Como o uso de dados pode aproximar nossas escolas da inovação?
E se você, professor(a), pudesse acessar um programa que coleta dados em tempo real de todos os seus alunos(as)? Já imaginou poder identificar quais deles estão com maior dificuldade em certa disciplina e, a partir daí, definir estratégias pedagógicas que possam ajudar a aprender com maior facilidade? E se esses mesmos dados mostrassem quantos estudantes estão realmente engajados na sua aula e quais estão prestes a dormir? E se pudesse fazer uma pesquisa para decidir democraticamente qual conteúdo deve ser trabalhado na próxima aula?
Se acha que este é o cenário de uma escola do futuro, saiba que, na verdade, é uma realidade já do presente e com perspectiva de forte expansão. Muitas instituições vêm avançando nos últimos anos na tendência de usar big data para analisar e cruzar dados para mapear o aprendizado dos estudantes e, a partir daí, desenhar estratégias pedagógicas capazes de atender as particularidades de cada um, implementando o chamado ‘personalized learning’ (aprendizado personalizado).
Segundo estudo da MarketWatch, até 2024 a indústria de softwares de adaptive learning alcançará faturamento global de US$ 586,7 milhões contra US$ 362,9 milhões em 2019. Assim como já se consolidaram como o principal combustível de novos negócios em transformação em várias indústrias, os dados também vêm se tornando cada vez mais essenciais na construção de uma nova educação alicerçada pelos algoritmos.
Anote aí: fazer uma gestão eficaz dos processos de aprendizagem já é, e continuará sendo, indispensável para uma pedagogia focada no desenvolvimento das competências essenciais ao cidadão do Século XXI e que, provavelmente, viverá a 5ª revolução industrial.
Temos disponíveis uma grande gama de softwares que professores e gestores escolares podem utilizar para cruzar uma infinidade de dados comportamentais e relacionados com a capacidade de aprendizagem dos alunos. Ao entender os perfis socioeconômico e socioemocional dos estudantes, bem como seus superpoderes, os docentes conseguirão efetivamente respeitar a individualidade de seus alunos.
É como se cada aprendiz tivesse uma escola pra chamar de sua. Mais ainda, torna-se possível identificar quais são os motivadores que estão elevando as taxas de evasão e tomar decisões baseadas em dados para reverter esse quadro.
Mas incorporar a extração, cruzamento e análise de dados para praticar uma educação personalizada requer um primeiro e indispensável passo: preparar o docente, que precisa saber acessar e utilizar sistemas de big data, ler e interpretar gráficos, definir o que quer descobrir e quais perguntas tem que fazer.
O Índice APEI-50 - Avaliação das Práticas Educacionais Inovadoras(1), metodologia desenvolvida pelo Instituto Crescer para analisar o grau de inovação das escolas brasileiras, mostra que estamos pavimentando este caminho, mas ainda há uma longa jornada pela frente para usufruirmos mais dos big datas e das oportunidades de personalização do ensino que eles nos trazem.
O resultado do iAPEI-50 de 2,24, em uma escala de 0 a 4, para o indicador relacionado à extração de dados de sistemas online para avaliar resultados de aprendizagem, mostra que esse aspecto ainda é um grande desafio para os educadores respondentes.
Já o indicador que analisa o uso das tecnologias digitais para personalizar a prática de ensino e criar atividades diversas de forma a atender os diferentes estilos e necessidades de aprendizagem apresentado pelos alunos alcançou um iAPEI-50 de 2,47, o que não é muito diferente.
Mesmo em países onde a educação já incorpora inovação em suas estratégias pedagógicas, como nos Estados Unidos, o aprendizado personalizado ainda dá seus primeiros passos. Uma pesquisa feita com 600 professores americanos pelo Education Week Research Center indicou que apenas 4% usam sempre softwares de aprendizagem adaptativa para que os estudantes possam aprender no seu próprio ritmo.
Dados transformam alunos em protagonistas
Este cenário ainda nebuloso do desenvolvimento das competências digitais precisa mudar. Com a digitalização e a organização do conhecimento em bancos de dados, as escolas poderão romper com os modelos tradicionais de ensino para colocar os alunos como os protagonistas da construção de seu próprio futuro.
A aplicação do conceito de big data na educação permitirá caminharmos para um ensino adaptativo, personalizado para cada aluno, capaz de envolver, engajar, entender o que e como tem mais facilidade para aprender, quais são suas dificuldades e os próximos conteúdos a serem estudados para uma evolução de acordo com as necessidades e particularidades de cada um.
Atuando como mentores, os professores passarão a inspirar e orientar qual a melhor jornada a seguir nas estradas do conhecimento, acompanharão que textos o aluno leu, que vídeos assistiu, quais tarefas teve mais facilidade e quais precisa rever. E poderão testar qual metodologia de ensino alcança maior engajamento e traz os melhores resultados em função das habilidades de cada estudante.
Com a adoção da tecnologia de cruzamento de dados estruturados em conteúdos multimídia, os estudantes não mais assistirão às mesmas aulas, ministradas ao mesmo tempo e com a mesma pedagogia por um professor postado em um pedestal imune a qualquer interação com os pupilos. Esta é a escola do presente de olho no futuro: a escola que entende e respeita o ritmo de aprendizagem de cada indivíduo.
E você? Está pronto para transformar sua escola com o uso do Big Data?
(1) O iAPEI-50 (índice APEI-50) detalha o quadro da educação brasileira com 50 indicadores que permitem avaliar o quanto os professores(as) vêm inovando nas práticas pedagógicas, além de identificar pontos de melhoria no uso de tecnologias educacionais. Ele considera valores que variam entre 0 e 4, e que correspondem às categorias Emergente, Básico, Intermediário e Avançado, em uma escala crescente de adoção tecnológica pelos docentes. Fica aqui o convite para que você leia o relatório com alguns insights do primeiro ano desta avaliação. Vale lembrar que a avaliação APEI50 é online e gratuita, e deve ser respondida pelos professores(as) que estão em sala de aula, como uma ação de autorreflexão sobre a sua prática.
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