Currículo de tecnologias digitais não é contemplado em 37% das escolas municipais, mostra pesquisa
O cenário de ensino de tecnologias digitais nas escolas municipais do Brasil é desafiador e está distante de refletir o que é previsto pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Esta é a conclusão evidenciada pela pesquisa “Tecnologias Digitais nas escolas municipais do Brasil: cenário e recomendações”, lançada nesta quarta-feira (10) com exclusividade para Bett Brasil, maior encontro de Educação e Tecnologia da América Latina.
O levantamento revelou que 37% das redes municipais não contemplam o ensino de Tecnologia e Computação no currículo da Educação Infantil e, no Ensino Fundamental, nos anos finais e iniciais, o índice ficou em 21% e 17%, respectivamente. O estudo foi desenvolvido em parceria pelo Centro de Inovação para Educação Brasileira (CIEB), Fundação Telefônica Vivo, União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e, com apoio técnico do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede). A pesquisa foi realizada em 1.065 redes municipais de ensino, nas cinco regiões do país.
“Temos que incentivar o compartilhamento de expertise e experiências entre os municípios das capitais com as cidades menores. A pesquisa apontou um gap entre as redes de ensino localizadas em capitais e aquelas que estão situadas em municípios menores. Acredito que essa pesquisa será uma norteadora nacional para colocar em evidência esse tema e auxiliar na implementação do ensino de tecnologias digitais nas escolas, alinhadas à BNCC”, explica o presidente da Undime Luiz Miguel Garcia.
Em relação aos orçamentos e estruturas de apoio das secretarias de Educação para o uso de tecnologias digitais nas unidades de ensino, a pesquisa apontou que 73% das redes municipais não possuem uma área e/ou equipe específica dedicada ao planejamento e à implementação de tecnologias digitais nas escolas.
A diretora-executiva do CIEB, Julia Sant’Anna, comentou que a pesquisa deve alavancar o processo de continuidade de transformação das políticas públicas na área de Educação. Ela também destacou a importância da proatividade dos secretários estaduais e municipais em estabelecer medidas como a busca de talentos dentro das próprias equipes e o planejamento de ações direcionadas com o mapeamento de todas as necessidades de cada escola ranqueadas por prioridades.
Para a diretora-presidente da Fundação Telefônica Vivo, Lia Glaz, um dos pontos de atenção da pesquisa é a formação de docentes habilitados para desenvolver essas competências digitais em sala de aula. O estudo mostra que 39% das redes municipais não possuem formação continuada para os docentes sobre essa temática. Entre as capitais, todas afirmaram existir esse tipo de oferta. “É fundamental que a temática do ensino de tecnologias digitais seja pensada para implementação desde o Ensino Infantil porque quem vai ficar para trás - se isso não acontecer - são aqueles com menos condições socioeconômicas”, disse. Outro ponto levantado por Glaz é sobre a formação de docentes que estão habilitados para desenvolver essas competências digitais em sala de aula.
Lançamento de um novo mapa do Minecraft
A Bett Brasil foi palco do lançamento de um novo mapa do Minecraft Educational, plataforma gamificada da Microsoft. “A Terra Não Minerável”, como o próprio nome sugere, torna impossível ao jogador fazer a mineração do solo, subvertendo, assim, a lógica do jogo. De acordo com a empresa, não importa o quanto o jogador tente, ele não conseguirá minerar o solo. Ao invés disso, ele poderá recriar a fauna e a flora da Amazônia no game, abrindo um espaço de aprendizagem em uma viagem pela floresta, formada pelos povos originários, seus rios, árvores, pássaros, fogueiras, entre outros elementos.
Todo projeto foi desenvolvido pelo consultor pedagógico Francisco Tupy, professor, geógrafo, especialista em mundos pedagógicos virtuais e primeiro #MieexpertFellow da América Latina. “Foi um desafio criar algo completamente novo, soluções a partir da linguagem do Minecraft, que é um processo de muito aprendizado e dinâmico. Essa é a primeira vez no mundo que no jogo não é possível minerar, se o estudante tentar cavar, ele não conseguirá formar um bloco. A proposta é que cumpra seu papel pedagógico e consciente sobre um assunto de extrema emergência para a humanindade", disse Tupy.
Fórum de Gestores
Na Bett Brasil 2023 acontece o Fórum de Gestores, um espaço direcionado para mantenedores e líderes de instituições de ensino privado da Educação Básica. Os painéis do Fórum são focados em temáticas de caráter estratégico na educação brasileira, como aspectos políticos, econômicos e financeiros, gestão de pessoas, finanças, formação continuada de docentes, digitalização das escolas, marketing, inovações tecnológicas, transformação digital das instituições e adaptação do ensino e da aprendizagem ao mundo de hoje e do futuro. Nesta quarta-feira (10), a importância da transformação digital para a gestão do ensino foi um dos temas apresentados por meio de dois cases.
Com uma transformação tecnológica que começou há 10 anos, o Colégio Bandeirantes trabalha hoje pela chamada eficiência digital. Com sistemas unificados e políticas bem estruturadas, a escola apostou na tecnologia integrada ao ambiente escolar desde cedo. “Vivemos todas as etapas dessa transformação digital, desde os primeiros smartphones até hoje, com o amplo uso de wifi, IoT e letramento digital. Lá atrás optamos por não proibir os celulares em sala de aula e sim de adaptar a conduta do educador para esse novo momento da tecnologia. Hoje vemos que acertamos”, comenta o diretor de Educação Tecnológica do Colégio Bandeirantes, Emerson Bento.
Bento conta que um dos grandes passos dados pela escola foi a unificação de todos os sistemas em um banco de dados único e com informações armazenadas em nuvem. A unidade também apostou em aplicativos exclusivos para pais e professores, que ajudam a monitorar e a melhorar a gestão escolar.
Já no Colégio Pentágono a novidade é a construção de AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) próprio. Desde 2016 a escola adotou o sistema Google e tem a sua gestão focada também no armazenamento em nuvem e no compartilhamento de documentos únicos. “A centralização de informações no Google Drive foi muito importante para a escola, bem como o compartilhamento de documentos. Antes tínhamos muitos problemas com versões de documentos que passavam por diversas pessoas e geravam inúmeros arquivos, o que foi facilmente resolvido com o uso do Drive”, explica o vice-diretor de Inovações Tecnológicas do Colégio Pentágono, Bruno Alvarez.
Alvarez citou também outras iniciativas que ajudam a melhorar a gestão administrativa da escola, como o uso de e-mails institucionais, institucionalização dos canais de comunicação para evitar contato via aplicativos de mensagem e o uso do Google Classroom.
Como alerta, o especialista colocou a necessidade de atenção ao número de plataformas que tendem a acumular-se ao longo do tempo. “Ainda sofremos de um excesso de plataformas, e esse é um ponto de atenção para os gestores. Estamos buscando trabalhar melhor isso, bem como o uso inteligente de dados, tirando o foco apenas da nota do aluno”, destaca.
Família e Escola: um relacionamento saudável
Uma das temáticas abordadas no Congresso Bett Brasil foi o desafio de cultivar relações saudáveis entre a escola e as famílias dos alunos. O gestor educacional da Faz Educação & Tecnologia, Tom Ferreira, a coordenadora Whole Child Development da Camino School, Renata Trefilio, e a fundadora da Juntos Educação Parental, Stella Azulay, debateram sobre a importância de incluir a família no cotidiano escolar de forma a criar um tripé colaborativo para o amadurecimento do aluno.
Para Renata, uma das razões para a dificuldade de pleno aprendizado e amadurecimento emocional dos alunos é o fato de a família não estar envolvida ou só ser incluída para momentos de dificuldade, seja de performance ou de comportamento do aluno.
“Na maior parte das vezes a família só é contatada para feedbacks negativos, circulares e reuniões periódicas. Se está tudo bem com o aluno, os pais não são acionados e ficam de fora do dia a dia da criança. É estratégico que os gestores tenham a família do aluno participante da experiência escolar do aluno, até para entendê-lo em diferentes contextos. A escola é um ecossistema que precisa trabalhar com clareza, processos e padronização na gestão de crises”, explica.
Stella lembrou que os gestores precisam conhecer melhor os pais dos alunos para definir como se comunicar com eles de forma mais assertiva. “Vamos lembrar que a comunicação tem sempre um objetivo que precisa estar claro para os gestores. Além disso, é fundamental manter a frequência nessa comunicação”, acrescentou.
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