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18 set 2020

Para ampliar seus poderes, o professor precisa de tecnologia

Autora Convidada: Betina von Staa
Para ampliar seus poderes, o professor precisa de tecnologia


 

Já faz tempo que a demanda por aprendizagem personalizada é imensa no Brasil e no mundo. Em qualquer sala de aula, há alunos que têm mais interesse, outros que têm dificuldade de aprendizagem de determinado tópico, uns que se concentram mais, outros mais agitados, que precisam de movimento, interação frequente com os colegas, e assim por diante.

O resultado dessa heterogeneidade muito natural em estruturas tradicionais com um professor por turma é que o professor se concentra nos alunos de desempenho médio, alguns ficam para trás e outros que poderiam ir adiante, não vão. Vale ressaltar, também, que não adianta responsabilizar o professor para agir diferente, visto que a tarefa de atender dezenas de alunos (pode ser várias dezenas!) de maneira personalizada, com todos juntos no mesmo espaço não é simples. Aliás, é praticamente impossível.

Como identificar, em tempo real, os níveis de cada aluno? Como saber os interesses pessoais de cada um? Como se organizar para sempre trazer conteúdos diferenciados para a sala de aula, em papel? Como ajudar uns sem dar atenção para outros e ainda manter alguma tranquilidade na sala de aula? É claro que existem estratégias pedagógicas para tanto, como, por exemplo, a rotação de estações, em que cada grupo de alunos se ocupa de algo diferente em uma estação e vai circulando pela sala de aula: em uma estação o professor pode dar atendimento individualizado ou em pequenos grupos.

Quanto planejamento exige uma estratégia dessas? Professores dispõem desse tempo? Da forma como são distribuídas as cargas horárias em escolas públicas e particulares no Brasil de hoje, esse tempo praticamente não existe, e essas estratégias pedagógicas mais complexas, exigem muita formação de professores, que também acaba não sendo ofertada para todos na intensidade necessária.

Com a pandemia, a diferença de aprendizagem entre os alunos de uma mesma turma será ainda maior, com o agravante de terem passado quase um ano sem aulas ou de terem aprendido pouco, e, se quisermos que atinjam níveis pré-pandemia ou até mais altos no final da sua escolaridade, todos os alunos precisarão acelerar a sua aprendizagem. Desafio nada fácil.

Se os professores tiverem que dar conta disso sozinhos, poucos irão conseguir. Eles precisam ampliar os seus poderes, e só a tecnologia permite isso.

Como é que se ampliam os poderes de um professor com tecnologia? Existem muitas possibilidades: os professores podem contar com testes diagnósticos digitais, com resposta automática, que avaliam rapidamente em que nível cada aluno está, testes que podem ser criados com facilidade, com poucos cliques. Esses testes podem ser breves e aplicados com frequência, sem muita formalidade, só para acompanhar a aprendizagem dos alunos.

Além disso, a tecnologia permite a personalização da aprendizagem. Ela torna viável disponibilizar de conteúdos diferenciados para cada aluno. Eles, por sua vez, podem escolher em uma gama de conteúdos de formatos diferentes e estudar como preferirem. Com tecnologias mais avançadas, é possível até disponibilidade de conteúdos diferentes para diferentes alunos, de acordo com o seu perfil, nível de aprendizagem ou objetivo que se pretende atingir.

Com tecnologia, o professor consegue gamificar as suas aulas, ajudando os alunos a se engajarem com os estudos como se estivessem em um jogo e dar prêmios virtuais, asas ou poderes e evitar a avaliação puramente por notas, que pode desmotivar tantos alunos!

Com tecnologia, o professor consegue acompanhar a sua turma por meio de gráficos de desempenho, de participação, de entrega de trabalho, de domínio de habilidades e competências, de avanço em uma plataforma gamificada. Essas informações podem servir de base para que tome diferentes decisões sobre qual tipo de atendimento cada aluno precisa ou qual tipo de abordagem os alunos preferem, ou o que já foi conquistado ou o que ainda se pode alcançar no nível individual, da turma ou da escola.

Com acesso a recursos adaptativos, o professor consegue contar com a tecnologia para identificar o momento do aluno, enviar mensagens de estímulo automaticamente, enviar conteúdos e novos testes para acompanhar o desenvolvimento de todos em tempo real, podendo interferir no processo de aprendizagem de cada aluno a qualquer momento.

Ferramentas poderosas como essas podem substituir o professor? Há muita gente que acredita nisso. No entanto, a verdade é que, se os alunos ficarem aprendendo individualmente, no seu ritmo, sem o apoio de um professor, terão uma experiência de aprendizagem bastante limitada, e não alcançarão os resultados desejados de aceleração de aprendizagem. O objetivo dessas ferramentas é empoderar o professor para que ele possa promover mais aprendizagem em menos tempo e com uma riqueza de recursos.

Estando liberado das tarefas de avaliar constantemente, de elaborar questões, de criar conteúdo, de ficar atento a dezenas de alunos o tempo todo e de uma só vez, acelerando os diagnósticos referentes à sua turma e seus alunos, o professor consegue ter tempo para propor atividades coletivas das mais variadas, e, quando está dando atenção a uns alunos, não deixar que os outros fiquem desocupados.

E assim, usando a tecnologia para entender mais os alunos, para lhes oferecer mais propostas, para variar mais as atividades, para checar com mais frequência o quanto estão avançando, o professor consegue dar apoio, estimular e acompanhar cada aluno, no seu ritmo, enfocando a aceleração da aprendizagem. Também consegue engajar a turma em projetos coletivos.

Todas essas tecnologias já existem. Vale a pena os gestores pesquisarem o que têm à disposição por parte dos seus fornecedores de materiais didáticos, dos fornecedores de tecnologia educacional e da internet livre. Afinal, se não empoderarem seus professores, a responsabilidade de atender a todas as demandas extras no retorno às aulas recairá sobre os mesmos professores que já tinham dificuldades para realizar educação personalizada antes da pandemia.

Para missões muito difíceis como as que temos pela frente é essencial dar instrumentos para ampliar os poderes dos professores.

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