Área de educação pública é destaque na 29ª edição da Bett Brasil
Em sua 29ª edição, a Bett Brasil contou com uma área exclusiva para educação pública, na qual gestores públicos e profissionais do setor apresentaram o que está sendo feito em estados e municípios para melhorar o acesso de estudantes ao ensino público, além de ferramentas que favorecem o aprendizado e a inclusão.
Foram apresentadas propostas que utilizam tecnologia, incluindo inteligência artificial, tanto na educação básica quanto no ensino médio e profissionalizante. Também foram debatidos temas cruciais para educadores e gestores públicos, como combate às fake news, educação socioemocional, futuros sustentáveis, aprendizagem por meio do afeto e formação profissional, entre outros.
A iniciativa teve ainda uma área de área de exposição de projetos desenvolvidos por entidades e organizações não governamentais e lounge para troca de experiências entre gestores públicos. O auditório contou com o apoio da Digix.
Um dos projetos apresentados foi o do estado do Paraná, que ensina computação a mais de 530 mil estudantes. Para Roni Miranda, secretário de educação do estado, o auditório dedicado à educação pública foi uma iniciativa muito positiva. “Hoje, a grande maioria de estudantes é da rede pública e é crucial compartilhar o que acontece na área. As secretarias estaduais e municipais também estão se inserindo nesse processo de modernização”.
Em outro painel foi discutido como Recursos Educacionais Digitais (REDs) e formação impulsionam a inovação no ensino público, com base no case de Minas Gerais. A implementação do projeto na rede estadual de ensino foi um avanço significativo para a educação, com benefícios e possibilidades inovadoras. Entre eles, a ferramenta de inteligência artificial, que se tornou uma aliada nos estudos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Segundo o secretário de educação de Minas Gerais, Igor de Alvarenga, com 853 municípios, 3.400 escolas e 1.4 milhão de estudantes, Minas representa um pouco de cada pedaço do país, com características e necessidades distintas.
“O nosso desafio era como comunicar em uma rede de ensino tão grande e diversa. Começamos com a renovação do parque tecnológico, para tornar as escolas conectadas. Depois desenvolvemos o MAPA-MG, com as habilidades necessárias, que inclui o currículo de referência do estado, formações pedagógicas, materiais de implementação, planos de aula do professor e avaliação de aprendizagem. O objetivo é oferecer no estado uma educação pública de qualidade e excelência”, afirmou Alvarenga.
Alfabetização para todos
Garantir alfabetização para todos também foi tema do painel apresentado por Claudia Costin, presidente do Instituto Singularidades, e Renan Sargiani, presidente do Instituto de Educação Baseada em Evidências (Edube), sob a mediação do jornalista e colunista de educação Antônio Gois.
Ambos os palestrantes apresentaram estudos e soluções para promover educação inclusiva, equitativa e de qualidade. Ao final, Costin ressaltou a importância do diálogo. “Tivemos um debate muito rico sobre alfabetização com base em evidências científicas. Eu procurei dar um contexto geral da transformação da educação e da situação nossa em alfabetização e dos desafios que temos desde a educação infantil”.
Ecossistema de inovação
Construir um ecossistema de inovação foi outro tema que reuniu três diferentes regiões. Foram apresentados os cases do estado do Mato Grosso, pela secretária adjunta de gestão educacional, Nadine Moreira da Silva, da cidade de Joinville, pelo secretário municipal de educação, Diego Calegari, e da cidade de São José dos Campos, pelo prefeito Anderson Farias. As visões de três áreas distintas demonstraram que há maturidade para avanços no ensino público.
“Inovação não pode ser um amontado de improvisos. É preciso ter um planejamento estratégico para a criação de um ecossistema educacional de inovação. Também é preciso ter humildade para não reinventar a roda, pois a inovação se faz sobre bases e projetos que já foram semeados e consolidados por outras pessoas anteriormente”, enfatizou Calegari.
Foi consenso que a valorização e a participação dos professores são fundamentais para obter êxito em um ecossistema de inovação. Segundo o prefeito de São José dos Campos, Anderson Farias, o maior investimento a ser feito é em gente. “Não adianta tecnologia sem gente, e não se vai mudar o amanhã se não se investir em educação hoje. É preciso ter em mente que educação não é despesa, é investimento”, salientou.
Educação profissionalizante
O tema foi destaque com as experiências dos estados de São Paulo e do Paraná, que demonstraram ser possível aumentar a oferta de ensino profissionalizante na educação pública.
Segundo Daiane Fraile, coordenadora da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, em 2024, 32% dos estudantes de ensino médio no estado optaram pelo ensino profissionalizante. Em algumas regiões, esse percentual chegou a 41%.
O modelo implantado no Paraná é o “escola-estúdio”, no qual o professor em estúdio interage em tempo real com os alunos em sala de aula, nas diversas cidades do estado.
Daniel Barros, diretor de educação profissional da Secretaria da Educação do estado de São Paulo, apresentou o programa Novotec, modelo de ensino técnico integrado ao ensino médio, realizado pelo governo do estado em parceria com entidades, como o Centro Paula Souza, escolas privadas e outras instituições.
No final de 2023 eram 35 mil estudantes nos cursos técnicos de 774 escolas do estado. Em 2024, após um ano de operação do novo modelo, esse número saltou para 77 mil, um aumento de 117%, abrangendo 1.401 mil escolas. Isso representa um aumento de mais de 81% nas escolas da rede pública que ofertam os cursos profissionalizantes.
O mais importante, destaca Barros, é que esses alunos não passaram por processos seletivos rigorosos para fazer o técnico, mas deram a “sorte” de receber esse itinerário na escola que já frequentavam.
“Ou seja, o programa está levando o ensino técnico para quem de fato mais precisa. E isso vai impactar a empregabilidade deles, mas já está impactando o nível de compromisso, engajamento e aprendizado”, concluiu.
Combate ao ódio e à desinformação
Outro tema debatido no auditório foi o combate aos discursos de ódio em sala de aula. A partir de estudo realizado pelo Porvir -- plataforma de conteúdo em educação --, discutiu-se como se pode enfrentar o crescente ambiente de ódio e extremismo, presentes no dia a dia escolar.
O levantamento mostra que existe uma relação direta entre extremismo e desinformação. Alunos e comunidade escolar são bombardeados por desinformação no ambiente online. Os algoritmos referendam as preferências de suas atividades online, e passam a enviar mais e mais conteúdos que não submetem pessoas ao contraditório.
Esse ambiente contribui para o crescimento de ódio e de ataques nas escolas. Estes fenômenos, antes observados em outros países, tiveram crescimento exponencial no Brasil nos últimos anos.
“Desenvolver respeito às diversidades e letramento midiático é um dos focos dos projetos que desenvolvemos para que os alunos se sintam acolhidos”, comentou Margareth Alves, professora do Distrito Federal.
Já Ronney Santos, professor da rede pública estadual de Sergipe e coordenador do Observa! Observatório de Fake News, destacou os principais tipos de desinformação, baseados em estudo da universidade Harvard. “Criei um perfil fake e acabei indo para dentro de bolhas nas quais os algoritmos trazem cada vez mais desinformações, se utilizando de discursos que focam na fragilidade das emoções das pessoas para captar adeptos. A partir da experiência, desenvolvemos estratégias de como combatê-las”, completou Santos.
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