Inteligência Artificial na educação: por que, como, quando?
Até onde a Inteligência Artificial na educação pode nos levar? Essa é uma pergunta que causa inquietação em educadores e gestores escolares. A IA não é novidade, é uma tecnologia que impacta a nossa realidade há muito tempo. Porém, o avanço de inteligências generativas nos últimos anos, como o ChatGPT, adicionou um novo ingrediente no contexto da educação com discussões sobre a adoção de IA na sala de aula migrando do campo hipotético “se” para o “como”.
Incluir recursos de IA nas salas de aula de forma útil na formação dos alunos não é tarefa simples. Um dos questionamentos que colocam em xeque a efetividade da implementação de inovações é se os professores estão confortáveis e capacitados para utilizar tecnologias baseadas em IA em suas práticas pedagógicas. E mais: se terão plena autonomia para utilizá-la.
A analista Educacional da CESAR School, Tanci Simões, avalia que os principais impactos da IA para os professores é a possibilidade de aliviar a carga de trabalho oriunda da própria natureza da profissão com o volume de atividades relacionadas ao processo de ensino e aprendizagem. Entretanto, a capacitação dos docentes é uma preocupação latente.
“Ferramentas baseadas em IA generativa que possam apoiar etapas de planejamento e produção das aulas, bem como o processo de avaliação da aprendizagem são oportunidades em potencial. Por outro lado, os desafios se concentram nas limitações inerentes ao recurso e de quem o utiliza, uma vez que os professores não têm oportunidades de formação para que sejam capazes de se apropriarem destes recursos e suas funcionalidades de maneira plena, o que por sua vez impacta o quão confortáveis eles se sentem para adotá-los no cotidiano”, afirma Tanci.
Ela salienta que os professores não possuem conhecimento sólido sobre elementos de design educacional que poderiam tornar a apropriação da IA generativa ainda mais produtiva, com a exploração dos recursos de maneira inovadora e criativa.
Tanci aponta que os professores precisam dominar as respostas para as seguintes questões: “Como definir objetivos de aprendizagem? Como combinar metodologias de ensino e os tipos de conteúdo? E quais são os recursos educacionais mais efetivos para os objetivos de aprendizagem e conteúdos que serão apresentados? E as estratégias de ensino? E os processos avaliativos?”.
O pesquisador sênior da CESAR School e professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Rafael Ferreira Mello, opina que a IA é uma ferramenta que pode potencializar o aprendizado dos alunos ao integrar as práticas pedagógicas já utilizadas pelos professores.
"A Inteligência Artificial surge como uma ferramenta poderosa que potencializa o que os professores já fazem em sala de aula. Historicamente, as turmas eram menores, com 30 ou 40 alunos, mas hoje, em cursos online, esse número pode chegar a 100 ou 150. Como os professores conseguem gerenciar tantos alunos? A IA entra em cena para analisar dados e dar suporte ao professor, como no envio de feedback e correção de questões específicas. É um apoio importante e não uma ferramenta automatizada para fazer tudo sem ter o professor envolvido no loop”, afirmou Mello.
O professor destaca que a IA e outras tecnologias educacionais devem ser pensadas em um contexto mais abrangente de suporte ao professor.
“Temos que entender a IA em uma perspectiva mais ampla, não simplesmente dizer que a IA vai resolver as tarefas administrativas e o professor vai focar mais nas tarefas de ensino, porque isso pode gerar uma frustração. No aspecto mais amplo, a IA é uma ferramenta no processo de ensino/ aprendizagem e, como qualquer outra tecnologia, para potencializar o seu uso, a IA precisa entrar na prática pedagógica e ser incorporada no design do curso”, comenta ele.
IA com propósito na educação básica
O diálogo sobre como inserir a IA com propósito na educação básica em escolas privadas e públicas é um dos pontos centrais da Jornada Bett Nordeste, que será realizada nos dias 4 e 5 de setembro, em Recife/PE.
O evento itinerante, promovido pela Bett Brasil, organizadora do maior evento de Inovação e Tecnologia para Educação na América Latina, tem como temática central para guiar os painéis de debate: “Inteligência Artificial (IA) e Inteligência Emocional (IE) na educação: o que devemos aprender?”.
Os dois especialistas da CESAR School estarão na Jornada Bett Nordeste como palestrantes convidados nos painéis, “IA na Educação: Transformando o Aprendizado” e “O Futuro da Educação: Práticas Inovadoras com o Uso da Inteligência Artificial”, respectivamente.
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Ambos concordam que a utilização de IA precisa ser sempre questionada, mesmo que a introdução da tecnologia na Educação tenha o potencial de trazer mais benefícios do que prejuízos. Mello ressalta que o ponto mais relevante para a implementação de novas tecnologias é entender o contexto no qual estão inseridas a instituição de ensino e a região em específico.
“Não é porque um recurso deu certo em Recife que vai funcionar em São Paulo. Também é necessário fazer um trabalho junto aos professores e não só para a capacitação, mas de conscientização e explicação do potencial da utilização da tecnologia, porque no final das contas quem usa é o docente”, explica o professor.
Ele alerta sobre a necessidade de avaliar as novas tecnologias a partir das especificidades do ambiente educacional e dos docentes.
“Ao invés de olhar o que tem de melhor no mundo e trazer pra cá, precisamos entender o local e a partir disso avaliar o que resolve aqueles problemas e de que forma atende aqueles profissionais específicos. Acho que o caminho estava invertido nas adoções de tecnologias anteriores”, comenta.
Para Tanci, não devemos desencorajar os questionamentos sobre IA, porque estaríamos renunciando a um uso crítico e, pior ainda, da intencionalidade pedagógica. Ela acredita que a efetividade da ferramenta seria maior se pensássemos mais sobre o motivo (o porquê) e o modo (como) de utilizarmos as novas tecnologias.
“Embora existam benefícios presumíveis e, em algum nível, óbvios, parece-me inadequado estabelecer um parâmetro único. A depender do contexto, do objetivo, do público-alvo, a adoção da IA generativa em sala de aula pode proporcionar mais ou menos benefícios. E, nesse caso, cabe ao professor decidir a partir dos dados e evidências dos quais dispõe”, afirma ela.
Para finalizar, a analista educacional, mais uma vez, alerta para a devida capacitação e letramento para o uso de IA pelos docentes. “Quantos professores são capazes de distinguir a IA tradicional da IA generativa? Quantos são capazes de discernir quando usar uma ou outra? Quantos são capazes de identificar seus limites? E os impactos éticos e legais?”, questiona.
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