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02 fev 2022

O desafio de retomar as aulas com a ômicron o que esperar, o que fazer?

Autor convidado: Fernando Barão
O desafio de retomar as aulas com a ômicron o que esperar, o que fazer?


 

Na virada de ano letivo de 2020 para 2021, há exatamente um ano, as escolas se prepararam para um cenário de volta dos alunos ao presencial, com a previsão de redução de casos e mortes pela Covid e com a vacinação em massa da população.

O tombo, na ocasião, foi gigantesco, a segunda onda da Covid chegou com muita força e a vacinação teve um início atrasado e moroso. Resultado: os alunos não puderam voltar ao presencial conforme estava previsto, as escolas ainda amargaram um semestre de muitas intercorrências provenientes da predominância do ensino a distância.

No segundo semestre de 2021 a situação apresentou uma melhora bastante sensível; as aulas passaram a ser presenciais, salvo exceções de casos de ensino remoto – o contrário, portanto, da realidade anterior, isso propiciou um relevante ganho de alunos nas escolas notadamente na Educação Infantil com a recuperação de parte do volume perdido desde o início da pandemia, permitiu também a retomada das atividades extras ainda que com intensidade menor do que até 2019. Por fim, levou a uma leve redução no nível de descontos oferecidos pelas escolas – movimento ainda tímido perto do enorme estrago causado pela pandemia nesse quesito.

Agora, na virada de 2021 para 2022, as escolas se prepararam para o prosseguimento dessas melhorias no ambiente escolar. Com a vacinação bastante avançada e com o número de casos e mortes em níveis bem baixos perante a série histórica, parecia que o “velho normal” ia, aos poucos, voltar a se instalar nas escolas. Mas aí...

Bem, aí veio a Ômicron.

Começou na África, depois atingiu a Europa e os Estados Unidos, por um momento parecia que ela poderia não chegar ao Brasil. Mas chegou.

O efeito imediato por aqui foi similar ao observado em outros países: crescimento vertiginoso, quase vertical, no número de casos, ao mesmo tempo, letalidade bem mais baixa, em especial no que se refere aos cidadãos vacinados. No entanto, a agressividade do contágio é tão grande que, mesmo com menos gravidade em sua ação o vírus voltou a representar um risco para o sistema de saúde. No final de janeiro a média móvel de mortes chegou a 540 – mesmo nível do final de setembro de 2021, essa já seria uma má notícia, mas existe uma ainda pior: com a fase de crescimento vertical que está sendo experimentada atualmente do Brasil, esse número deverá passar dos 1.000 por dia em algumas semanas. Um pesadelo que nenhum de nós queria ter novamente.

É claro que isso representa um risco para a operação das escolas, uma sociedade com medo é uma sociedade que espera mais para decidir com relação à matrícula de filhos pequenos, uma sociedade com medo apresenta mais ressalvas para a contratação de serviços como período Integral e atividades esportivas extras. O “velho normal”, portanto, vai ter de esperar ainda mais um pouco.

A aceleração da Ômicron bem no momento da volta às aulas vai gerar, portanto, algumas dores de cabeça no que se refere à realização da demanda que as escolas estavam prevendo para o começo do ano.  Do ponto de vista do planejamento das operações, convém entrar mais no detalhe do que se deve esperar para os próximos dois meses, de modo que cada escola possa traçar seu melhor plano de ataque à nova realidade.

A notícia ruim, exposta nos parágrafos acima, é que a situação vai piorar bastante antes de começar a melhorar. Por isso, as escolas passarão por uma eclosão forte de casos em alunos e em sua equipe (professores e funcionários). É para essa eclosão que as escolas precisam se preparar. Não existe como se preparar para todos os cenários possíveis, pois a distribuição do vírus entre as pessoas envolvidas na comunidade escolar terá uma aleatoriedade de tempo e de espaço. Mas é possível traçar planos para as circunstâncias mais prováveis.

Do lado dos alunos, uma boa notícia: a Ômicron chega em um momento em que a sociedade já amadureceu bastante o conceito de que as aulas presenciais têm um valor do qual não se pode abrir mão. Assim, a posição firme de manutenção dessas aulas nesse formato deve ser adotada por todas as escolas. Classes em que aparecerem poucos casos de Covid não devem ser colocadas em ensino a distância. Ao mesmo tempo, o período de quarentena dos alunos infectados deve ser bem menor do que o vigente até o ano passado, seguindo as novas orientações dos órgãos públicos. Com essa combinação, o advento da Ômicron poderá ser gerido sem grandes estragos na gestão das aulas presenciais.

Do lado da equipe, porém, o buraco tenderá a ser mais embaixo. É aqui que deverá residir o grande desafio de gestão das escolas, e ele será eminentemente logístico. Haverá a concomitância de pedidos de afastamento do presencial, provavelmente com uma frequência maior do que já foi observado nas ondas anteriores. Mesmo com afastamentos mais curtos agora, o trabalho de “esticar o cobertor” da equipe para manter as aulas presenciais em curso e o funcionamento do back-office em um nível aceitável será extenuante. Teremos um quebra-cabeças a ser montado com um número reduzido de peças. Como fazer isso?

O grande perigo está na área pedagógica, notadamente nos professores. Vale destacar o seguinte: o diagnóstico de Covid deve afastar imediatamente do trabalho presencial, mas não necessariamente do trabalho remoto. Essa obrigação só existe se houver um atestado médico específico de afastamento de todas as atividades. Assim, professores com Covid sem atestado de afastamento poderão seguir trabalhando remotamente. Por precaução, a escola deve orientar o profissional a consultar o médico e verificar se é o caso de ficar em repouso.

Abre-se assim um leque de alternativas para as escolas. No caso de professores mensalistas, elas podem pagar um adicional de função provisório para os auxiliares de classe, de modo que eles assumam por alguns dias a posição do professor, que poderá auxiliar através de atuação remota. Ou ainda estender por esse tempo a carga de um professor de meio período. Caso nada disso não seja possível, no Fundamental I as classes poderão ser chamadas à escola para assistir a aula virtual ministrada pelo professor. Já na Educação Infantil salas podem ser fundidas por um curto período. O mais importante é que a bandeira da presença física dos alunos na escola deve mantida como prioridade.

Já no caso dos professores aulistas, todos os alunos devem continuar presencialmente na escola, mas as aulas ministradas por professores com Covid e sem atestado médico de afastamento devem ser dadas remotamente. Aqui também a prioridade deverá ser manter os alunos fisicamente na escola.

A boa notícia (afinal): a observação dos outros países permite prever que em pouco tempo o número de casos vai começar a cair – e, quando isso acontecer, será de forma tão intensa quanto foi o crescimento. Quando isso vai acontecer? Ninguém pode cravar uma resposta, mas o período entre o início do crescimento e o início da queda tem sido de 1 mês a 2 meses e meio. Houve um apagão de dados no Brasil, de modo que os dados oficiais só começaram a mostrar a ação da Ômicron nos gráficos em 25 de dezembro de 2021. Essa ação deve ter começado pelo menos 10 dias antes, por volta de 15 de dezembro. Sendo assim, uma previsão de queda de casos diários a partir de 15 de fevereiro é bem razoável. Ou seja, esse “inferno logístico” por que as escolas vão passar deve durar ainda até meados de março. O caminho será espinhoso, mas não tão longo. A partir de então, se não tivermos mais variantes no curto prazo, a experiência do “velho normal” poderá voltar a ser sentida.

 

 

Saiba mais sobre o autor:

Formado em Economia pela Faculdade de Economia e Administração da USP e MBA-USP em Economia de Empresas, Barão foi diretor do Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo) e dirigiu escolas particulares por nove anos. Faz parte do Conselho de várias instituições de ensino. Atua como consultor de empresas desde 1994.

 

 

 

 

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