Mindfulness na escola: convivência consciente e atenção plena como base para relações saudáveis
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Conflitos, divergências e visões diferentes fazem parte do cotidiano escolar. Mas, para a fundadora da MindKids, Daniela Degani, referência na implementação de mindfulness em escolas brasileiras, o que define uma convivência saudável não é a ausência de conflitos, mas sim a capacidade de manter o respeito e a escuta ativa, mesmo diante das diferenças. “Relações saudáveis não pressupõem concordância ou ausência de conflito. Elas pressupõem respeito, escuta e disposição para trocar pontos de vista de forma construtiva”, afirma.
Daniela ressalta que, muitas vezes, a idealização de um ambiente escolar harmônico se choca com a realidade. “Esse cenário onde todo mundo concorda e se admira o tempo todo simplesmente não existe. De forma prática, essa realidade seria Nárnia”, brinca. Para ela, o ponto de partida é cultivar a motivação genuína para construir essas relações, mesmo em meio às divergências. “Não é preciso gostar da pessoa para respeitá-la. É possível criar um território de diálogo, onde as partes se ouvem e, ainda que sigam discordando, preservam o respeito pelo outro”, diz.
Segundo Daniela, um dos obstáculos para esse processo é a forma como, no dia a dia, as interações acontecem no “piloto automático”. “Muitas vezes, não escutamos para entender, mas para responder. Enquanto o outro fala, já estamos formulando nossa réplica. Isso impede uma escuta verdadeira”, explica.
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Mindfulness
A prática de mindfulness, prática milenar de atenção plena, é uma ferramenta para melhorar a qualidade das relações e o bem-estar no ambiente escolar. Hoje, a ciência tem mensurado seus benefícios por meio de estudos clínicos, científicos e quantitativos. De acordo com Daniela, as evidências apontam que praticantes regulares desenvolvem maior capacidade de regular as próprias emoções, melhoram a qualidade do sono e potencializam a atenção.
A neurociência também vem elucidando como o processo ocorre: exames de ressonância magnética mostram que regiões como o córtex pré-frontal, associado à regulação emocional e ao controle de impulsos, são diretamente estimuladas.
“O que antes era visto como algo místico, hoje é explicado pelo conceito de neuroplasticidade (a capacidade do cérebro de se desenvolver ao longo da vida de acordo com os estímulos recebidos). O mindfulness nada mais é do que dar ao cérebro estímulos que fortalecem áreas essenciais para o equilíbrio emocional e a atenção, que são competências indispensáveis para a aprendizagem e para relações mais saudáveis”, completa.
Na rotina escolar, a aplicação do mindfulness não precisa ser mais uma sobrecarga para os professores. Pelo contrário, pode ajudar a ganhar tempo. Daniela cita pesquisas que indicam que até 20% do tempo de aula é perdido tentando conquistar a atenção dos alunos.
“Ao invés de desperdiçar esse tempo, podemos usá-lo para treinar habilidades para a vida”, diz. Em escolas que adotam o programa, as práticas acontecem diariamente com um currículo de atividades variadas ao longo do ano. Entre as competências trabalhadas estão: prestar atenção, estar presente, estimular empatia e compaixão, regular emoções e lidar melhor com os pensamentos.
Para a fundadora da MindKids, o maior desafio está em conciliar as múltiplas demandas da escola — que vão do cumprimento da BNCC às práticas de inclusão, passando pela saúde mental dos educadores, segurança física dos alunos e exigências legais — sem perder de vista o essencial. “Sem calma e atenção, nada do resto funciona. É como tentar construir uma casa sem fundação. O professor precisa estar inteiro mentalmente para que a relação com o aluno aconteça e a aprendizagem floresça”, afirma.
Jornada Bett Nordeste 2025
Daniela Degani é uma das palestrantes convidadas da Jornada Bett Nordeste 2025, que será realizada nos dias 27 e 28 de agosto, no Recife Expo Center. Ela participará do painel “Convivência Consciente: Construindo uma escola de relações saudáveis”, ao lado da supervisora do Serviço Especializado em Abordagem Social de Recife e professora de linguagem, Rossana Fonseca, com moderação da jornalista Mirella Araújo.
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