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27 fev 2023

Educação para a tolerância: falta diálogo!

Adriana Martinelli
Educação para a tolerância: falta diálogo!
A educação para a tolerância passa, inexoravelmente, pela empatia, inclusão, acolhimento, cidadania e, mais do que tudo, pela profunda missão do ouvir (a si e ao outro) e do diálogo


 

A palavra explicar, do latim Patior, pode ser usada no sentido de tolerar ou permitir alguma coisa, apesar de causar dor ou sofrimento pessoal. Explicar, no plano do diálogo, tem o sentido de esclarecer e ensinar.

Acompanhamos de perto casos de intolerância, agressões e preconceitos nas redes sociais, em aplicativos de mensagens, nas ruas, nos ônibus, na arena pública. O termômetro mostra um processo febril, resultante de uma doença, em boa parte, já diagnosticada. Tratar dessa doença é imprescindível e pedagógico, porque acomete crianças e adolescentes, dentro e fora das escolas e envolve toda a comunidade escolar, não só os estudantes, mas professores, coordenadores, diretores, mantenedores, pais, amigos, responsáveis pela cantina, limpeza e segurança das escolas, e a sociedade como um todo.

As falas e atitudes ofensivas, discriminatórias, xenófobas, racistas e intolerantes demonstram falta de empatia, solidariedade, inclusão, acolhimento e cidadania. Acreditamos que as escolas e as instituições de ensino devam adotar o diálogo como um dos protocolos para debelar esta doença.

Para um bom diálogo, seria urgente introduzir como prática cotidiana o curso de “Escutatória”, como bem recomendou Rubem Alves. O mestre educador até pensou em oferecer o tal curso, mas, desanimado, concluiu: “Tudo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir”. Há anos, Alves constatava que a nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade. Por isso, nos dias de hoje, e sob tais circunstâncias, ouvir passa a ser uma proposta educacional irrecusável para integrar à educação que se quer promover para o século XXI.

A BNCC (Base Nacional Curricular Comum) para Educação Básica (e desde a Educação Infantil) propõe que as crianças aprendam a vivenciar desafios, resolvê-los e construir significados sobre si, os outros e o mundo social e natural; para o novo Ensino Médio, a BNCC prioriza, entre outras coisas, o desenvolvimento de habilidades, competências e um processo educacional mais atrativo para a geração de nativos digitais, incluindo a leitura, interpretação, análise, capacidade de relacionar fatos com textos e aplicação do conhecimento sobre o cotidiano. Tudo isso se constrói com o tempo e com muito diálogo.

O recrudescimento das falas, atitudes e comportamentos de uma parcela da população adulta tem impactado diretamente nossos estudantes, sobretudo crianças e adolescentes. Como muito bem observou Claudia Costin, em seu artigo na Folha de São Paulo “Como educar se não pararmos de nos comportar como crianças?”, é preciso uma “educação para a vida em sociedade, educar para uma convivência pacífica entre pessoas diferentes, a base da coesão social, para formar adultos que controlem seus impulsos negativos e possam assim viver juntos”.

Se olharmos para fora, dois bons exemplos nos inspiram. Desde a década de 1960, o sistema educacional da Alemanha introduziu como parte obrigatória no currículo a abordagem pedagógica sobre o Holocausto para promover uma reflexão crítica sobre o passado e a sociedade e lembrar dos perigos a que estamos todos vulneráveis e expostos à intolerância, preconceitos, injustiças, humilhação e violência.

Também é possível se inspirar no sistema de ensino finlandês, que há muitos anos introduziu no currículo o pensamento crítico em várias disciplinas e atua ativamente contra as notícias falsas (fake news) ao promover a alfabetização midiática. Para isso, ensina às crianças habilidades necessárias para analisar toda exposição à informação, seja advinda dos meios online, seja do offline.

O diálogo como antídoto, como vacina contra ofensas, discriminações e intolerâncias se faz necessário como preparatório para o futuro dos nossos estudantes. Quando falamos em uma educação para a vida, que prepara para a cidadania e para o mercado de trabalho - para as profissões existentes e outras que ainda estão por surgir -, alertamos que a sociedade e o mercado de trabalho estão em busca de indivíduos que se dediquem à empatia, do grego “empatheia”, que nada mais é do que a capacidade psicológica de sentir, ou de se colocar no lugar de outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela.

Sem qualquer (pré) julgamento ou relativismos sobre “certo” e “errado”, a educação para a tolerância passa, inexoravelmente, pela empatia, inclusão, acolhimento, cidadania e, mais do que tudo, Educadoras e Educadores (!), pela profunda missão do Ouvir (a si e ao outro) e do Diálogo! Enfim, precisamos introduzir a escutatória, pré-requisito para que o diálogo possa acontecer.

Por isso, na Bett Brasil, acreditamos no diálogo!

 

Sobre a autora:


*Texto publicado originalmente na revista Escola Particular.


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