Covid-19: como garantir a volta segura às aulas
Embora especialistas em Educação comumente divirjam em diversos pontos, há um consenso neste momento: as instituições de ensino pós-pandemia não serão mais as mesmas de antes. Se já havia um entendimento de que a escola do século 21 precisa ser aquela que prepara para a vida e, portanto, requer uma formação integral do ser humano, focada não somente em competências formais, mas também em habilidades socioemocionais, com o retorno às atividades presenciais após o afastamento social forçado em virtude da pandemia do novo coronavírus, educadores ressaltam a importância de não retornar ao que era antes.
Para ajudar a construir um “novo normal” nas escolas, todas as cartilhas, orientações e protocolos pedagógicos, sanitários e de biossegurança elaborados por entidades públicas, como o Conselho Nacional de Educação (CNE), Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), sem fins lucrativos, como o Todos pela Educação, e ligados à iniciativa privada e o Laboratório Inteligência de Vida (LIV), do Grupo Eleva, objetivam restaurar a saúde emocional de alunos, professores, gestores, pais e funcionários das instituições por meio do acolhimento.
"O processo de volta às aulas presenciais será um grande desafio para toda a comunidade escolar. Compreendemos que para esse retorno será necessário um fortalecimento da comunidade escolar, que sofreu um grande impacto, e acreditamos que o melhor caminho para isso será através do trabalho socioemocional", disse o consultor pedagógico do LIV, Raul Spitz.
E, para além de todo o apoio emocional e das questões de biossegurança, também preocupam as estratégias que envolvem essa retomada presencial. Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (CEIP-FGV) e ex-secretária de Educação do Município do Rio de Janeiro, tem acompanhado as informações sobre protocolos de retomada das aulas presenciais definidos por vários países.
A ex-secretária de Educação ressalta as vantagens de os mais velhos voltarem primeiro e do rodízio, para aumentar o distanciamento nas salas de aula e no recreio. "Da mesma maneira que os médicos da linha de frente não estavam preparados, educadores tampouco estavam. Mas planejar cuidadosamente o retorno, isso dá tempo de fazer", disse a especialista e educadora, que também é membro do Conselho Global da Bett.
Exemplos que vêm de fora
Dois dos maiores exemplos mundiais de controle rápido da pandemia, Finlândia e Portugal montaram planos impecáveis de desconfinamento para seus setores educacionais. Distanciamento social, higiene e muita logística foram as principais medidas na retomada das atividades escolares presenciais. O retorno gradual aconteceu apenas quando os números de contágio se mostraram controlados, tanto no caso de Portugal quanto da Finlândia.
No segundo Encontro Online da Bett Educar, nos dias 23 e 24 de junho, o chefe de operações da Finland University na América Latina, Jarkko Wickström, e a subdiretora-geral do ministério da Educação de Portugal, Maria João Horta, compartilharam com os participantes a experiência de seus respectivos países. Em ambos, o retorno presencial às aulas aconteceu em maio, poucos antes do encerramento do ano letivo europeu. Com uma nova parada para as férias de verão no continente, as atividades presenciais nas escolas dos dois países serão retomadas nas primeiras semanas de setembro.
Em Portugal, o retorno iniciou pelo ensino secundário, com alunos na faixa de 15 a 18 anos, e o pré-escolar, com crianças de 3 a 6 anos, logo após a Páscoa. "Todas as medidas de segurança foram tomadas, desde estratégia de entrada nas escolas, ocupação de salas por grupos pequenos, em rodízio, e muita preocupação com higiene, especialmente com os menores, do Jardim de Infância, que retornaram para permitir aos pais voltarem ao trabalho", disse Maria João Horta.
Já na Finlândia, a Educação Infantil manteve as aulas presenciais durante o lockdown, enquanto o segundo ciclo entrou em homeschooling. "O próximo ano letivo, no fim de agosto, já terá retorno normal às escolas, respeitando as regras de segurança já estabelecidas", revelou Wickström, frisando que o trabalho de cooperação de professores, apoiados mais no processo de aprendizagem e não tanto em ferramentas tecnológicas, foi o aspecto mais importante para que toda a estratégia educacional no país desse certo durante a crise sanitária mundial.
Todos os especialistas concordam que a volta às aulas presenciais precisa ser feita com segurança para todos: alunos, professores, gestores e colaboradores.
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