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19 set 2022

País precisa gastar mais com educação no pós pandemia, diz Cláudia Costin

Por Marcos de Moura e Souza
País precisa gastar mais com educação no pós pandemia, diz Cláudia Costin
Especialista falou ao Valor sobre as quedas de aprendizagem em todas as etapas e em todas os anos avaliados pelo último Ideb.


 

O Brasil precisará expandir os gastos com educação para recuperar as perdas de aprendizagem que os alunos, principalmente os da educação pública, tiveram durante a pandemia. Essa é a avaliação que a diretora do centro de políticas educacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-diretora global de Educação do Banco Mundial, Cláudia Costin, faz ao olhar para os novos dados sobre educação básica divulgados pelo Ministério da Educação.

Na sexta-feira, o ministério divulgou a nova edição do Índice de Desenvolvimento da Educação Brasileira (Ideb). Os dados são referentes a 2021 e mostram uma queda na  proficiência média dos estudantes brasileiros em todas as áreas e em todos os anos pesquisados. Os resultados são uma cicatriz do período mais agudo da pandemia, quando as escolas ficaram fechadas durante boa tarde dos anos letivos de 2020 e 2021. Como recuperar as perdas na aprendizagem nesses anos é a pergunta que escolas, gestores públicos e acadêmicos tentam responder. 
“O Brasil é a décima segunda economia do mundo em termos de PIB e não dá para dizer que é impossível recuperar o aprendizagem”, disse Cláudia ao Valor. Essa recuperação passa inevitavelmente por mais gastos, afirmou. “Existe um mito que a gente precisa desfazer, de que o Brasil já gasta muito em educação e que basta uma gestão melhor da alocação desses recursos”, disse ela. “Não é assim. Nós precisamos das duas coisas. Em educação, o caro é pagar melhor os professores. E nós precisamos de professores de qualidade, bem remunerados, de preferência em dedicação exclusiva em uma única escola. E é preciso tornar a carreira mais atrativa. Isso torna a educação básica dispendiosa.”
É verdade, disse Claudia, que o Brasil gasta mais hoje com educação do que gastam alguns países europeus. Mas é importante lembrar, acrescentou ela, que o salário do professor no Brasil é menor do que o salário dos professores dos paises que integram a OCDE. E há ainda outra característica: “Nós estamos ainda numa etapa em que o número de crianças e de jovens é importante. Por isso, ainda levará um tempo de gastos em educação que permitam que o Brasil tenha uma educação básica que atinja o patamar que desses países, porque eles estão em outro momento da transição demográfica.”
Cláudia está entre as que defendem que a educação não deveria ser limitada pela contenção de gastos públicos. “Educação não deveria estar dentro do teto de gastos”, afirmou. “Eu sei que isso soa um lugar comum, mas é preciso que isso seja feito porque mais investimento em educação, se bem feito, melhora outras dimensões, até mesmo a da saúde.”
Os dados divulgados na sexta-feira mostraram uma perda no nível de aprendizagem em língua portuguesa de 24,5 pontos entre os alunos que estavam no segundo ano do ensino fundamental em 2021 em relação ao apurado na edição anterior do Ideb, de 2019. Essas crianças estavam em processo de alfabetização e tiveram a perda mais significativa. Em matemática, esses alunos tiveram queda de 9 pontos na proficiência média.
Os que estavam no quinto ano em 2021 tiveram uma perda de proficiência de 7 pontos em língua portuguesa e de 11 pontos em matemática. No nono ano, o último do ensino fundamental, as perdas foram um pouco menores. Em língua portuguesa a queda na proficiência foi de 2 pontos e em matemática, de 7 pontos. E entre os estudantes do ensino médio, a proficiência média em língua portuguesa teve queda de 3 pontos em relação a 2019 e 7 pontos em matemática.
Para Cláudia, uma das medidas primordiais para que o Brasil retome e melhore o nível de aprendizagem de seus alunos é a expansão das escolas em período integral (ver mais sobre tempo integral em Escola de tempo integral se sai melhor na avaliação). “O Brasil continua tendo dois turnos, de manhã e de tarde, e as crianças ficam quatro horas e meia na escola. Na maior parte dos países com bons sistemas educacionais, a criança fica sete horas na escola. Não dá para ter um ensino significativo, que permita o desenvolvimento da capacidade de reflexão desses jovem dando apenas aulas expositivas rápidas, de 13 matérias, uma atrás da outra.”
Diversos Estados, sobretudo no Nordeste, vêm avançando na adoção do período integral na rede pública. Essa é uma pauta que, na visão de Cláudia, deve ser uma prioridade para quem estiver no Planalto a partir de janeiro.
Olhando para os resultados captados pelo Ideb de 2021 e para outros dados da educação no Brasil, Claudia avalia que a força de trabalho que será dominante no Brasil daqui a uma ou duas décadas - formada pelas gerações que estão escola atualmente - corre o risco de ser mais produtiva e inovadora. “A não ser que a gente dê uma virada com o sentido de urgência”, disse. “Na educação temos de priorizar o desenvolvimento de competências ou habilidades mais sofisticadas porque a inteligência artificial vai substituir postos de trabalho, inclusive postos de trabalho que demandam competências intelectuais. Então, se continuarmos tendo fragilidade até no desenvolvimento de competências cognitivas básicas não teremos capital humano [para essa nova realidade]”, alertou ela.

 

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