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Educação midiática e o uso responsável da tecnologia são temas do 3º dia da Bett Brasil

Redação Bett Blog
Educação midiática e o uso responsável da tecnologia são temas do 3º dia da Bett Brasil
Foto: Bett Brasil
Evento segue até quinta-feira, 1º de maio, no Expo Center Norte, em São Paulo

O influenciador e comunicador Felipe Neto marcou presença em um painel digital na 30ª edição da Bett Brasil para abordar o papel da escola na formação de leitores conscientes e capazes de interpretar criticamente os conteúdos que circulam nas redes, nos jornais e no cotidiano digital. Mediado pela jornalista Petria Chaves (CBN), o debate contou ainda com a participação da escritora e educadora Januária Alves, diretora da Entrepalavras.

A moderadora do painel, Petria Chaves, abriu a discussão citando o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, com a frase: “A crise da democracia é a crise da escuta atenta.” Durante o debate, Petria perguntou a Felipe Neto quando ele se deu conta da importância dos livros e por que escolheu ser influenciador, e não "desinfluenciador". Felipe respondeu que sempre gostou de ler, mas foi somente mais tarde que percebeu como a leitura moldou sua capacidade de interpretar o mundo ao seu redor. “Percebi que isso transformou a minha vida, e pode transformar a vida de outras pessoas”.

Conhecido por sua forte presença digital, Felipe destacou o potencial dos influenciadores e youtubers na promoção de bons hábitos de leitura. Segundo ele, as plataformas digitais e as novas mídias podem ser aliadas poderosas para incentivar o gosto pela leitura, desafiando a ideia de que essas ferramentas substituem os métodos tradicionais.

“Até mesmo o jornal, quando passou a ser distribuído em massa, foi criticado. Sempre que surge algo novo, há uma crítica sobre a destruição do modelo anterior. Eu sou contra essa tese”, afirmou Neto, defendendo o uso assertivo dos recursos digitais como facilitadores do aprendizado.

No entanto, ele também alertou para os desafios do meio digital, mencionando a falta de regulamentação nas redes sociais, que favorece o lucro em detrimento do conteúdo literário. “A rede social é totalmente desregulada, e essa falta de legislação desestabilizou o digital. Hoje o algoritmo privilegia o que dá lucro, que no caso, não são os livros. Isso acaba gerando desinteresse nas pessoas, especialmente nos jovens”, disse. Segundo Felipe, influenciadores de nicho, como os de literatura, enfrentam dificuldades devido aos algoritmos das plataformas que limitam o alcance.

Leitura deve ser hobby, não hábito

O comunicador também compartilhou sua experiência pessoal com a literatura, ressaltando a importância de tornar a leitura prazerosa. “Leitura não deve ser hábito, deve ser um hobby. Tem que ter paixão. Na minha visão, forçar o contato de crianças com literaturas que elas ainda não compreendem é comprometer todo o processo”, afirmou. Ele citou o uso de audiobooks como uma alternativa para despertar o gosto pela leitura, destacando a importância de testar diferentes métodos para ampliar os horizontes dos leitores.

IA - Felipe Neto

Por sua vez, Januária Alves, refletiu sobre a realidade da leitura no Brasil, mencionando a perda de mais de 4 milhões de leitores nos últimos anos. “Há uma guerra pela leitura no Brasil. Mas não formamos leitores sem boas leituras”, observou. Ela também compartilhou suas memórias de infância, quando a leitura foi uma ferramenta para aquietar sua mente agitada, ressaltando a importância do ato de ler como um mergulho interior.

Para a escritora, a variedade de leituras é fundamental. Ela mencionou sua paixão por romances, folclore e novelas, destacando que essas obras nunca foram um impedimento para seu desenvolvimento literário. “Sempre gostei de romances de banca de jornal, de novelas, gibis e nada disso depõe contra mim. O importante é ler”, afirmou com convicção. Felipe Neto completou: “sempre tiramos algo de útil de uma leitura, ela nunca é em vão”.

Januaria - Bett

Petria também fez uma reflexão sobre a necessidade de ser crítico com o que se lê. Ela destacou a superficialidade da leitura e como isso pode gerar desinformação. Um exemplo citado foi a suposta candidatura de Felipe Neto à presidência no ano passado, uma sátira que foi mal interpretada por vários setores da sociedade e da imprensa. “A maioria não viu o vídeo, apenas publicou repetindo informações dadas por outras pessoas. Caso tivessem visto inteiro ou contato minha assessoria, saberiam que era uma sátira, um experimento social”, explicou Neto à jornalista.

Os palestrantes, juntos, ressaltaram a importância de dedicar tempo para absorver as informações, checar os dados e aprender, enfatizando que, em um mundo saturado de informações rápidas, a reflexão e o tempo dedicado ao entendimento são cruciais para a construção de uma leitura crítica e consciente.

Uso consciente no universo digital nas escolas

Também durante a 30ª edição da Bett Brasil, a advogada Alessandra Borelli, especialista em direito digital e sócia da Opice Blum Advogados, destacou que a fase inicial de resistência e abstinência digital nas escolas já foi superada - em decorrência da lei que restringiu o uso do celular nas escolas. “Estamos percebendo que dá para ser feliz com o celular restrito”, afirmou. Segundo ela, o momento agora é de resgatar habilidades fundamentais, como a capacidade de se expressar sem depender da tecnologia, especialmente entre as crianças.

No painel “Do banimento ao uso consciente: como a lei que proíbe o uso do celular nas escolas redefine as regras do jogo?”, Borelli ressaltou que o sucesso da medida depende de um esforço coletivo entre escola e família. “A responsabilidade não pode ser só da escola. Não adianta restringir o uso dentro da sala de aula e compensar com uso excessivo em casa. É preciso consistência”.

Ela alertou para os efeitos do uso intenso das tecnologias digitais, que têm moldado uma geração menos preparada para lidar com tarefas que exigem concentração, paciência e resiliência — competências fundamentais para a vida profissional. “Estamos todos digitalmente sobrecarregados, juridicamente mal informados e mentalmente esgotados”, resumiu.

Alessandra Borelli - Bett

Alessandra também trouxe um olhar da neurociência para o debate. De acordo com ela, o uso constante de telas afeta diretamente o funcionamento cerebral, especialmente em crianças. “A relação de dependência com os dispositivos interfere nas conexões neurológicas. O cérebro passa por um processo chamado poda sináptica, em que elimina conexões menos usadas e fortalece as mais frequentes. Isso significa que o hábito da rolagem infinita das telas altera o padrão de atenção e torna mais difícil manter o foco em tarefas na sala de aula, até mesmo em necessidades simples como a leitura de uma pergunta com o enunciado mais longo, por exemplo”.

Por isso, a especialista acredita que o tempo sem celular nas escolas poderá criar novos paradigmas e experiências mais saudáveis para o desenvolvimento cognitivo. “Vamos começar a colher esses frutos em breve, talvez já no próximo ano”, avaliou.

Para garantir uma transição segura e efetiva, Alessandra defendeu a adoção de estratégias práticas pelas instituições de ensino. Entre as sugestões, estão a criação de um protocolo de convivência digital co-criado com alunos, professores e famílias, com regras claras sobre o uso de dispositivos, redes sociais e grupos de mensagens. Ela também propôs a implementação de programas de formação continuada para educadores, com microcertificações em temas como convivência digital, ética digital e educação midiática.

Por fim, destacou a importância de uma equipe escolar especializada em segurança e ética digital. “Essa equipe deve incluir profissionais das áreas jurídica e de gestão, com a missão de avaliar incidentes, prevenir crises e analisar soluções sob a ótica da proteção de dados e da reputação institucional”, concluiu.

Inovação no ensino superior: flexibilidade e tecnologia em debate

Em um mundo em constante transformação, o ensino superior precisa ser ágil, responsivo e conectado às demandas da sociedade e do mercado. Foi com esse olhar que o painel “Repensando a graduação: um olhar de produto para a educação” reuniu especialistas para discutir como as instituições de ensino podem reestruturar seus cursos, currículos e estratégias a partir de uma mentalidade de produto — centrada na experiência do estudante e no valor gerado pela formação.

Com participação de Jeferson Pandolfo, gestor de produtos e coordenador do programa Gestão Sistêmica da Hoper Educação; João Vianney, sócio da Hoper; e Ricardo Ponsirenas, reitor dos centros universitários FMU e FIAM-FAAM, o debate propôs uma ruptura com modelos tradicionais e a construção de graduações mais flexíveis, atrativas e eficazes. A conversa destacou caminhos para inovar, aumentar a permanência dos alunos e responder melhor aos desafios da educação superior no Brasil.

Pandolfo destacou que o Brasil é o segundo país mais conectado do mundo e que a Geração Z aprende melhor com vídeos curtos e conteúdos práticos. “Eles têm uma personalidade ‘maker’, querem aprender na prática”, explicou Pandolfo.

Ahead - EAD

Ele também levantou preocupações sobre o impacto das redes sociais na educação, citando que muitos jovens preferem seguir carreiras de influenciadores digitais em vez de investir em educação formal. “Alguns desdenham da educação tradicional e dizem que querem ser influenciadores, em vez de construir uma carreira profissional tradicional, isso nos preocupa”, comentou. Ele também defendeu a implementação de microcertificações durante o curso, para que os alunos se sintam valorizados desde o início, sem esperar anos para ver resultados.

Além disso, Pandolfo abordou o uso de inteligência artificial no ensino, mencionando que a escassez de professores pode abrir caminho para aulas baseadas em IA. “Já existem experiências na China e no Reino Unido utilizando IA e robôs como professores. Precisamos refletir muito sobre isso, se é o futuro que queremos”, afirmou.

Ponsirenas compartilhou o modelo de desenvolvimento de produtos educacionais de suas instituições, que foca em criar um portfólio alinhado com as necessidades do mercado e com o desejo dos alunos que pretendem ingressar na universidade.

Ele também enfatizou a importância de pesquisas públicas e workshops com o corpo docente para cocriação de soluções: “Produto é um corpo estranho no mundo acadêmico, precisa de estudo, dedicação e fidelidade às ideias.”

Já Vianney apresentou dados que contestam o novo marco regulatório da EAD proposto pelo Governo Federal. “A nova regulamentação do MEC que restringe a oferta de cursos EAD se apoia em argumentos sem respaldo estatístico e, ao invés de promover qualidade, ameaça a inclusão educacional, acentua desigualdades regionais, agrava o apagão docente e isola o Brasil academicamente do cenário internacional”. Vinney acrescentou que o MEC vem forçando um retorno à educação analógica, enquanto o mundo se transforma tecnologicamente.

FMU na Bett João Vianney - EAD

Segundo o painelista, os dados oficiais do INEP demonstram que, ao contrário do discurso adotado pelo MEC, a expansão da formação docente via EAD não comprometeu a qualidade da Educação Básica. “O IDEB das séries iniciais cresceu de forma contínua entre 2005 e 2023 — de 3,8 para 6 pontos — com apenas uma queda em 2021, durante a pandemia. No mesmo período, a proporção de professores formados em pedagogia passou de 4,8% para 43%. A evolução paralela entre esses indicadores evidencia que não há relação negativa entre formação EAD e desempenho escolar”, enfatizou.

No encerramento, o painelista apresentou um manifesto em defesa da EAD que já conta com mais de 13 mil assinaturas.

Os especialistas concordaram que o mercado educacional está se tornando mais competitivo, exigindo esforço das instituições para atrair e reter alunos. Pandolfo ressaltou a importância de políticas públicas de crédito estudantil, enquanto Ponsirenas destacou a necessidade de entender o perfil dos novos estudantes para oferecer uma educação mais personalizada e inovadora, mas ambos concordam que isso só se adquire com estudos e pesquisas técnicas.

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