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09 out 2020

As redes sociais impõem enormes desafios para a nossa sociedade: o que a escola pode e deve fazer a respeito?

Autora Convidada: Betina von Staa
As redes sociais impõem enormes desafios para a nossa sociedade: o que a escola pode e deve fazer a respeito?


 

Com o advento das redes sociais, desenvolvemos muito rapidamente novas formas de consumir e compartilhar conteúdos, produtos e serviços. Elas promoveram novos comportamentos, novas formas de interagir, novas expectativas perante o outro e a si mesmo. Sabe-se que elas promovem mais superficialidade, e que geram novos perigos emocionais, aumentam a incidência de depressão entre jovens e criam vício em aplicativos. Isso sem contar que suas estratégias de influência têm enfraquecido as democracias em vários lugares do mundo.

Já se sabe disso há algum tempo, mas o filme da Netflix, “O Dilema das Redes”, apresenta essas questões de forma bastante didática, com base em depoimentos de quem as criou e conhece bem o seu impacto sobre a sociedade.

Fato é que diante de um fenômeno tão relevante e tão onipresente, a escola precisa exercer um papel educador para gerar consciência sobre o que acontece no mundo e até para orientar os alunos sobre formas mais saudáveis de usar as redes sociais.

Mesmo que se parta do princípio de que menores de alguma faixa etária não podem acessar determinadas redes sociais, que se defenda que os alunos só fazem uso legítimo ou ilegítimo delas fora da escola, que se proíba celular no recreio e nas aulas, a sua existência, e o uso que seus alunos e seus amigos e familiares fazem ou farão delas, faz parte do que acontece na sua comunidade escolar. Além disso, todos os alunos de uma escola entrarão em alguma rede social algum dia. Sendo assim, os alunos precisam aprender na escola quais são as suas funções, os seus perigos, como usá-las com propriedade e algum nível de segurança e ética.

Hoje em dia, para se poder afirmar que se está desenvolvendo pensamento crítico perante a mídia, as redes sociais e seu funcionamento precisam ser levadas em consideração. Caso contrário, os alunos não sairão da escola formados para lidar com o mundo atual. Não é possível escapar das redes: É ali que encontramos amigos, familiares, contatos profissionais, informações atualizadas, e, simplesmente, passa-tempo para aquele momentos insuportáveis de tédio.

O que, afinal, é preciso aprender na escola?

Os alunos precisam saber que celular e redes sociais viciam e afastam as pessoas de quem está próximo. Devem desenvolver a consciência dos momentos adequados e inadequados para deixar o celular ligado e acessível. Afinal, ele vai atrair a atenção durante todo o tempo que estiver acessível e distrair de outros assuntos. Talvez eles concluam que ter o celular por perto quando o professor dá uma explicação, quando estão conversando com amigos, quando estão almoçando ou jantando em família e quando estão concentrados resolvendo problemas não é uma boa ideia.

É preciso mostrar aos alunos que as redes sociais enviam informações de amigos e conhecidos e de robôs e propagandas diferentes para cada pessoa, e que seu único motivo para tanto é atrair a sua atenção. Elas têm algoritmos (robôs, inteligência artificial) para controlar isso. O que atrair a sua atenção vai chegar a você. Eles devem estar sempre alerta para o que as redes sociais estão lhes enviando, pois isso diz muito a respeito deles: propaganda de maquiagem, de universidade, de remédio, de bebida, de famosos, de esporte? Essas informações são relevantes, enriquecem ou geram desejos, frustrações? Será que são verdadeiras? Será que fazem bem? Vale a pena dedicar tempo a elas? O que o algoritmo está “pensando” de você?!

Os alunos também precisam saber que as redes sociais exploram os seus lados mais vulneráveis: inveja, tristeza, tédio, medo, rancor. Os robôs das redes sociais identificam as imagens que mais te atraem: se você está preocupado com padrões de beleza inatingíveis vai ficar olhando para imagens de padrões de beleza inatingíveis e ficar recebendo mais imagens desse tipo, até que a inveja se torna depressão e você não sabe mais o que fazer a não ser ver imagens com padrão de beleza inatingíveis. Se você está com raiva, vai receber mensagens que reforçam a sua raiva (de torcedores de outro time, de candidatos a eleições, de política em geral), até você se tornar uma pessoa tão rancorosa que comete qualquer desatino em momentos estranhos (inclusive na sala de aula), e assim por diante. Os alunos precisam conhecer esses mecanismos e aprender a desconfiar quando estão se sentindo muito tristes, muito irritados e sem conseguir largar o celular. Isso ocorre quando já passou da hora de desabilitar as notificações, desinstalar alguns aplicativos ou desligar o celular por algum tempo.

Também vale a pena mostrar que o excesso de informação também tira a nossa atenção e promove interpretações mais superficiais sobre o que lemos. Os alunos devem ser incentivados a buscar informação variada ao invés de se contentar com o que recebem, e devem manter a prática de ir lendo textos cada vez mais longos, mesmo que digitais.

Além de tudo isso, devem aprender a reconhecer fake news (que sempre apelam para as emoções), saber que não devem divulgá-las jamais. Devem aprender regras de comportamento das redes e preservar – o quanto for possível – a sua privacidade e a dos seus conhecidos.

Outro tema importante para desenvolver nas escolas é mostrar que, assim como nenhuma mídia é neutra, os algoritmos de inteligência artificial também não são – e são muito mais poderosos -, e seus criadores devem ser responsabilizados pelos seus efeitos.  Assim, podem começar a entender, na escola e na faculdade, que podem e devem cobrar leis de uso não-danoso da tecnologia na sociedade, e os programadores também podem e devem perceber que seu trabalho envolve, acima de tudo, ética.

Formar os alunos para lidar com esse mundo não é simples, mas é essencial. Esse trabalho pode ser feito em aulas convencionais, com atividades práticas, ligadas a qualquer tema de estudo, ou pode ser realizado em aulas semanais dedicadas ao letramento digital. As escolas que implantam projetos consistentes de letramento digital podem ter certeza de que estão contribuindo para a saúde física e mental dos seus alunos, para uma sociedade mais justa e democrática. Isso certamente vale cada minuto dedicado ao assunto!

 

 

Referências:

AZULAY, Stella; CHAVES, Petria; KOTSCHO, Mariana; VON STAA, Betina. DEBATE : 'O Dilema das Redes”. Stella Azulay, 30 de setembro de 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VAW44jESk3g Acessado em 5 de outubro de 2020.

PETTY, Bethany. Create: Illuminate Student Voice Through student Choice. Dave Burguess Consulting, San Diego, 2020.

PETTY, Bethany. Illuminate: Technology Enhanced Learning. Dave Burguess Consulting, San Diego, 2018.

SHEIBE, Cyndy e ROGOW, Faith. The teacher´s Guide to Media Literacy. Corwin, Thousand Oaks, 2012.

SOFFEL, Jenny. What are the 21st-century skills every student needs? Fórum Econômico Mundial. Disponível em: https://www.weforum.org/agenda/2016/03/21st-century-skills-future-jobs-students/ Acessado em: 5 de outubro de 2020

 

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