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E se o professor conseguisse mapear o perfil de aprendizagem do aluno?

Prof. Dr. Daniel Brandão Menezes
E se o professor conseguisse mapear o perfil de aprendizagem do aluno?
A capacidade de aprendizagem pode ser estimulada por métodos que valorizem a individualidade de cada aluno e a personalização do ensino na prática docente

O início de tudo...

No ano de 2019, ao ingressar em uma imersão de três dias de um curso de análise de perfis psicológicos sob a perspectivas de algumas Teorias, nasceu um insight de criar uma robusta e embasada análise de perfil de aprendizagem. 

Neste período, havia acabado de terminar o doutorado e estava amadurecendo e ampliando minhas pesquisas na área da educação e, neste ano, iniciando o curso de bacharelado em Direito. Direcionei praticamente 80% dos meus estudos para pesquisas com as seguintes palavras-chave: perfis de aprendizagem, aprendizagem, inteligência e avaliação. 

Minha rotina acadêmica me levou ao pós-doutorado em Educação em meados do segundo semestre de 2019 e os aprofundamentos sobre a temática continuaram. Agora, com bolsistas de iniciação científica, orientandos de trabalho de conclusão de curso e, também, alguns pesquisadores que acreditaram na proposta.

Daí, com os estudos diários, algumas lacunas foram apontadas diante de um denso levantamento bibliográfico: a necessidade de um software que mensurasse qualitativamente um perfil de aprendizagem e que pudesse gerar um relatório dos perfis. Foram encontradas quatro Teorias que se direcionam para os propósitos dessa pesquisa: Modelo VARK, Estilos de Aprendizagem de Kolb, Estilos Cognitivos e Inteligências Múltiplas.

O plano estava traçado e a pesquisa bibliográfica já estava em andamento quando surgiu no final de 2020 a oportunidade de uma bolsa produtividade pela agência de fomento Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP). Nesse sentido, um grupo de pesquisadores coordenados pelo Prof. Dr. Daniel Brandão (UECE), financiados pela fundação, objetivou desenvolver um software (APA EIVE) foi contemplado com a proposta intitulada: Estudo do Perfil de Aprendizagem sob a perspectiva do modelo VARK, Estilos de Aprendizagem, Inteligências Múltiplas e Estilos Cognitivos.

Neste edital que concorri fui contemplado com investimentos e, também, com cinco orientandos de iniciação científica. Atualmente, como líder do Núcleo de Pesquisa em Educação e Formação Docente realizamos uma parceria com o Grupo de Estudos Tecendo Redes Cognitivas de Aprendizagem (G-TERCOA), da Universidade Federal do Ceará, com o qual criamos cursos de extensão local de diversas pesquisas de mestrado e de doutorado, com a participação de professores, especialistas, mestres, doutores e pós-doutores com o intuito de amadurecer a Teoria dos perfis de aprendizagem.

Grupo responsável pelo projeto

Já no decorrer do ano de 2021, todos esses participantes conseguiram criar um questionário abordando as quatro teorias: modelo VARK, Estilos de Aprendizagem de Kolb, Estilos Cognitivos e Inteligências Múltiplas e, inclusive, houve a aplicação de um pré-teste com aproximadamente 150 pessoas, no qual conseguimos um grau de legitimidade de 99%. Estávamos no caminho certo.

Paralelamente, uma equipe de orientandos do curso de Ciências da Computação e profissionais da área de Tecnologia da informação estavam trabalhando no desenvolvimento da plataforma e do sistema do questionário que irá gerar o relatório e um plano de ação, enquanto outro grupo no marketing de divulgação. Intitulamos o software de APA EIVE!

No decorrer do ano de 2021, foram apresentados diversos trabalhos científicos dessa temática em eventos por todo o país e artigos foram escritos e submetidos a periódicos renomados na nossa área da Educação. Em 2022, o sonho foi possível.

O que é o APA EIVE?

Um software, idealizado pelo prof. Phd Daniel Brandão Menezes, que mensura qualitativamente um perfil de aprendizagem e gera um relatório dos perfis sob a perspectiva de quatro Teorias: Modelo VARK, Estilos de Aprendizagem de Kolb, Estilos Cognitivos e Inteligências Múltiplas.

Para quem? 

Para pessoas de todas as idades! Com a condição de terem cursado pelo menos os anos iniciais do ensino fundamental.

Quem ajudou a legitimar?

A Universidade Estadual Vale do Acaraú e Universidade Federal do Ceará com apoio dos grupos de pesquisa Núcleo de Pesquisa em Educação e Formação Docente e o Grupo de Estudos Tecendo Redes Cognitivas de Aprendizagem, com participação de diversos professores doutores, mestres e especialistas e suporte financeiro da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado do Ceará.

Foi testado?

Sim. O protótipo foi testado com mais de 500 pessoas de todos os níveis de ensino e idade, obtendo o grau de legitimidade e validação de 99%.

Quem serão os beneficiados?

Toda a comunidade escolar. Os profissionais da educação vivenciarão o curso de Analista de Perfil de Aprendizagem para analisarem os relatórios de perfis dos estudantes com o intuito de maximizarem seus aprendizados por meio da compreensão de seus estilos preferenciais de aprendizagem.

Como funciona?

É simples! O aluno realiza um teste de perfil na plataforma APA EIVE e, em menos de 30 segundos, é gerado o relatório de perfil de aprendizagem sob a perspectiva de quatro modelos teóricos: Modelo VARK, Estilos de Aprendizagem de Kolb, Estilos Cognitivos e Inteligências Múltiplas.

O relatório gerado será analisado pelo Analista de Perfil de Aprendizagem que, por meio de uma devolutiva, desenvolverá com o estudante um plano de ação com o intuito de maximizar as estratégias de estudos dentro do perfil predominante, bem como ações de fortalecimento dos estilos menos prevalentes.

Qual o motivo de uma escola adotar esse modelo?

Pesquisas científicas mostram que a personalização do ensino é a tendência atual e do futuro, ou seja, trabalhar a individualidade do aluno em seu aspecto formativo gera resultados extraordinário em sua vivência escolar. Os professores poderão direcionar suas práticas pedagógicas para as características dos mais variados perfis de alunos que existem em sua sala.

Além disso, será possível que, não somente o professor, mas também o gestor escolar e o secretário de educação consigam ter o perfil individual do estudante geral de uma escola ou do município e até formar cenários de aprendizagem com estudante com perfis correlacionados. Qual município não gostaria dessa ferramenta poderosa?

Vamos aprofundar o assunto?

Os perfis de aprendizagem representam o modo pelo qual as pessoas interagem com as suas próprias condições de aprendizagem, abrangendo aspectos cognitivos, afetivos, físicos e ambientais os quais podem influenciar no processamento de informações.

Destarte, salienta-se a importância da investigação do processo de aprendizagem que se relaciona com diversos fatores, dentre eles a inteligência, que, durante muito tempo, foi fundamentada com o teste do Quociente de Inteligência (Q.I.), mas não traduzia adequadamente o perfil particular de aprendizagem. 

Aprendizagem

Estudos mostram que os discentes reproduzem modelos de aprendizado impostos pelo sistema de ensino, o que influencia sua motivação e desempenho. As metodologias aplicadas não solidificam o conhecimento aprendido, sendo necessário completar o ciclo de aprendizagem com maior dedicação temporal, mas nem sempre é proveitoso ou suficiente. 

Diante disso, algumas perguntas emergem: seria possível desenvolver um relatório para mapear os perfis de aprendizagem dos estudantes sob a perspectiva do Modelo VARK, Estilos de Aprendizagem, Inteligências Múltiplas e Estilos Cognitivos? É possível relacionar os perfis caracterizados nessas teorias? É viável criar um questionário que envolva essas teorias? Seria plausível criar um modelo de relatório explicativo para o aluno que responder ao teste?

A partir da aplicação desse questionário, foi criado um relatório de perfil de aprendizagem personalizado, houve a produção de materiais didáticos sobre as temáticas envolvidas e artigos submetidos em periódicos e apresentados em eventos científicos, além de apresentar à comunidade acadêmica os resultados encontrados para que se possa pensar em estratégias de ensino aliadas à realidade encontrada pelos mais variados perfis de aprendizagem na sala de aula.

A ideia da necessidade de se investigar a fundo o perfil de aprendizagem dos alunos é essencial para a compreensão dos processos de ensino e de aprendizagem, bem como no direcionamento de formações de professores, cujo objetivo seja o estudo de propostas metodológicas.

Diante disso, algumas teorias realizaram estudos sobre a classificação dos alunos baseando-se na percepção de que cada pessoa apresenta um estilo predominante de perceber e conhecer a realidade, segundo os estilos de um sistema de representação, estilos de aprendizagem, inteligências múltiplas e os estilos cognitivos. 

Ressalta-se, então, neste projeto de pesquisa, o qual se enquadra no estudo dessa manifestação de uma estratégia personalizada, que o aluno poderá vir a adotar caso conheça com riqueza de detalhes o funcionamento de sua predisposição.

Por outro lado, os modelos de formação de professores realizados usualmente poderão ter seu arcabouço teórico-prático reelaborado para formar docentes preparados para o atendimento dos mais diversos perfis discentes em sala de aula.

Quando os professores conhecem e respeitam os estilos de aprendizagem peculiares de seus alunos, proporcionando instrução em consonância com os mesmos, verificam-se um aumento de aproveitamento acadêmico e um decréscimo de problemas de ordem disciplinar, bem como melhores atitudes em relação à escola. (CERQUEIRA, 2000, p. 37).

A postura do professor de compreender as peculiaridades individuais mostra-se imprescindível para seu fazer docente no desenvolvimento de suas aulas. No entanto, Cerqueira (2000) aprofunda essa ideia a qual advoga pela precípua importância de o educador conhecer também seu próprio perfil de aprendizagem, já que pode influenciar diretamente no modo como planeja sua sessão didática, traçando estratégias diferenciadas, selecionando recursos materiais e se relacionando com os estudantes. De acordo com Cerqueira (2000, p. 36):

O estilo que um indivíduo manifesta quando se confronta com uma tarefa de aprendizagem específica. (...) uma predisposição do aluno em adotar uma estratégia particular de aprendizagem, independentemente das exigências específicas das tarefas. 

Nesse diapasão, Fleming (1995) concluiu que as preferências dos estudantes estão relacionadas com o modo de recebimento das informações, podendo os perfis de aprendizagem serem assim descritos: visual, os que optam pelo simbolismo e diferentes formatos, fontes e cores para enfatizar pontos importantes; auditivo, privilegiam informação tanto falado como ouvida e o uso de questionamento; leitura/escrita, gostam de aprender por meio de livros e documentos e cinestésico, aqueles que preferem trabalhos práticos, trabalhos em grupo e pesquisas e bimodal, os que combinam dois modos de aprendizagem.

Esse é denominado modelo VARK (visual, aural, read / write, kinesthetic) é um acrônimo que significa em português: visual, áudio, leitura/escrita e cinestésico, que foi caracterizado a partir do questionário elaborado para este modelo (FLEMING; MILLS, 1992). Já os Estilos de Aprendizagem de Kolb (1971) relacionam-se à maneira pela qual as pessoas se integram com as condições de aprendizagem, abrangendo os aspectos cognitivos, afetivos, físicos e ambientais que podem favorecer o processamento de informações, tanto na busca de alternativas facilitadoras para desencadear o próprio processo de aprendizagem quanto para desvendar os mecanismos das práticas educativas. 

Quando o estilo de ensino é diferente do estilo de aprendizagem do estudante, este se torna desinteressado, desatento ou desagregador em classe. Somando-se a isso, apresenta baixo rendimento em seu processo avaliativo desmotivando-se com a disciplina, com o curso e a si mesmo. 

Daí, a relevância dos modelos de estilos de aprendizagem durante o planejamento de uma sessão didática e, em particular, o que Sobral (1992, p. 6) preceitua como o que tem maior aplicação e divulgação: o Inventário de Estilo de Aprendizagem de Kolb. Baseado no modelo teórico da aprendizagem vivencial criado pelo próprio Kolb, desenvolve-se a partir de quatro dimensões: estrutura afetiva; estrutura perceptual; estrutura simbólica e estrutura comportamental. 

Em 1921, Stern desenvolveu o cálculo do QI, baseado na razão entre a idade mental e a cronológica e sua multiplicação por cem (RABELO; DE ROSE, 2016). Em contraposição a essa visão de inteligência como algo generalista e único, Gardner (1994) desenvolveu a sua teoria de que a inteligência é a capacidade de resolver problemas e criar produtos que sejam valorizados dentro de um ou mais critérios culturais.

Ao todo, oito competências cumprem os critérios da Teoria das Inteligências Múltiplas, de acordo com Howard Gardner: linguística (habilidade de usar a linguagem com efetividade), lógico-matemática (habilidade numérica e de raciocínio, conseguindo identificar padrões e sistematizar), intrapessoal (utilização do autoconhecimento na solução de problemas), interpessoal (competência de compreender as emoções, expressões e intenções do outro e reagir a partir disso), musical (percepção, discriminação e transformação das formas musicais), espacial (percepção precisa do mundo visual-espacial), cinestésica (habilidade de utilizar o corpo para criar produtos ou solucionar problemas) e, por último, naturalista (habilidade do indivíduo de reconhecer e classificar o seu meio ambiente, como a flora e a fauna) (GAMA, 2014).

Os estilos cognitivos referem-se às características da estrutura cognitiva de uma pessoa, definidas, em parte, por fatores biológicos, sofrendo influências direta ou indireta de novos eventos. Representam uma tendência em apreender e relacionar os dados da realidade, bem como de elaborar conclusões sobre eles. Dizem respeito à forma e não ao conteúdo do que se pensa, sabe, percebe, lembra, aprende e decide (BARIANI, 1998).

Dentre as dimensões de estilos cognitivos identificadas, as mais discutidas e investigadas são: dependência-independência de campo, reflexividade-impulsividade de resposta, divergência-convergência de pensamento e holista-serialista. Há indícios na literatura que diferentes estilos cognitivos são interligados, embora ainda haja pouca evidência de correlações empíricas entre os estilos. 

Assim, diante do exposto, este projeto é imprescindível para que haja uma caracterização do perfil de aprendizagem de maneira personalíssima do aluno, pois, partindo do princípio de que cada pessoa possui formas distintas de captação de informação, será desenvolvido, a partir dos estudos a serem realizados, um software e um modelo de relatório de perfil de aprendizagem, de caráter inovador no cenário educacional, capaz de combinar as Teorias do Modelo VARK, Estilos de Aprendizagem, Inteligências Múltiplas e Estilos Cognitivos com o intuito de compreender, intervir e solucionar problemas imbricados com os processos de ensino e de aprendizagem enriquecendo com esse software a educação brasileira.

Sobre o autor:


*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Bett Brasil.

Referências:

BARIANI, I. C. D. Estilos Cognitivos de Universitários e Iniciação Cientifica. 1998. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, 1998. 

CERQUEIRA, T. C. S. Estilos de aprendizagem em universitários. Tese (doutorado em Educação) - Faculdade de Educação/UNICAMP, Campinas, 2000.

FLEMING, N. D. I'm different; not dumb. Modes of presentation (VARK) in the tertiary classroom. In: Research and development in higher education. Proceedings of the 1995 Annual Conference of the Higher Education and Research Development Society of Australia (HERDSA), HERDSA. 1995. p. 308-313.

FLEMING, N.D.; MILLS, C. VARK. A Guide to Learning Styles. 1992. Disponível em: http://www.vark-learn.com/english/page.asp 

GAMA M.C.S.S. As teorias de Gardner e de Sternberg na Educação de Superdotados. Revista Educação Especial, v. 27, n.50, p.665-674, 2014.

GARDNER, H. Estruturas da mente: A Teoria das inteligências Múltiplas. São Paulo, editora Artmed, 1994.

RABELO L.Z., DE ROSE J.C. É possível fazer uma análise comportamental da inteligência? Revista Brasileira de Análise do Comportamento, v. 11, n. 1, 2016.

SOBRAL, Dejano T. Inventário de Estilo de Aprendizagem de Kolb: características e relação com resultados de avaliação no ensino pré-clínico. Psicologia: teoria e pesquisa, 8(3):293-303, 1992.

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