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Bett Brasil aponta os caminhos para melhorar os cuidados com a saúde mental dos adolescentes

Redação Bett Blog
Bett Brasil aponta os caminhos para melhorar os cuidados com a saúde mental dos adolescentes

O crescente aumento no número de ataques violentos às escolas vem preocupando pais, alunos, educadores e gestores. De setembro de 2022 a abril de 2023, ao menos cinco escolas sofreram com algum tipo de violência no Brasil. Durante a Bett Brasil 2023, maior evento de educação e tecnologia da América Latina, especialistas discutiram as relações entre os casos e, mais do que nunca, enalteceram a importância do diálogo, da escuta e da saúde mental dentro dos espaços de ensino. O evento segue até a próxima sexta-feira (12), no Transamerica Expo Center. 

Em um painel dedicado ao tema, a professora da Faculdade de Educação da Unicamp, Telma Vinha, apresentou as principais características e motivações dos agressores para cometerem tais atos. “O foco principal, ainda que não exclusivamente, é a escola. E isso pode acontecer em qualquer unidade de ensino. De alguma forma, a escola é o palco de algum episódio de sofrimento do estudante que comete esses atos”, explica. 

De acordo com a especialista, o perfil dos praticantes desse tipo de violência é formado majoritariamente por pessoas do sexo masculino, jovens (de 10 a 25 anos), brancos, com valores opressores e gosto pela violência. Esses agressores, geralmente, também estão ligados a alguma comunidade de ódio na internet. “Essas pessoas buscam pertencimento, então, como não possuem esse protagonismo em outros ambientes, acabam entrando em grupos extremistas que funcionam de forma online. Nestas comunidades eles são valorizados e ouvidos, o que os faz cometer tais crimes por notoriedade”, afirma Telma. A painelista alerta ainda que esse protagonismo na internet não acontece mais apenas na deep web: está também nas plataformas e redes sociais comuns e tradicionalmente usadas pelos jovens. 

Telma Vinha

De acordo com dados apresentados durante a palestra, o primeiro ataque à escola no Brasil foi registrado em 2002, na Bahia. Nos últimos 21 anos, foram identificados 22 ataques cometidos por estudantes e ex-estudantes que resultaram em 35 vítimas fatais. Ainda segundo o estudo, a maior parte desses ataques aconteceu em escolas públicas (10 estaduais, 9 municipais e 4 particulares) localizadas em regiões com baixo índice de vulnerabilidade, ou seja, fora das periferias. O espaçamento entre os crimes também preocupa, uma vez que estão se tornando cada vez mais frequentes. 

Para mudar essa realidade, a docente aponta como prioridade a escuta e o acolhimento, especialmente nas escolas. “Política pública não deve se resumir à segurança e à vigilância, isso não muda valores. Esse é um problema sociológico e cultural, do qual precisamos tratar com acompanhamento, mediação e dar a esses jovens o seu lugar de pertencimento. A escola pode ser promotora do bem-estar”, destaca. 

Para Juliana Hampshire, psicanalista e painelista, esse cuidado deve se estender também aos professores, que se encontram, muitas vezes, sobrecarregados em tarefas e em emoções. “A escola precisa de mais tempo, especialmente para o desenvolvimento dos professores. É preciso mais tempo para ouvir, para entender, para se relacionar. A rapidez com a qual as coisas acontecem hoje não permite uma escuta ativa e dificulta a comunicação, especialmente com a juventude. É preciso trabalhar isso”. 

Educação e democracia na diversidade

Para falar mais sobre a diversidade, o Congresso Bett Brasil trouxe, nesta quarta-feira (10), João Marcelo Borges, gerente de Pesquisa e Inovação do Instituto Unibanco e Michael França, pesquisador do Insper. 

França falou sobre uma nova composição demográfica da sociedade brasileira que está passando despercebida pela classe mais alta. Isso está acontecendo, em parte, pelas diferenças nas taxas de fecundidade entre as mulheres de acordo com a sua posição  socioeconômica. “Mulheres mais pobres costumam ter mais filhos do que as de classes econômicas mais altas, que, geralmente, têm apenas um filho”. Ele explica que, com o passar do tempo, algumas “elites” passam a deixar de existir, enquanto jovens de origens menos favorecidas estão ganhando mais protagonismo no debate público. 

Michael França

O pesquisador do Insper também abordou a preocupação com a educação dos mais ricos, que não estão acostumados a dividir espaços na Educação Básica com os mais pobres. “Para diminuir a segregação atual entre ricos e pobres, o contato desde cedo com a diversidade é essencial para construir essa nova sociedade. Um exemplo para atingir esse objetivo é a ideia de criar subsídios em todas as escolas privadas com cotas para alunos de baixa renda. É preciso causar essa disrupção na Educação", disse França.   

Já Borges comentou sobre a contribuição real de pessoas diversas no mercado de trabalho. Ele explicou que nos últimos 25 anos a percepção que ambientes mais diversos trazem melhores resultados modificou o direcionamento de empresas e organizações sociais que passaram a contratar profissionais pensando na diversidade. “Há também um aumento expressivo da pressão social para a inclusão no mercado de trabalho. Quanto mais pressões acumuladas pior será para as empresas que não se adaptarem à realidade atual”, disse o gerente de Pesquisa e Inovação do Instituto Unibanco. 

Palestras inspiradoras

A rodada de palestras inspiradoras seguiu neste segundo dia de Bett Brasil 2023. Uma das atrações do painel Movimento Led com a jornalista Eliane Scardovelli Rene Silva, jornalista e criador do Voz das Comunidades, um jornal dedicado às favelas e comunidades do Rio de Janeiro. Rene iniciou o projeto aos 11 anos, em uma escola pública do bairro de Higienópolis, próximo da comunidade onde vive até hoje, no Morro do Adeus.

Rene Silva

A publicação cumpre um papel social importante, pois é elaborada a partir da ótica de quem vive e conhece a comunidade e tem como principais objetivos combater estereótipos e informar a população de forma clara e segura. Rene destaca que, durante a pandemia da Covid-19, o Voz das Comunidades atuou diretamente na educação e conscientização social. “Fomos procurados pelo consulado americano durante a pandemia para trabalharmos no combate às fake news relacionadas à Covid, que eram muitas e afetavam em cheio as pessoas das comunidades. Assim, nasceu o aplicativo do Vozes que, junto com outras ações, colaborou diretamente na saúde e bem-estar da população”, explica. 

Rene está hoje na lista dos 30 jovens mais influentes do Brasil com menos de 30 anos, segundo a Forbes. É considerado também um dos jovens negros mais influentes do mundo.

A diretora da NeuroConecte, Adriana Fóz, também apresentou uma das palestras inspiradoras abordando como é essencial a mobilização de pais, alunos e a escola para a recuperação da saúde mental dos jovens. Ela destacou números que são preocupantes, como os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) que mostram que 10 a 20% dos jovens sofrem de problemas de saúde mental e outros estudos mostram que 50% dos transtornos mentais são manifestados quando o jovem está com 14 anos, ou seja, em idade escolar na Educação Básica. 

Adriana Foz

“Mobilizar e vincular é preciso”, diz Adriana. A neuropsicóloga explica que, ao mobilizar pais, professores e outros atores educacionais, é possível criar mais vínculos com as situações. Outro ponto levantado foi a necessidade da criação de novos protocolos de percepção e identificação de um possível problema com todos os envolvidos atentos e atuando juntos na intervenção. 

Entre as palestras inspiradoras, o público da Bett Brasil também teve a oportunidade de acompanhar as apresentações de Augusto Cury, psiquiatra, escritor e idealizador da Escola da Inteligência, com a palestra “Gestão da emoção para o mercado de trabalho: como se tornar um profissional emocionalmente mais saudável”; Martha Gabriel, uma das pensadoras digitais mais influentes do Brasil e premiada palestrante internacional, que apresentou a palestra “Inteligência Artificial: impactos na educação”; Luciano Pires, criador do podcast podcast “Café Com Leite”, que apresentou “A formula da inovação”; e Felipe Anghinoni, professor e fundador da Perestroika, que abordou a “A docência como expressão criativa”.

Augusto Cury Martha Gabriel

A Bett Brasil acontece até sexta-feira (12) no Transamerica Expo Center, em São Paulo. Os interessados em visitar a feira podem se credenciar de forma gratuita diretamente no evento.

 

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