Gerações Z e Alpha desafiam a lógica da autoridade e da sala de aula tradicional, alerta Dado Schneider
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Em tempos de inteligência artificial, hiperconectividade e redes sociais como principal fonte de informação, entender o comportamento das novas gerações tornou-se uma tarefa urgente para educadores e gestores escolares.
Durante o painel “Como as próximas gerações vão consumir a educação no futuro”, realizado na 30ª edição da Bett Brasil, o doutor em Comunicação pela PUCRS, professor e escritor, Dado Schneider, provocou reflexões sobre o papel da escola e da sociedade diante dos perfis inéditos das gerações Z e Alpha — jovens que não apenas nasceram com acesso ilimitado à internet, como também não reconhecem mais figuras de autoridade da mesma forma como era construída essa percepção no século passado.
Para Schneider, estamos diante de uma mudança de era. “O século XX era vertical: a ordem era ‘manda quem pode, obedece quem tem juízo’”, explicou. Nesse modelo, a autoridade estava nas mãos de quem detinha o conhecimento, que era transmitido por fontes únicas, como a televisão aberta. “O saber vinha de cima e era passado pelos mais velhos. Hoje, a internet mudou o eixo de poder. Trouxe infinitas novas fontes de informação, muito mais interessantes e divertidas”, completou.
As gerações Z e Alpha, segundo ele, são nativas desse novo mundo horizontal, em que a lógica da hierarquia foi substituída pela conexão em rede. Um dado simbólico citado por Schneider ilustra bem essa transição: “O TikTok já é mais usado do que o Google como fonte de busca por informações por essas gerações”.
Dado Schneider foi um dos palestrantes da 30ª edição da Bett Brasil. Foto: Bett Brasil
Além disso, ele destacou que estamos lidando com “adultos inéditos” — uma geração que viverá mais de 100 anos e que, aos 30, ainda está em sua fase de formação. “Estamos vivendo mais do que nossos avós. Quem tem 30 anos hoje vai viver até os 120. Ou seja, com 30, só viveu 25% da vida inteira”, afirmou, defendendo que esse novo ciclo de vida exige uma nova forma de pensar o tempo, a educação e o trabalho.
Na escola, os impactos são visíveis. Para Schneider, os alunos entram nas salas de aula — muitas vezes ainda com estruturas e métodos do século XIX — vindos de um mundo repleto de estímulos, telas e interatividade. “Esses jovens não reconhecem liderança ou autoridade simplesmente por estar na frente da sala. A linguagem precisa mudar. Somos uma geração inédita e nunca nos deparamos com tanta coisa diferente ao mesmo tempo. E o que a internet começou a chacoalhar, a inteligência artificial vai ampliar ainda mais.”
O professor finalizou com uma provocação: “Fomos criados em um mundo vertical e viveremos para sempre em um mundo horizontal. Estamos vivenciando a adolescência do futuro”. A mensagem, embora inquietante, é clara: educar para o presente e o futuro exige mais do que tecnologia — exige escuta, adaptação e coragem para reinventar os papéis tradicionais.
Como será o consumo da educação no futuro?
A educadora Valesca Karsten, diretora da escola de Educação Infantil Caracol, trouxe também no painel uma reflexão profunda sobre o papel transformador dos educadores e como as experiências vividas na infância impactam diretamente nas escolhas futuras dos alunos.
“Pensamos pouco sobre isso, quem trabalha com educação tem um superpoder. As nossas memórias afetivas impactam o que vamos consumir. Acredito que com o consumo da educação não será diferente”, afirmou.
Educadora Valesca Karsten durante sua participação no painel. Foto: Bett Brasil.
Segundo Valesca, tanto as vivências familiares quanto escolares influenciam o que esses estudantes buscarão no futuro — inclusive em relação ao conhecimento. Para ela, o elemento central de uma instituição de ensino está no material humano e na escuta sensível, especialmente às mães. “Uma equipe bem cuidada tem um olhar mais atento sobre si, sobre o entorno e as crianças e estará melhor preparada para orientá-las”, reforçou, destacando ainda o papel da escola como uma verdadeira rede de apoio às famílias.
Valesca defendeu que preservar o tempo da infância com curiosidade, conhecimento e criatividade deve ser prioridade, respeitando o tempo e a linguagem das crianças. “O trabalho da criança é brincar. O futuro do consumo da educação passa pelo que fazemos pelas crianças hoje.”
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