Enem e vestibulares: especialistas comentam a importância do suporte psicológico para estudantes que buscam vaga no ensino superior
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Avaliações como o Enem e vestibulares são momentos importantes para muitos estudantes que buscam o acesso ao ensino superior. Atualmente, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), é o principal meio de ingresso para cursos de graduação no país, seja na educação pública, seja na privada.
O processo de preparação e estudos para essas provas e os processos seletivos demandam energia, disciplina e dedicação por parte dos candidatos e candidatas, muitos deles cursando o ensino médio. Nesse sentido, as atividades escolares com suas demandas específicas devem ser conciliadas junto a um estudo direcionado para esses exames. A carga horária de estudo costuma aumentar em relação aos primeiros anos da fase do ensino junto a uma cobrança maior e pressão pela aprovação.
Nesse contexto, é importante o cuidado e atenção com a saúde mental das e dos jovens que farão provas do Enem e vestibulares, na opinião de especialistas da saúde mental e educação. Para isso, é necessária uma formação adequada dos colaboradores educacionais, mudança de cultura e uma atuação estratégica e criativa por parte dos profissionais diante de uma realidade com poucos recursos financeiros.
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Suporte psicológico escolar para quem fará o Enem e vestibulares
O cuidado com a saúde mental não possui a atenção e olhar necessários pelas instituições, políticas públicas e sociedade, reforçam os especialistas. Nesse sentido, um dos grandes desafios é a questão cultural, já que muitas escolas enxergam a educação socioemocional como parte secundária nos processos de aprendizagem.
“É necessário ter clareza de que o equilíbrio emocional é fundamental em uma sociedade na qual o dinamismo e o aproveitamento máximo do tempo são exigidos, e que as mudanças acontecem em uma velocidade muito maior do que aquela que estamos biologicamente acostumados e preparados.” - Vinicius Araújo
Vinicius de Paula Aguiar Araújo, diretor pedagógico do Colégio Anglo São Paulo. Crédito: Arquivo Pessoal.
Vinicius destaca que é essencial que as escolas não adotem um discurso de pressão. O suporte psicológico precisa ser incluído e abordado de forma integral, possibilitando que o desenvolvimento emocional e acadêmico andem juntos, enfatiza. Para o profissional, é crucial que o suporte psicológico seja planejado com a mesma seriedade que o plano de aula, para torná-lo sustentável e significativo para a comunidade escolar.
Para Nathália Cippola, psicóloga e especialista em orientação profissional, as escolas podem atuar de forma estratégica ao oferecer uma organização e rotina de estudos com planos que sejam realistas. Com isso, é preciso compreender e trabalhar com a gestão do tempo.
Nathália Cippola, psicóloga e especialista em orientação profissional. Crédito: Arquivo Pessoal.
É necessário por parte dos familiares compreenderem que as variações emocionais das e dos jovens vestibulandos são naturais e que é importante a escuta e o acolhimento. As escolas podem ajudar quanto ao treinamento para os membros da família, qualificando e melhorando as relações.
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Desafios relacionados ao suporte psicológico nas escolas
Entre os desafios encontrados neste debate, está a carência na capacitação das e dos profissionais que lidam com os estudantes. Por isso, para Vinicius, o ponto de partida deve ser o letramento e formação da equipe pedagógica. “Quando os educadores estão preparados para lidar com o aspecto emocional do aluno, a escola já começa a mudar sua cultura”.
As escolas enfrentam questões práticas e estruturais que dificultam a oferta de apoio psicológico aos estudantes. Muitas escolas não possuem psicólogos escolares, e quando tem se encontram sobrecarregados. As atividades da área de saúde mental, segundo Nathália, ainda são vistas como “muito subjetivas” e como “perda de tempo”, ocorrendo uma desvalorização para algo que a profissional acredita ser importante na busca pela vaga no ensino superior.
Outro ponto evidenciado por Nathália se refere à falta de tempo na rotina escolar. As grades escolares são densas e os conteúdos exigidos nas provas de Enem e vestibulares são muitos. Junto a isso, muitas escolas não colaboram com uma maior flexibilidade para pensar estratégias de enfrentamento aos aspectos emocionais.
Quanto à realidade de pouco recurso financeiro, Angelita Traldi, coordenadora de formação superior em Psicologia, pontua que as escolas podem adotar diversas estratégias criativas e de baixo custo para garantir esse suporte. Entre elas está a parceria com universidades que oferecem o curso superior de Psicologia. Os estudantes das instituições de ensino superior podem desenvolver estágios supervisionados nas escolas e atuarem diretamente no apoio emocional dos alunos. Organizações Não Governamentais (ONGs) que contam com esse tipo de trabalho também podem ser parceiras das instituições escolares.
Angelita Traldi atua como coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera. Crédito: Grupo Top.
Ferramentas e ações para ajudar os estudantes
Para contribuir no processo de apoio emocional aos estudantes que estão se preparando para o Enem e vestibulares, as instituições escolares podem desenvolver uma série de projetos, ações e ferramentas, conforme sugerem os especialistas entrevistados nesta matéria. Veja a seguir:
- Rodas de conversa
- Grupos de estudo
- Mindfulness (técnica direcionada à atenção plena com foco na presença do momento)
- Exercícios cognitivos
- Testes psicológicos
É importante, na perspectiva de Vinicius Araújo, que a escola seja um ambiente acolhedor, em que o estudante possa se sentir bem e estudar com calma. Quanto às ferramentas, o diretor pedagógico destaca que elas devem promover o autoconhecimento, a gestão emocional e a construção de propósitos. Esses fatores são importantes para uma formação integral e humana e contribuem para que os estudantes consigam vivenciar o processo com menos desgaste, salienta.
No caso dos grupos de estudo, a coordenadora Angelita Traldi acredita que eles funcionam bem para oportunizar aos estudantes um espaço de troca e construção de um ambiente colaborativo.
Além disso, os professores podem ser mediadores em conversas protagonizadas por estudantes que já vivenciaram o processo de estudos para o Enem e vestibulares. Essas oportunidades podem ajudar a reduzir o isolamento que os alunos costumam passar ao longo da preparação, acredita Nathália Cippola.
Materiais gratuitos e digitais podem ser utilizados como forma de disponibilizar e ajudar na elaboração de conteúdos de apoio emocional. Guias informativos e práticos podem ser confeccionados pela equipe pedagógica, sugere Angelita.
Para Vinicius, a escuta ativa por parte dos profissionais da instituição escolar deve fazer parte da rotina. Programas e soluções socioemocionais precisam fazer parte da base curricular para que os alunos possam desenvolver habilidades para lidar com momentos desafiadores, tais como empatia, comunicação e resolução de conflitos.
Suporte psicológico deve ser oferecido de forma integrada e com envolvimento de toda a comunidade escolar e família. Crédito: Shutterstock.
Os gestores escolares e sua equipe podem atuar também na promoção e realização de eventos culturais, artísticos e esportivos que ajudam na redução da ansiedade e estresse dos estudantes, afirma Nathália.
Cippola considera que a orientação profissional aliada ao trabalho emocional ajuda os estudantes a terem escolhas sobre o futuro de maneira mais consciente. Com isso, os estudantes podem se tornar profissionais mais interessados em seus trabalhos e que sejam protagonistas das suas escolhas. Isso pode contribuir para fortalecer a autoestima e identidade dos alunos e, consequentemente, se sentirem mais confiantes no enfrentamento de desafios.
“Ninguém aprende com medo, ninguém aprende sofrendo pressão. Então, a escola precisa ser um lugar de segurança, sobretudo, e ter no seu DNA um discurso de que a preparação para o vestibular faz parte de um momento da vida que é de fato muito importante, mas é mais um dos tantos momentos desafiadores com os quais os alunos irão se deparar na vida.” - Vinicius Araújo
Esse trabalho emocional exige método, acompanhamento e intenção pedagógica, acredita Araújo. É preciso garantir que o apoio não fique apenas no discurso, é necessária uma formação continuada, tempo de planejamento e espaços na rotina das escolas para que isso seja constante. “Para atingir a excelência acadêmica, é necessário ter maturidade emocional, e isso se constrói no dia a dia”, completa.
Por Lucas Afonso
Jornalista - Brasil Escola
*Conteúdo sob responsabilidade exclusiva do parceiro.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Bett Brasil.
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