Os desafios éticos da inteligência artificial (IA) na educação ganham destaque à medida que o uso da ferramenta em sala de aula é cada vez mais integrada nas escolas. Na Jornada Bett Nordeste, evento itinerante realizado pela Bett Brasil, as considerações e implicações sobre o uso de IA em práticas pedagógicas foi um dos assuntos de destaque da série de painéis e palestras do evento.

A sócia Opice Blum Advogados, Alessandra Borelli, a advogada do escritório Mattos Filho, Ingrid Soares, e a analista de Soluções Educacionais CESAR School, Jéssica Campos, participaram deste debate sobre as relações de ética e IA na Educação.

Para Alessandra é fundamental respeitar a privacidade e a proteção de dados ao utilizar tecnologias baseadas em IA no ambiente educacional. "É preciso garantir que as tecnologias baseadas em IA respeitem a privacidade dos alunos, coletando apenas os dados necessários e armazenando-os de forma segura, em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)", afirmou.

Ela enfatizou que as instituições e empresas devem ser transparentes quanto à coleta, processamento e uso dos dados dos alunos. "Explicar claramente as funcionalidades da tecnologia e os riscos associados é crucial para estabelecer relações de confiança com alunos e famílias", disse Alessandra. Além disso, a implementação de medidas rigorosas de segurança para proteger as informações dos alunos contra vazamentos e ataques é um passo imprescindível. "A escolha de ferramentas de IA deve considerar a capacidade dessas tecnologias de manter os dados protegidos", acrescentou.

A sócia da Opice Blum Advogados também alertou sobre os riscos de vieses presentes em soluções de IA que podem afetar negativamente certos grupos de alunos, reforçando estereótipos ou promovendo discriminação. "Educadores devem estar atentos ao uso de tecnologias que sejam justas e inclusivas", destacou.

Alessandra também ressaltou que a IA deve servir para complementar, e não substituir, o papel do professor. "É importante refletir sobre o impacto da IA nas decisões pedagógicas e garantir que a autonomia do professor seja preservada", afirmou. Alessandra sublinhou a necessidade das escolas não apenas protegerem os dados dos alunos, mas também ensinarem o uso ético e responsável das ferramentas de IA. "É fundamental promover o desenvolvimento de habilidades digitais críticas e conscientes entre os estudantes", concluiu.

Ainda na temática de IA na Educação, a superintendente de Educação e Inovação Núcleo de Gestão do Porto Digital, Marcela Valença, falou sobre a complexidade de equilibrar a crescente demanda de uso de tecnologias emergentes e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais de crianças e adolescentes no ambiente escolar.

Marcela participou do painel “Egressos da Educação Básica: Estão prontos para os Desafios da IA e IE?”, com a analista de soluções educacionais CESAR School, Rosana de Moura Costa, e a estudante da Residência Tecnológica Porto Digital, Evellyn Carolyne Gomes da Silva.

"Estamos vivendo em um mundo cada vez mais complexo, com a inteligência artificial crescendo exponencialmente, e ainda não sabemos exatamente como integrar isso na educação", afirmou Marcela. Ela avalia que o ponto de partida deve ser colocar o aluno na centralidade do processo educativo. "Precisamos ouvir os estudantes, entender quais plataformas eles estão usando e pesquisar as formas de interação para que possamos integrar o sujeito individual e coletivo, permitindo que eles se construam juntos", disse a superintendente.

Ela ressaltou a importância de ensinar não apenas o uso de ferramentas tecnológicas, mas também habilidades essenciais para o trabalho em equipe, a resiliência e a preparação para o mercado de trabalho. "É fundamental que os alunos aprendam a lidar com o 'não' e a trabalhar em equipes multidisciplinares", acrescentou.

Marcela alertou para a necessidade urgente de uma revolução na educação. "Se não agirmos agora - e já estamos atrasados - vamos perder. Somos um país periférico no mundo, e precisamos olhar para a educação e para a inteligência artificial como ferramentas para melhorar nossos estudantes", destacou.

A superintendente de Educação e Inovação Núcleo de Gestão do Porto Digital apontou ainda a importância de ensinar os alunos a dominarem a inteligência artificial enquanto equilibram aspectos mentais, comportamentais e sociais. "Estamos nos distanciando cada vez mais dessas áreas, e é crucial encontrarmos formas de integrar tudo isso em plataformas que promovam o aprendizado coletivo. Se não ensinarmos nossos alunos ‘a aprender a aprender’, estaremos fadados ao fracasso", afirmou. A Jornada reuniu ainda os principais players educacionais para apresentar suas soluções, produtos e serviços para o público.

Educação para a diversidade: espaço para todos em um mundo inclusivo

Outra temática de destaque do primeiro dia da Jornada Bett Nordeste foi a Educação para a inclusão e diversidade. Em meio a avanços e desafios, as escolas estão cada vez mais comprometidas a promover a inclusão e a diversidade em seus espaços. No entanto, especialistas apontam que, apesar dos progressos, ainda há um longo caminho a percorrer para que a diversidade seja plenamente integrada à prática pedagógica.

"As escolas estão, de fato, mais abertas a promover a inclusão, tanto em termos de políticas institucionais quanto na prática pedagógica", afirmou o professor Doug Alvoroçado, que atua na rede pública no Rio de Janeiro. Ele destaca o crescente reconhecimento da importância de criar ambientes escolares que acolham todos os alunos, independentemente de suas características físicas, intelectuais, culturais ou sociais.

Alvoroçado ressalta, porém, que o processo de inclusão ainda enfrenta muitos desafios. "Apesar das boas intenções e das políticas educacionais inclusivas, muitas escolas ainda esbarram em dificuldades para implementar essas práticas de maneira eficaz", observou. Entre os principais obstáculos, ele mencionou a falta de formação adequada para professores, a escassez de recursos didáticos acessíveis e a resistência cultural presente em algumas comunidades escolares.

A formação dos professores também é apontada pela diretora do Instituto Domlexia, Nadine Heisler, como um dos pontos principais para avançar nesta temática. “A formação de professores para a prática inclusiva não se trata apenas de ensinar técnicas ou metodologias específicas. Não estamos falando de uma receita, mas de uma mudança de olhar", afirmou. Nadine enfatiza que os educadores precisam perceber que todos os alunos, sejam da educação especial ou do ensino regular, possuem diferenças de aprendizagem e questões próprias. "É preciso ter um olhar atento e afetuoso, com carinho. Porque é nesse olhar e percepção de cada um dos alunos que conseguimos, de fato, gerar uma inclusão verdadeira", explicou.

Para ela, a formação voltada à inclusão e diversidade não deve ser pontual, mas contínua e orientada para a prática. "Os professores precisam repensar suas práticas e refletir durante essas formações, para que possam agir de maneira diferente no dia a dia da sala de aula", disse a diretora do Instituto Domlexia. Ela conclui que o foco deve estar em como essas formações se traduzem na prática diária, permitindo que os educadores aprendam a incluir todos os alunos de forma efetiva.

Alvoroçado enfatiza que a inclusão vai além da simples presença física de alunos com necessidades especiais ou de diferentes origens na sala de aula. "Ela envolve garantir que todos tenham acesso igualitário à aprendizagem, o que requer adaptações curriculares, metodologias diversificadas e uma cultura escolar que valorize as diferenças e promova a equidade", explicou.

Embora reconheça que o cenário atual seja mais positivo em comparação a décadas passadas, com maior conscientização e esforços contínuos para melhorar a inclusão, o professor alerta que "o caminho ainda é longo". Ele afirma que as escolas precisam continuar evoluindo e se comprometendo com ações contínuas para garantir que a educação seja verdadeiramente inclusiva e acessível a todos. "A mudança é visível e real, mas ainda exige comprometimento e ações contínuas de todos os atores envolvidos no processo educacional", finalizou.

O professor Doug, que é também especialista em Atendimento Educacional Especializado (AEE) e fundador da empresa Olhares Educação Inclusiva, e a Nadine participaram juntos do painel “Educação para a Diversidade: Espaço para Todos em um Mundo Inclusivo”, que contou ainda com o analista do Sebrae PE, Danilo Lopez Martinez.

Visita técnica

Nesta 3ª edição da Jornada Bett Nordeste, uma nova iniciativa são as visitas técnicas guiadas às instituições de ensino de Recife para os congressistas do evento. Na quarta-feira (4), a visita foi à escola Vila Aprendiz, que é dedicada à educação infantil.

"A visita técnica é uma ótima oportunidade de trocas. Pudemos mostrar nossos projetos acontecendo na prática, e ainda constatar que, assim como fomos inspirados ao longo desses 15 anos, também podemos ser inspiração para transformar a escola que dá respostas na escola que promove uma educação investigadora", comentou a diretora da Escola Vila Aprendiz, Paula Carneiro Leão.

Na escola, os participantes puderam conhecer as instalações e a abordagem pedagógica, com destaque para as salas de aula organizadas para cada série com a intenção de facilitar a aprendizagem ativa e afetiva. A próxima visita técnica programada é para o Porto Digital, um dos principais parques tecnológicos e ambientes de inovação do Brasil.

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