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09 mar 2022

A retomada das aulas com a ômicron, o que de fato aconteceu no mercado?

Autor Convidada: Fernando Barão
A retomada das aulas com a ômicron, o que de fato aconteceu no mercado?


 

A imprensa tem noticiado bastante nos últimos dias as estatísticas educacionais sobre à perda de alunos nas escolas particulares por conta da pandemia. Jornalistas, em geral, adoram uma boa manchete. Não foi diferente dessa vez:

 

“Em dois anos de pandemia,

colégios privados perderam quase um milhão de alunos”.   O Globo de 03/03/2022  

 

Com um número desses, um milhão de alunos, não há dúvidas de que a manchete ficou bem apetitosa.

Mas é preciso entender melhor as estatísticas que envolvem esse texto para não cair em julgamentos errados e, portanto, acabar tomando decisões erradas.

Sim, a pandemia foi terrível para as escolas particulares. E sim, ela foi particularmente dolorosa para os cursos de Educação Infantil – conforme apontado na mesma notícia.

Contudo, é fundamental entender que essas análises se basearam no Censo Educacional de 2021, recém-divulgado. Isso significa que essa chamativa perda de alunos se deu na comparação do início do ano letivo de 2020 – portanto, antes da pandemia – com o início do ano letivo de 2021 – numa fase aguda de crescimento da segunda onda a mais letal de todas, ocasião em que as medidas restritivas estavam sendo retomadas e se estenderam também às escolas particulares. O ano de 2021 começou com alta participação de ensino remoto.

A comparação entre esses dois momentos – início de 2020 e de 2021 -,  não poderia resultar em outra observação, que não a severa perda de alunos no sistema educacional privado com foco na Educação Infantil.

Essa conclusão, aliás, já tinha sido antecipada aos clientes da Corus em março de 2021, quando da divulgação do resultado de nossa Pesquisa Anual de Alunos. Na época, apontamos queda de 4,5% no número total de alunos das escolas particulares, mas com destaque amplo para a Educação Infantil, curso em que a queda foi de 23% - mesmo índice divulgado agora pela imprensa.

Mas muita coisa importante aconteceu desde então. Para começo de conversa, as aulas presenciais passaram a ser a regra, e não a exceção, a partir de agosto de 2021. Esse evento fez toda a diferença na evolução da demanda pelo ensino privado. De junho a setembro do ano passado as escolas viram crescer seu número de alunos em 2,4% - portanto, cerca de metade do que haviam perdido com a pandemia. A Educação Infantil corrobora essa visão: recuperou 13% dos 23% que havia perdido. Isso tudo ainda no segundo semestre do ano passado. Disso a imprensa não sabe ainda, e possivelmente nem vai saber, pois o MEC não faz Censo no meio do ano.

Para 2022 a recuperação continua. As escolas estão muito mais fortalecidas, perante a sociedade, no que se refere ao discurso que destaca a importância do ensino presencial. Somente no decorrer de março desse ano teremos os dados precisos de nossa Pesquisa, ocasião em que nossos clientes saberão em detalhes como caminhou o mercado. Mas já é possível antecipar algumas visões que temos obtido a partir do contato contínuo com as escolas que atendemos.

Os cursos de Fundamental e Médio já voltaram à posição pré-pandemia, no que se refere a número de alunos. Vale destacar aqui que as bolsas subiram bastante no período e estão sendo reduzidas gradativamente pelas escolas – mas ainda estão longe do patamar anterior à crise.

A Educação Infantil segue merecendo uma análise à parte. A percepção geral é de que a recuperação continua acontecendo. Mas é fato que o curso ainda está aquém de onde estava em março de 2020. Nesse sentido, a grande maioria das escolas se decepcionou com o número de matrículas de crianças pequenas. A recuperação imaginada pelo mercado era mais intensa.

Como se trata de uma percepção do mercado como um todo, e não individual de uma ou outra escola, é possível traçar a seguinte conclusão: há ainda muitos alunos, em especial das faixas etárias até 3 anos de idade, que estão em casa. Esses alunos não estão na escola concorrente, eles simplesmente não estão em escola alguma.

O motivo para essa realidade é a Ômicron. Até poucas semanas atrás o número de casos estava subindo quase verticalmente. O de mortes, ainda que com uma velocidade menor, também subia. Isso já mudou, e bastante – aliás, conforme previsto pela Corus em artigo publicado em janeiro desse ano. O número de casos está caindo com a mesma velocidade com que subiu. O de mortes está em queda consistente. A prosseguir dessa forma, e desde que não apareça nenhuma nova variante – a grande variável que está fora do nosso controle -, em cerca de um mês o clima da sociedade com relação ao assunto “pandemia” estará radicalmente diferente do que vimos até hoje. Esse é um processo que já está em curso. Medidas certamente serão flexibilizadas. Já se fala, inclusive, no fim da obrigatoriedade das máscaras dentro das escolas.

A expectativa, portanto, é que no curto prazo os alunos de Educação Infantil que estão em casa venham de forma consistente para o ambiente escolar. Com isso, é bem possível que as escolas acabem alcançando, ainda que de forma mais demorada, o número de alunos que projetaram neste curso para 2022. Vale investir, assim, na divulgação de vagas nessas salas.

Vale citar também que o fenômeno da quebra de expectativas por conta da Ômicron não ficou circunscrito ao número de alunos na Educação Infantil. Outro setor duramente atingido até agora foram as atividades extras, incluindo o período integral. Aqui a situação é mais grave: a distância entre o planejado e o real, pelo menos até agora, está muito grande. A demanda por aluno matriculado está bem menor do que em 2019, antes da pandemia. Aqui existe um espaço enorme para as escolas caminharem a partir de agora. Este deve ser, sem dúvida, um dos focos da ação estratégica das escolas durante esse primeiro semestre.

 

Saiba mais sobre o autor:

Formado em Economia pela Faculdade de Economia e Administração da USP e MBA-USP em Economia de Empresas, Barão foi diretor do Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo) e dirigiu escolas particulares por nove anos. Faz parte do Conselho de várias instituições de ensino. Atua como consultor de empresas desde 1994.

 

 

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