Em entrevista exclusiva para o Bett Blog, a psicóloga, terapeuta somática e comunicadora, Ediane Ribeiro, trouxe reflexões sobre a importância de integrar temas como regulação emocional, análise crítica de conteúdos digitais e comportamento responsável nas redes sociais à educação, além da necessidade de capacitação dos professores para lidar com esses desafios.

Especialista em trauma e regulação emocional, ela também aborda na entrevista os impactos do FOMO ("Fear of Missing Out") na saúde mental dos estudantes, o risco de esgotamento digital entre docentes e como o ambiente escolar pode equilibrar a conexão online com a construção de vínculos presenciais mais significativos. Leia, abaixo, a entrevista completa:

Bett Blog: No ambiente escolar, como os educadores podem promover o uso mais consciente, equilibrado e positivo da tecnologia, em especial com relação às redes sociais? Quais são as principais habilidades que precisam ser desenvolvidas entre alunos para essa relação mais saudável?

Ediane Ribeiro: Incentivar o uso mais consciente das redes, principalmente por adolescentes e crianças, é um desafio da atualidade que precisa de uma combinação de fatores dentro e fora da escola. A responsabilidade é de todas as esferas da sociedade e vai além das medidas restritivas como a proibição do celular em sala, que tem importância nesse momento, mas sozinha não é suficiente. Já que as redes fazem parte da vida das crianças e jovens, alguns temas precisam entrar na grade curricular das escolas e os educadores também precisam receber capacitação sobre eles para que se tornem sustentadores e multiplicadores de abordagens como:

• Análise crítica de conteúdo digital: para discutir com os alunos a identificação e o compartilhamento de fake news.
• Respeito e responsabilidade online: abordando o comportamento nas redes sociais.
• Regulação emocional, autoestima e autopercepção: para que as crianças e jovens compreendam as emoções e sentimentos ativados pelo uso frequente das redes, aprendam a lidar com o abismo entre real e virtual e reconheçam os padrões distorcidos que o mundo digital pode promover, incluindo o vício em tecnologia.
• Promoção de atividades colaborativas: a escola precisa ser um espaço de debate, discussões em grupo e rodas de conversa, reduzindo a transmissão unilateral de conhecimento.

Vale ressaltar que tudo isso precisa ser pautado pelo exemplo. Não adianta oferecer conteúdos e estímulos sobre o uso consciente da tecnologia se os adultos significativos à volta dos jovens mantêm um uso descontrolado ou uma vida real empobrecida em relação à vida virtual.

Ediane Ribeiro será uma das palestrantes da 30ª edição da Bett Brasil

Bett Blog: Neste contexto, o conceito de FOMO ("Fear of Missing Out") tem se tornado cada vez mais relevante. Quais são os sinais de que um estudante está sofrendo com esse medo de 'ficar de fora' e como isso pode afetar seu desempenho acadêmico e bem-estar emocional?

Ediane Ribeiro: FOMO é uma sigla criada para designar um tipo de ansiedade relacionada à percepção de que outras pessoas estão vivendo experiências melhores ou mais interessantes. As redes sociais amplificam essa ansiedade ao promoverem uma comparação e competição em larga escala, com realidades editadas para parecerem perfeitas.

Os sinais podem ser emocionais e comportamentais, incluindo:

• Preocupação constante em checar redes sociais para saber o que os outros estão fazendo;
• Angústia ao imaginar que está perdendo algo, como eventos ou séries populares;
• Comparação e insatisfação com a própria vida, levando à distorção da autoimagem e queda da autoestima;
• Sentimentos frequentes de solidão ou frustração, mesmo na presença de outras pessoas;
• Distúrbios do sono e alterações no padrão alimentar devido ao aumento da ansiedade;
• Dificuldade de concentração, o que impacta o aprendizado e o desempenho acadêmico.

Bett Blog: Muitos professores relatam sentir pressão para manter uma presença digital ativa e engajar alunos por meio da tecnologia, o que pode gerar um esgotamento mental. Como evitar a sobrecarga digital e estabelecer limites saudáveis?

Ediane Ribeiro: As instituições de ensino precisam passar por uma revisão profunda de metodologias, grade curricular e estrutura pedagógica. Os professores não devem ser cobrados a inserir tecnologia como um adereço, mas sim fazer parte de uma reestruturação que compreenda a tecnologia como uma realidade inevitável.

Enquanto isso, é essencial encontrar equilíbrio entre o uso de tecnologia e estratégias colaborativas, evitando a sobrecarga dos docentes. A escola precisa se tornar um espaço de aprendizagem coletiva, promovendo debates e discussões em grupo. Caso contrário, os professores podem acabar reforçando comportamentos que vão contra o próprio propósito de educar para um uso mais consciente da tecnologia.

Bett Blog: Considerando que vivemos em uma realidade digital sem volta, como podemos aproveitar a conexão online para a construção de comunidades de apoio e trocas de experiências, sem esquecer de manter vínculos presenciais mais significativos?

Ediane Ribeiro: A conexão online permite que pessoas de diferentes contextos se unam em torno de ideias e aprendizados comuns. Esse espaço pode ser usado tanto para o bem quanto para a disseminação de preconceitos e violências. Por isso, quem atua na educação não pode se afastar desse cenário.

Uma forma positiva de aproveitar essa realidade digital é promover comunidades de aprendizagem coletiva, como clubes de leitura e grupos de interesse para suporte mútuo. Essas iniciativas são fundamentais tanto para os educadores quanto para os alunos, fortalecendo laços significativos no ambiente escolar.

Ediane Ribeiro estará presente no Congresso de Educação Básica, durante a 30ª edição da Bett Brasil, com a palestra “Autopercepção, autoestima e regulação emocional na era digital: desafios e caminhos para educadores”, no dia 30 de abril, às 17h. Em sua apresentação, ela abordará os impactos da era digital para os profissionais da educação e refletirá sobre estratégias para lidar com essa nova realidade de forma saudável e equilibrada. Para participar do Congresso de Educação Básica, inscreva-se aqui. 

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