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15 dez 2022

Educação Midiática na escola: o fim das fake news

Sandhra Cabral
Educação Midiática na escola: o fim das fake news
Escolas e os educadores precisam urgentemente apropriarem-se do letramento digital e da educação midiática para formar a geração Z e as demais para a cidadania


 

Mais de 60% dos brasileiros acreditam em fake news, fato que posiciona o Brasil como campeão mundial em dar crédito a notícias falsas, disseminadas principalmente por meio de mídias sociais digitais, como o Whatsapp, Facebook ou Youtube, entre diversas outras.

Esse dado do Global Advisor, estudo feito pelo Instituto Ipsos, realizado com mais de 19 mil pessoas em 27 países, só ratificou uma realidade “sem precedentes”, como declarou Laura Chinchilla, ex-presidente da Costa Rica e chefe da missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) para observação das últimas eleições majoritárias no Brasil.

O fato de as pessoas, especialmente crianças e jovens da geração Z em diante, viverem em suas próprias bolhas da internet, nas quais só se relacionam virtualmente e com pessoas com as quais compartilham opiniões concordantes e nem sempre que expressam a verdade, faz mal, muito mal à sociedade.

Disseminar e compartilhar boatos e/ou informações falsas, de forma intencional ou não, é um crime perigoso que, além de resultar em pena de até 3 anos de reclusão para os culpados, pode trazer riscos à saúde pública, reforçar todo tipo de preconceito, gerar dúvidas em relação ao sistema.

Apesar das leis, no Brasil, as informações falsas circulam em todas as redes e aplicativos de mensagens e, no segundo turno das eleições 2022, cresceram vertiginosamente na comparação com o primeiro turno. 

O aumento foi registrado no Telegram (23%), Whatsapp (36%) e Twitter (57%). No geral, de acordo com estudo realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, a média diária de mensagens falsas pulou de 196,9 mil antes do primeiro turno das eleições de outubro deste ano para 311,5 mil depois do primeiro pleito. 

Não apenas em relação às eleições, mas também no segmento da saúde ou economia, por exemplo, a máquina de produção de desinformação está cada vez mais sofisticada e, além de atingirem e se reforçarem nas bolhas nas redes sociais digitais, transcendem o mundo virtual e se espalham no mundo presencial, ou seja, começam na internet e abarcam também a sociedade fora dela. Vemos resultados nefastos das fakes antivacina ou mesmo das notícias falsas que aprofundaram a pandemia de Covid-19 no Brasil.

Por esses e inúmeros outros motivos, as notícias falsas já resultaram em linchamento de inocentes, elevação do número de crianças sem doses importantes de vacina, homofobia, xenofobia, legitimação e ampliação de atos violentos, esse círculo altamente vicioso precisa e pode ser quebrado por meio da educação.

A escola tem papel decisório na resolução dessa questão, sendo a única forma de acabar com as fakes news, por meio de investimento pesado e focado em educação midiática e no letramento digital na educação formal de crianças, jovens e adultos.

Se inseridas na educação formal, com propriedade e intencionalidade, de forma transversal, a educação midiática e o letramento digital são poderosas ferramentas para ensinarmos nossas crianças e jovens a utilizarem a internet da forma correta e aprenderem não apenas a identificarem, mas também a desconstruírem as fakes news.

É o que faz a Finlândia, país modelo no quesito educação de qualidade, de acordo com o PISA, há vários anos: investe na educação midiática desde a educação infantil.

Na Finlândia, os docentes – altamente capacidades para essa finalidade - incluem nas aulas de matemática, por exemplo, orientações preciosas de como as estatísticas podem ser distorcidas, ou mostram por meio das aulas de história, como o uso de determinados elementos são manipulados para distorcer fatos passados para influenciar toda uma população.

A grande questão seria os motivos pelos quais as pessoas não apenas dão credibilidade, defendem ferrenhamente e compartilham notícias falsas, sem questionar ou, ao menos, levantar dúvidas sobre conteúdos nos formatos de texto, áudio ou vídeo que recebem por meios das redes ou mensagens de aplicativos. Arrisco que, um deles, é a falta de senso crítico, ainda pouco estimulado na escola.

E a pergunta que não quer calar é: como a escola interrompe o ciclo danoso do compartilhamento das notícias falsas?

Capacitar educadores e gestores é fundamental

O combate às fakes news não é simples e muito menos fácil de se executar, uma vez que os mecanismos de produção e veiculação da desinformação são bastante eficientes e quase sempre ocultam e protegem a identidade dos criminosos.

Exatamente por esse motivo, precisamos capacitar nossos docentes para apropriação da educação midiática e para adotar a educomunicação como rotina nas escolas, a fim de formarmos gerações capazes de eliminar essa prática da sociedade a médio prazo.

Sendo a educação midiática um braço da educomunicação, é possível aplicá-la nas escolas de maneira brilhante e de forma transversal, com objetivo de oferecer um profundo conhecimento sobre as fakes, bem como a engajar e desenvolver o senso crítico e analítico por parte dos alunos. 

Outra vantagem na adoção dos processos educomunicativos nos ambientes escolares é a promoção da cultura digital, da comunicabilidade, trabalho em equipe e da capacidade argumentativa dos adolescentes, requisitos que estão entre as 10 competências e habilidades exigidas para o ensino pela BNCC – Base Nacional Comum curricular.

Nas escolas o enfrentamento das notícias falsas passa pelo letramento digital, conscientização dos estudantes de que estão imersos em bolhas formadas pelos algoritmos, a partir do que pesquisam, postam, compartilham ou comentam na internet, e orientação profunda sobre a produção, disseminação e efeito nocivo das fakes na sociedade, bem como a desconstrução das notícias para averiguação.

A capacitação de professores e gestores para inserir no contexto escolar a educação midiática, por meio da educomunicação (educação pela e para a mídia), coloca o estudante no centro dos processos de ensino e de aprendizagem, auxiliando o docente a levar suas turmas ao grau máximo de desenvolvimento da cidadania, abrindo-lhe as portas da autonomia, proatividade e da habilidade em pensar criticamente e analiticamente sobre tudo.

E não é essa a função primeira da escola?

Ensinar para além do conteúdo puro e simples, em um mundo globalizado, que produz milhares de milhares de informações por minuto, nem todas importantes e nem todas verídicas? Ensinar o estudante a usar a internet de forma racional e produtiva para ele? Orientar sobre como se posicionar diante dessa inundação de informações? Mostrar a ele como proceder para ter a capacidade de decidir, com conhecimento e criticidade, o que realmente é bom para ele e serve para melhorar seu entorno e a sociedade como um todo?

 

*Sandhra Cabral é Mestre em Inovação na Comunicação de Interesse Público pela USCS/USP, com área de pesquisa voltada ao uso da comunicação em Comunidades de Prática Virtuais para a atualização e formação continuada de professores e lideranças educacionais; educomunicadora, jornalista graduada pela UMESP – Universidade Metodista do Estado de São Paulo; docente universitária na USCS – Universidade Municipal de São Caetano do Sul; CEO do Educar para Ser Grande, Consultora em Inovação na Educação e em Educomunicação. Jornalista premiada, com mais de 25 anos de experiência em hard news.

 

 **Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Bett Brasil.

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