Com recorde de público, 29ª edição da Bett Brasil aponta tendências para educação pública e privada no país
Com número recorde de mais de 40 mil visitantes, a 29ª edição da Bett Brasil reuniu professores, estudantes, mercado e governo e trouxe nomes de peso da educação pública e privada de todo o país para debater inovação e tecnologia em prol do ensino básico, superior e profissional.
Com o tema central “Inovação com propósito: educação em diálogo com as transformações sociais”, a Bett articulou debates relevantes do setor, promoveu conexões entre o ecossistema educacional e apresentou tendências educacionais durante os dias 23 a 26 de abril, no Expo Center Norte, em São Paulo.
Secretários de educação de estados e municípios, representantes de governos, gestores e professores de escolas públicas e privadas, empresas desenvolvedoras de soluções tecnológicas e instituições da sociedade civil e do terceiro setor se juntaram para compartilhar conhecimento e aproximar pessoas, ideias e projetos.
Para inspirar e discutir o futuro da educação e o papel da tecnologia e da inovação na formação de educadores e alunos, o evento organizou auditórios temáticos, divididos entre o Congresso de Educação Básica, Fórum de Gestores, Fórum Ahead, dedicado à educação superior e profissional, plenária unindo Ahead e Fórum de Gestores, auditório de Educação Pública e Arena Startups.
A programação incluiu ainda workshops e palestras inspiradoras com personalidades, como Augusto Cury, Milton Jung, Rossandro Klinjey, Adriana Fóz, Tabata Amaral, Alicia Pizarro Dominguez, Léo Chaves, Carmen Marta Lazo, Les Foltos, Alexandre Coimbra, Carol Campos, Wimer Bottura e Kaká Werá, entre outros.
Inteligência artificial como ferramenta de ensino, personalização da aprendizagem, educação inclusiva, competências socioemocionais, neurociência, edutainment (educação com entretenimento) e valorização da saúde mental foram algumas das tendências em educação que pautaram edição 2024 da Bett Brasil.
"Esta foi a maior edição de toda a história da Bett Brasil. Superamos os 40 mil visitantes durante os quatro dias de evento. No que se refere ao conteúdo, a oferta de painéis e palestras contou com a participação de mais de 450 palestrantes e, na parte da exposição, mais de 300 marcas expositoras estiveram presentes, representando todo o ecossistema educacional”, afirmou Claudia Valério, diretora-geral da Bett Brasil, que acrescentou: “A Bett Brasil consolidou-se como um interlocutor do diálogo entre as demandas dos gestores, professores, estudantes e dos desenvolvedores de soluções e tecnologias. Todos, juntos, com o mesmo propósito de viabilizar a evolução da educação.”
A diretora de conteúdo da Bett Brasil, Adriana Martinelli, ressaltou a diversidade da programação apresentada durante o evento. “Temos um conteúdo muito voltado para a realidade atual da educação, que é direcionar o olhar para as transformações sociais. E com isso, conseguimos trazer a diversidade para os palcos da Bett Brasil, incluindo palestrantes internacionais, o que ajuda a compreender de forma globalizada os desafios da educação”, frisou.
Adriana também destacou as novidades que marcaram essa edição. “Uma novidade foi a participação dos estudantes com uma programação especial para que eles tivessem voz ativa no evento. Outro ponto marcante foi a ampliação da presença da educação pública. 80% da realidade da educação básica no país é pública, portanto, é muito importante abrir um espaço de diálogo para os gestores públicos com painéis específicos sobre políticas públicas e o compartilhamento de cases interessantes de projetos que estão espalhados pelo Brasil”, comentou a diretora de conteúdo da Bett Brasil.
O auditório dedicado à educação pública despertou enorme interesse, lotando em praticamente todas as palestras. Nele, foram apresentadas diversas iniciativas de estados e municípios na inovação do ensino, seja pelo uso da tecnologia, seja na ampliação de oferta de cursos profissionalizantes.
Humanização e tecnologia
Foram muitos os temas abordados. Em uma das rodas de conversa, o professor Francisco Freitas, autor do projeto RAP (Ressocialização, Autonomia e Protagonismo), uma iniciativa que usa o hip hop como base para o estímulo à aprendizagem, reforçou que inovação não é apenas tecnologia, mas também é buscar novas formas de ensinar. “A abordagem também deve ser inovadora. Temos o desafio de entender e estimular o jovem ao aprendizado de múltiplas formas”.
Já a especialista em Educação da Microsoft para América Latina, Vera Cabral, falou sobre como a tecnologia é uma ferramenta para ajudar a inovar e democratizar a educação.
“A tecnologia não faz a educação, quem faz a educação são os educadores e os estudantes. A tecnologia tem recursos que magnificam significativamente todo esse movimento de inovação que falamos. E, particularmente, agora que a gente tem esse desenvolvimento da inteligência artificial generativa, é um momento muito importante para refletir sobre como essas tecnologias podem democratizar e transformar a educação além de torná-la muito mais equitativa e fazer uma educação que inclua todos”, disse.
Saúde mental: preocupação é maior entre os jovens
As competências socioemocionais não apenas moldam o desenvolvimento humano, mas também desempenham um papel fundamental na saúde mental. Especialistas afirmam que o diagnóstico precoce na infância e o acolhimento dentro do ambiente escolar podem contribuir significativamente para a saúde mental do indivíduo ao longo da vida.
Segundo Renata Ishida, gerente pedagógica do LIV (Laboratório Inteligência de Vida) e uma das palestrantes da Bett Brasil, após a pandemia, a sensação nas escolas é de que os desafios emocionais são ainda maiores, com crianças e jovens mais inquietos e com diversas dificuldades socioemocionais. A psicóloga alertou sobre dados alarmantes: de acordo com o Ministério da Saúde, o número de crianças que usam algum tipo de psicotrópico aumentou 775% nos últimos 10 anos.
A psicóloga destacou que “é preciso oferecer caminhos e ferramentas para que as pessoas enfrentem seus desafios de vida, e a escola é fundamental nesse sentido. É necessário estruturar estratégias e práticas de cuidados na rede escolar, e tornar isso um exercício cotidiano de acolhimento”, explicou Renata.
Outra palestrante da Bett, a psiquiatra e professora da Santa Casa de São Paulo, Maria Carolina Pinheiro, comoveu a plateia de gestores e educadores, que afinal vivem a realidade desafiadora de lidar com traumas e transtornos em crianças e adolescentes nas escolas. “Quanto mais estudo, mais certeza eu tenho que doenças psiquiátricas são doenças pediátricas. É melhor construir crianças inteiras do que adultos quebrados”, declarou.
Segundo a educadora, 12% dos jovens do mundo possuem ao menos um tipo de transtorno psicológico, e a cura está na transformação dos jovens e no convite à construção da saúde. “Saúde e doença não são opostos. Se adoecemos, é porque estamos recebendo um convite para revermos nossa relação com o mundo. Não devemos sofrer em vão, é necessário discutir e, principalmente, ouvir”, enfatizou Maria Carolina.
Projeto Juventude Bett
Os estudantes também foram protagonistas na Bett deste ano. Por meio do projeto “Juventude Bett – Agentes Transformadores”, parceria entre Bett Brasil, Instituto Criar e CESAR School, estudantes do ensino médio de escolas públicas e privadas puderam explorar tendências e inovações educacionais durante os quatro dias de evento.
Ao fim, eles participaram do painel “A voz dos estudantes na Bett Brasil: qual educação queremos?”, onde apresentaram as produções audiovisuais que produziram sobre o futuro da educação com base no que presenciaram durante a Bett Brasil. Subiram ao palco nove alunos que, divididos em três grupos, representaram os 24 estudantes das escolas convidadas.
“Nossos grupos foram divididos respeitando a pluralidade de culturas e de realidades, e é isso que dá a graça e o toque especial nesse projeto. Tivemos pessoas de escolas públicas, de escolas técnicas e de escolas particulares. Esta preocupação de valorizar o estudante é muito importante porque, afinal, uma feira e congresso desse tamanho reverberam nos estudantes”, disse o estudante Daniel.
Helena, outra aluna participante, disse que ver outras vidas e histórias foi o que mais a impactou. “Conviver com pessoas de realidades diferentes e conhecer novas realidades é o que levo de mais importante nestes dias. Consegui conversar com pessoas diferentes, com distintas visões, defendendo um propósito em comum”, contou.
Estudo OCDE
A Bett Brasil foi palco do anúncio oficial dos resultados inéditos do estudo “Social and Emotional Skills for Better Lives (Competências socioemocionais para uma vida melhor, em tradução livre)”. O levantamento foi conduzido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em colaboração com o Instituto Ayrton Senna.
É a primeira vez que o Brasil participa como campo de implementação principal na coleta global de dados sobre o assunto, junto com outros 16 países e organizações, incluindo Colômbia, Chile, Itália, Japão, Finlândia e Bulgária. No Brasil, o estudo foi conduzido na cidade de Sobral, no Ceará, em 2023, com mais de 4.500 estudantes de 10 e 15 anos, professores, diretores escolares e pais/responsáveis.
O levantamento representa uma das primeiras pesquisas internacionais em larga escala sobre competências socioemocionais no mundo, abrangendo dados de milhares de estudantes de 10 e 15 anos. Foram avaliadas 15 competências socioemocionais e sua importância na vida dos estudantes.
A pesquisa evidencia disparidades no desenvolvimento das competências socioemocionais entre estudantes de 10 e 15 anos. Uma hipótese sugerida pela gerente de projetos do eduLab21, laboratório de ciências para a educação do Instituto Ayrton Senna, Karen Teixeira, é que os estudantes de 10 anos, especialmente aqueles no ensino fundamental 1, desfrutam de uma relação mais próxima com um único professor, o que pode facilitar o progresso socioemocional.
Outras questões abordadas no relatório foram notas e frequência escolar. Os estudantes de Sobral têm menos faltas em comparação com a média dos países participantes, embora relatem chegar atrasados à escola com maior frequência.
Karen destaca a importância de observar essa tendência: "A incidência de faltas e atrasos é crucial, pois pode ser um indicador de possível abandono escolar e afetar o desempenho dos alunos. Competências como determinação, persistência e responsabilidade contribuem para a redução das taxas de faltas e atrasos. Além disso, competências como otimismo e entusiasmo estão associadas a indicadores de saúde e bem-estar”, completou.
Prêmio Educador Transformador
A Bett Brasil foi palco da grande final da 2ª edição do Prêmio Educador Transformador, promovido em conjunto pelo Instituto Significare, Bett Brasil e Sebrae, em reconhecimento de projetos de educação transformadora desenvolvidos por professores de todo o país.
O prêmio marca a importância da valorização dos educadores no processo de inovação na educação. Dos 35 finalistas provenientes de todas as regiões do Brasil, saíram os vencedores da etapa nacional nas sete categorias:
Educação Infantil: Profa. Flaviana Machado, de Silvânia (GO), com o projeto “Meu Corpo é Tesouro!”.
Ensino Fundamental - Anos Iniciais: Profa. Luana Alves, de Teresópolis (RJ), venceu com o projeto “Empreendedores da Terra”.
Ensino Fundamental - Anos Finais: Prof. Francisco Freitas, de Brasília (DF), com o projeto “RAP (Ressocialização, Autonomia e Protagonismo)”.
Ensino Médio: Profa. Daniele Bassanesi, de Naviraí (MS), venceu com o projeto “Tony Bank: ferramenta de educação financeira aliada à construção de competências e valores socioemocionais”.
Educação Profissional: Profa. Leila Ribeiro, de Macapá (AP), com o projeto “Mulheres de Fibra”.
Educação de Jovens e Adultos – EJA: Prof. João Luiz Ferreira, de Feira de Santana (BA), com o projeto “Pretitude em Foco”.
Educação Superior: Prof. Fabricio Piurcosky, de Campo Mourão (PR), com o Projeto “Integrow - Ecossistema de Inovação do Integrado”.
Soluções e inovações para educação
Mais de 300 marcas apresentaram lançamentos e inovações em soluções, produtos e serviços voltados para o ecossistema educacional público e privado.
“Estar na Bett Brasil foi uma oportunidade extraordinária para o isaac. Esse foi o nosso terceiro ano consecutivo no evento e estivemos lá não só para apresentar nossas soluções inovadoras, mas para celebrar e consolidar as parcerias que têm sido cruciais para o nosso crescimento e sucesso", afirmou a diretora-geral do isaac, Paula Jorge.
O diretor da Quero Educação, Marcelo Lima, também comentou sobre a participação da empresa no evento. ”Apresentamos as soluções da Quero Bolsa para captação de alunos no Ensino Superior, do Melhor Escola para captação de alunos do Ensino Básico e da Quero Tutor, nossa solução de inteligência artificial para instituições de ensino superior e educação básica. Tivemos a oportunidade de estar muito próximos de um público qualificado para apresentar o impacto positivo que geramos nos resultados das instituições de ensino”, afirmou Lima.
“Participar da Bett Brasil por mais um ano foi uma experiência enriquecedora para nós da Systemic. Estamos orgulhosos de ter lançado o Fluency Flow, o mais completo teste de fluência oral em inglês do mundo que utiliza inteligência artificial. Além disso, ter um auditório voltado para o setor público e apresentar ao vivo os resultados bem-sucedidos de nossos alunos em escolas públicas foi uma oportunidade única para demonstrar o impacto positivo de nossas soluções”, destacou a CEO do Systemic Bilingual, Vanessa Tenório.
Por fim, o diretor-geral da FTD Educação, Ricardo Tavares, valorizou a qualificação rdo público presente. "Além de crescer em tamanho e número de expositores, o evento se aprofundou em temas fundamentais, como a educação pública e a necessidade de transformar o Brasil em um país de alunos bilíngues, sem deixar de lado a atenção ao desenvolvimento socioemocional”, completou Tavares.
A próxima edição da Bett Brasil já tem data marcada: de 28 de abril a 1º de maio de 2025, no Expo Center Norte, em São Paulo.
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