A importância da aprendizagem ao longo da vida para o futuro do trabalho
Estudos e relatórios internacionais alertam para o fato de que as habilidades demandadas hoje não mais estarão no centro dos perfis requisitados amanhã e muitas se tornarão obsoletas. Entre as justificativas para esse movimento, estão as inovações disruptivas trazidas pelas transformações digitais, o envelhecimento populacional, o aumento da idade média do trabalhador e a urgência de uma economia sustentável. Todos esses fatores criam e modificam rapidamente ocupações e perfis profissionais.
Esta evolução vem aumentando a necessidade de formação contínua dos trabalhadores, tendência já reconhecida por organismos internacionais como UNESCO e OIT, que recomendam o desenvolvimento de políticas e programas educacionais com essa finalidade.
No Brasil, a projeção da necessidade de requalificação no setor industrial alcança o percentual de 79% da demanda total por formação profissional, estimada em cerca de 9,6 milhões pelo Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025 do SENAI.
Nos diferentes países, surgem iniciativas do governo, das empresas e de instituições de ensino, envolvendo estratégias de requalificação dos trabalhadores, seja para atualização ou aprimoramento de competências na área de atuação (upskilling) ou para qualificações profissionais voltadas à recolocação e ao reposicionamento laboral (reskilling).
Novas regras e exigências ambientais, por exemplo, têm remodelado processos produtivos, criando novas funções e exigido dos profissionais novos conhecimentos. Países como Canadá, Austrália, Nova Zelândia, e os que integram a Comissão Europeia têm estruturado programas com este objetivo, inclusive contemplando mini e micro cursos para definir microcredenciais a serem ofertados de forma independente ou em articulação com programas da educação profissional e tecnológica e do ensino superior.
Para orientar os países e reunir esforços, o Fórum Econômico Mundial lançou a agenda “Reskilling Revolution” em sua reunião de janeiro de 2020. Seu propósito é viabilizar novas oportunidades de trabalho para até um bilhão de pessoas no mundo nos próximos 10 anos. No Brasil, o SENAI é o coordenador local da iniciativa, intitulada “Aceleradora de Competências”, conjuntamente com os Ministérios do Trabalho e da Educação e a Microsoft. A meta de requalificação nos cinco primeiros anos do programa, ou seja, até 2025, é de 4 milhões de trabalhadores.
Sem dúvida, a nova dinâmica no trabalho do futuro e do futuro do trabalho exige das instituições de educação profissional e tecnológica um outro olhar sobre as propostas de formação a serem disponibilizadas e viabilizadas às pessoas.
Passa ser fundamental para as instituições de educação profissional e tecnológica o olhar verticalizado sobre as possibilidades de formação e trajetórias a serem oferecidas, considerando os diferentes perfis de público que podem buscar acessá-las. Devem ser consideradas para a concepção dos currículos: a definição de caminhos de acesso aos cursos, as formas de oferta, as diferentes maneiras de acessar os conteúdos e as aulas, bem como os instrumentos de avaliação e de certificação. Requer, por conseguinte, novas estratégias de apresentar e divulgar os cursos e opções de formação ao jovem ou ao adulto trabalhador, prevendo e explicitando diferentes meios e momentos de acessá-los e os diferentes caminhos de formação que ele pode optar em sua trajetória contínua de aprendizagem. Enfim, democratizar o acesso.
Isso significa incorporar de fato à educação os princípios e a concepção da educação permanente e ao longo da vida. Envolve, conforme descreve a UNESCO, reconhecer que as atividades de aprendizagem dos indivíduos ocorrem em todas as idades, em diferentes ambientes, modalidades e contextos (formais e informais) e se desenvolvem por diferentes motivações, interesses, necessidades ou exigências vivenciadas ao longo de nossa existência.
O desafio é grande! Torna urgente a necessidade de se avançar na reorganização da oferta de educação profissional e tecnológica para dialogar e atender a este novo ambiente marcado por constantes transformações em todos os setores da vida social, incluindo aqueles que permeiam e caracterizam as instituições de ensino.
O desenho das propostas pedagógicas deve ser concebido não mais de forma restrita ao olhar sobre aquela etapa, aquele curso ou aquele nível, nem mesmo destinado exclusivamente a um caminho único de acesso, formação e conclusão.
Devem ser pensadas e estruturadas de forma matricial e flexível, permitindo diversificadas trajetórias educacionais, imprimindo sentido ao que se estuda e a forma como se acessa o conhecimento e se desenvolvem as competências em diálogo com as vocações e motivações individuais, que podem ser as mais diversificadas como elevar a escolaridade, se especializar, se requalificar ou mudar de área de atuação profissional, ou simplesmente ampliar conhecimentos.
Fundamental assim prever e oportunizar trajetórias formativas flexíveis com criação de diferentes possibilidades de entrada na educação profissional e superior (tecnólogo e bacharelado). E, ainda, disponibilizando alternativas de mobilidade entre elas acionando-se mecanismos de aproveitamento de estudos.
Não importam as razões, a contínua e permanente necessidade de prosseguir no caminho da aprendizagem se amplia de forma sem precedentes, potencialmente na trajetória da educação profissional e tecnológica que vem ocupando gradativamente lugar de destaque nas demandas por formação.
Estamos diante de um momento de inflexões econômicas e sociais no mundo. O Brasil precisa encontrar seu caminho a partir de suas necessidades, singularidades e realidades e transformar essas tendências em oportunidade para fortalecer a formação de seus profissionais e contribuir para ampliar as escolhas dos indivíduos, melhorar a qualidade do trabalho e evitar o aumento de desigualdades.
É grande o potencial do país e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996) já fornece os amparos e referencias legais para que a educação, de forma geral, e a educação profissional e tecnológica, de modo específico, possam efetivar seu importante e estratégico papel neste percurso rumo ao desenvolvimento socioeconômico sustentável. Sem dúvida, o governo tem um papel central, e a aproximação e o diálogo entre as instituições de ensino e o setor produtivo são fundamentais na construção e implantação de um ecossistema de aprendizagem ao longo da vida eficiente, de modo a colocar o Brasil no rumo da reindustrialização e do crescimento sustentável.
Sobre o autor:
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Felipe Morgado
Superintendente de Educação Profissional e Superior, SENAI - Departamento Nacional
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Bett Brasil.
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- Estratégias de Aprendizagem