantamento realizado pelo Conselho Nacional de Juventude, dos cerca de 33.000 jovens ouvidos, 28% disseram não pretender retornar às aulas. Se estas declarações se confirmarem, teremos um país ainda mais excludente, menos desenvolvido e completamente despreparado para o século em que vivemos. E se o afastamento da escola causado pela pandemia prosseguir, sem perspectivas de retorno, certamente essa será uma profecia autorrealizável!
Saiba mais sobre a autora:
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Claudia Costin
Fundadora e Diretora, CEIPE/FGV-RJ
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