Para além de EAD: tecnologia e o Novo Ensino Médio
Só faz sentido rediscutir a proposta do Novo Ensino Médio (NEM) se formos capazes de analisar criticamente os elementos que precisam ser aprofundados e aperfeiçoados para garantir a melhor educação para os jovens brasileiros.
Por isso, é preocupante que o foco da discussão sobre tecnologia no NEM seja restrito ao percentual de carga horária que pode ser oferecido por educação a distância (EAD), de 20% para o ensino médio regular e 30% para o noturno.
A essência da reforma do ensino médio é a flexibilização de conteúdos e itinerários formativos para atender à reivindicação dos jovens por uma educação relevante para sua vida pessoal, social e profissional; e pelas novas demandas da sociedade.
O conceito de flexibilização da reforma deve ser estendido ao processo de aprendizagem. A tecnologia permite oferecer experiências de aprendizagem em diferentes formatos, tempos e locais, permitindo aos jovens um protagonismo maior no seu processo de aprendizagem. E não implica necessariamente em diminuição de interação social e colaboração. Projetos colaborativos de resolução de problemas e trocas de experiências entre estudantes de diferentes realidades e níveis de conhecimento podem ser viabilizados por meio da tecnologia.
A revisão da proposta do novo ensino médio deveria estar centrada na busca por uma nova pedagogia na qual a tecnologia seja viabilizadora de processos de aprendizagem individuais e coletivos. E garantir que as escolas terão condições mínimas de acesso à conectividade e equipamentos que permitirão aos professores e estudantes integrar momentos de aprendizagem digital aos momentos de interação individual e grupal.
A aprendizagem por meio da tecnologia não significa necessariamente educação a distância. Estudantes em uma mesma sala de aula, ou em qualquer outro ambiente da escola, podem estar engajados em atividades educativas online de forma autônoma ou mediada por professores.
A pergunta que deve guiar a válida reflexão sobre o novo ensino médio é se a proposta realmente contempla uma forma de ensinar e aprender efetiva, eficiente e relevante para os jovens e para a sociedade. Responder à essa pergunta sem considerar o potencial da tecnologia é negar as conquistas civilizatórias do nosso tempo.
Sobre a autora:
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Lucia Dellagnelo
Doutora em Educação e Desenvolvimento Humano pela Universidade de Harvard
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Bett Brasil.
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- Metodologias de Ensino