Educação financeira é essencial para preparar as novas gerações a lidar com dinheiro
Quais são os hábitos de gestão financeira dos jovens brasileiros? Para mais da metade deles, a resposta é: nenhum. Uma pesquisa conduzida pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) revelou que 47% dos jovens da geração Z, com idades entre 18 e 24 anos, não realizam o controle das finanças.
Nesse cenário, a educação financeira nas escolas surge como um elemento crucial para a formação de crianças e adolescentes. Para o presidente nacional da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (ABEFIN) e presidente do Grupo DSOP, Reinaldo Domingos, a introdução desse aprendizado desde a infância pode fazer uma diferença significativa na vida dos jovens.
"A educação financeira desde cedo é uma das ferramentas mais eficazes para preparar uma nova geração para gerenciar suas finanças de forma saudável e consciente", afirma Domingos. "Ao ensinar conceitos como dinheiro, orçamento, consumo consciente e planejamento financeiro, as crianças aprendem a fazer escolhas financeiras mais acertadas ao longo da vida, evitando o endividamento e promovendo hábitos saudáveis, como poupar e planejar para o futuro", completa.
Ele destaca a metodologia DSOP (Diagnosticar, Sonhar, Orçar e Poupar), aplicada em diversas escolas, como uma abordagem prática e envolvente para o ensino de finanças. "A DSOP vai além da teoria, porque incentiva os jovens a associarem o uso do dinheiro ao alcance de seus sonhos, o que os motiva a entender que o dinheiro é uma ferramenta para realizar objetivos, e não um fim em si mesmo", explica. Ele acredita que essa metodologia ajuda a combater comportamentos impulsivos, como o consumismo e o uso irresponsável de crédito, preparando os jovens para uma vida financeira mais consciente e bem-sucedida.
O CEO da FORME - programa de educação financeira -, Bruno Lewis, também pontua a importância de abordagens lúdicas e envolventes para uma educação financeira mais eficaz. Ele acredita que o ensino de finanças vai além dos números: envolve comportamento e escolhas conscientes. “Quando ensinamos crianças e adolescentes sobre dinheiro de forma divertida e interativa, estamos ajudando a formar uma nova geração que adotará hábitos financeiros saudáveis”, afirma. “Ao aprenderem desde cedo sobre o valor do dinheiro, poupança e investimentos, eles se tornam mais preparados para um futuro próspero e saudável”, completa.
Lewis exemplifica como é a metodologia da FORME, que utiliza o FORME Play um aplicativo gamificado com desenhos animados e jogos educativos. “As crianças exploram um mundo financeiro cheio de desafios, onde aprendem, por exemplo, a poupar para realizar seus sonhos ou administrar um orçamento fictício de forma divertida. Transformamos conceitos como juros compostos em aventuras e mistérios a serem resolvidos”, destaca. Para Lewis, essa mistura de conhecimento com diversão torna o aprendizado mais natural e motivador.
Apostas eletrônicas e o papel da família
A popularização e acesso fácil às apostas online, as chamadas "bets", são uma preocupação crescente, e têm atraído cada vez mais adolescentes, que se tornam vítimas de falsas promessas de ganhos fáceis. Os especialistas explicam que a educação financeira nas escolas pode ser também um recurso para a conscientização contra essas ilusões.
"A educação financeira ajuda os jovens a entenderem que as apostas não são uma forma de investimento ou renda extra, mas de alto risco. A educação financeira pode esclarecer a diferença entre uma verdadeira forma de investimento e um jogo de azar, explicando os riscos e as probabilidades reais de perda", adverte ele. O presidente da ABEFIN ressalta que a educação financeira forma cidadãos mais críticos e preparados para resistir a tentações que podem levá-los a comportamentos prejudiciais, como o vício em jogos de azar.
Lewis reforça que o desafio está em ensinar aos jovens que, no universo financeiro, não existe "dinheiro fácil" sem consequências, e a educação financeira ajuda a desenvolver a visão crítica sobre essas atividades. “Ao aprenderem sobre o valor do dinheiro e os riscos envolvidos em atividades como as apostas, os jovens se tornam mais preparados para reconhecer as armadilhas financeiras e escolher estratégias de longo prazo, em vez de se deixar seduzir por ilusões de enriquecimento rápido”, pontua.
Domingos e Lewis também concordam que os educadores e as famílias têm um papel fundamental na construção de uma relação saudável com o dinheiro. “Os dois elementos, educadores e famílias, precisam estar alinhados para garantir que a educação financeira não seja vista apenas como um conteúdo acadêmico, mas como uma habilidade essencial para a vida. A parceria entre escola e família é fundamental para criar uma base sólida para um futuro financeiro mais estável e consciente para as novas gerações”, diz Domingos.
Ele explica que os educadores são responsáveis por introduzir esses conceitos nas primeiras etapas da vida escolar e mostrar que a educação financeira envolve atitudes e comportamentos que devem ser cultivados. "Já as famílias são os primeiros modelos de comportamento financeiro para as crianças, e podem reforçar em casa o valor de escolhas conscientes e o hábito de poupar para objetivos futuros", conclui.
O CEO da FORME ressalta que o pilar do exemplo dos educadores e da família é crucial; no entanto, ele reconhece que o desafio é grande, uma vez que muitos adultos no Brasil não tiveram acesso à educação financeira. “Uma pesquisa da ABEFIN mostrou que 68% dos professores estão endividados, e outro levantamento do Data Popular indicou que 82% dos consumidores desconhecem os juros bancários em empréstimos”, explica.
Para superar esse desafio, a FORME oferece apoio pedagógico e mentoria financeira aos professores por meio da plataforma FORME Academy. “Os educadores precisam transformar sua própria realidade para ensinar com convicção”, afirma Lewis. Ele também destaca a importância do envolvimento familiar no aprendizado das crianças. “Percebemos que os estudantes têm um desempenho melhor quando a família participa do processo de ensino”, acrescenta.
Segundo Lewis, uma abordagem integrada e o incentivo à educação financeira dentro e fora da sala de aula ajudam a fortalecer o ecossistema escolar, promovendo um aprendizado duradouro e impactante. Ele cita a metodologia da FORME que oferece plataformas de apoio pedagógico e mentoria financeira aos professores e também cursos gratuitos para as famílias. “Nosso objetivo é que todos, desde as crianças até os adultos ao seu redor, desenvolvam uma relação saudável com o dinheiro”, finaliza.
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