Acabou a pandemia. O que há de diferente no horizonte?
Apesar de alguns recrudescimentos circunstanciais e de pequena monta em certas regiões do país (e também em outros países), já é quase certo que a pandemia, tal qual nós convivemos com ela nos últimos dois anos, acabou. O alto índice de vacinação que o Brasil conquistou, bem como sua capilaridade, nos concederam uma proteção adicional bem relevante contra novas cepas e contra novas ondas. O Brasil, provavelmente, aprendeu a conviver com o vírus em ambiente de normalidade – e essa convivência deve durar por muito tempo ainda, senão para sempre.
As escolas passaram por várias fases no decorrer da pandemia, sendo que cada uma delas exigiu uma atuação diferenciada. Depois de tantos altos e baixos, agora é o momento de ter um olhar estrutural para a situação e avaliar: o que mudou? De que maneira a constatação dessas mudanças deve mudar a ação estratégica de cada escola?
O mercado sofreu variações bem expressivas, se compararmos a situação atual com a de março de 2020. Listamos, abaixo, as alterações mais importantes.
- Muitas escolas de Educação Infantil fecharam. Mais importante ainda: muitas viram suas finanças se deteriorar de tal forma que ainda acabarão fechando por conta disso. Essa notícia interessa principalmente às escolas que não têm somente a Educação Infantil, pois a tendência é que a demanda por elas aumente. Esse efeito ainda não foi sentido porque nem todas as famílias retornaram com seus filhos pequenos para as escolas. Quando isso acontecer – e acreditamos que seja em breve -, as escolas deverão sentir o efeito do fechamento das que não puderam resistir à pandemia. Do ponto de vista de estratégia, escolas que tenham concorrentes próximos que sejam só de Educação Infantil e que tenham mensalidades similares podem, agora, procurá-las oferecendo uma parceria na aquisição da carteira de alunos.
- Aumentou o volume de transações de compra e venda de escolas. Essa era uma tendência que já vinha se consolidando nos anos anteriores à pandemia. Isso representa um risco e uma oportunidade para as escolas. Risco por conta da entrada de concorrentes mais capitalizados e mais profissionalizados. Oportunidade porque pode surgir, a qualquer momento, o interesse pela aquisição de suas cotas por parte de um grupo que possa pagar pelo efetivo valor da empresa. Mas atenção: a intensidade desse movimento nem de perto deve se assemelhar ao que aconteceu anteriormente com o Ensino Superior. Há características fundamentais que são diferentes entre o Ensino Básico e o Superior, sendo que essas características tendem a dificultar uma consolidação agressiva no Ensino Básico. Escolas continuarão a ser vendidas, mas o espaço para as empresas familiares com diferencial claro continuará existindo e sendo bastante relevante. Para isso, porém, também as empresas familiares precisarão profissionalizar sua gestão.
- As bolsas e descontos concedidos aumentaram bastante. O percentual médio chegou a aumentar em 6 pontos percentuais até começar a recuar – mas esse recuo, até o momento, está bem lento. As escolas recuperaram apenas 2 desses pontos. Há um universo imenso ainda a ser recuperado – o que só poderá ser feito através de muita negociação com os pais de alunos. Muita atenção: a iniciativa para reabertura dessas negociações deverá ser da escola, não dos pais. Já está mais do que na hora de as escolas terem uma ação bastante proativa nesse quesito.
- As receitas com atividades extras estão mais baixas do que anteriormente. Aqui há dois motivos: a) menos alunos na Educação Infantil, curso em que a adesão costuma ser muito grande; b) reestruturação das famílias, de modo que o contraturno deixou, por ora, de ser interessante para elas. Nos primeiros meses de aula de 2022 essas atividades vêm se recuperando, apesar de ainda estarem longe de como estavam antes da pandemia. Os dois fatores destacados acima tendem a perder força com a volta ao normal da vida das famílias. Cabe às escolas, agora, divulgar como nunca aos seus próprios alunos as atividades no contraturno. Existe uma demanda latente a ser explorada.
- O endividamento aumentou. Muitas escolas usaram essa estratégia como forma de proteger seu fluxo de caixa durante a pandemia. Estratégia corretíssima, diga-se de passagem. Agora chegou o momento de usar o lucro corrente para ir quitando essa fatura. Muitas escolas, que já regularizaram seus fluxos, até poderiam quitar à vista alguns ou mesmo todos os empréstimos contraídos. Cabe aqui uma atenção especial: boa parte desses empréstimos foi tomada quando a Selic estava em 2% ao ano. Agora ela passou dos 11%. Então, nesses casos, não vale tirar recursos da aplicação financeira para quitar empréstimos. O rendimento das aplicações é, em muitos casos, superior ao desconto por conta da antecipação do pagamento.
- O número de alunos da Educação Infantil está menor. Eles estão voltando aos poucos, mas ainda tem muito espaço a ser ocupado até que se volte à demanda que havia antes da pandemia. Existem, portanto, muitos alunos a serem disputados. É o momento de as escolas divulgarem de forma mais agressiva suas qualidades e seus diferenciais nesse curso. Muita gente deixou para matricular seu filho pequeno em agosto. O prêmio, portanto, é grande e estará esperando para ser entregue a quem se comunicar melhor com o mercado.