Para José Moran e Thamila Zaher, o futuro da educação começa agora
Professor e pesquisador da ECA-USP, hoje aposentado, José Moran é um conferencista reconhecido e mentor de projetos de transformação na Educação desde o século passado. Palestrante no painel “Perspectivas para o futuro da educação” no Congresso Bett Brasil ao lado de Thamila Zaher, diretora-executiva do Grupo SEB, o professor Moran fez uma espécie de ‘mea culpa’ ao abordar seu ponto de vista sobre o tema.
Autor do livro de cabeceira de dez entre dez professores — o educador é coautor de “Metodologias Ativas para uma Educação Inovadora”, com Lilian Bacich –, Moran questionou logo no início de sua fala: onde erramos no futuro visto do passado? E recordou que, ainda na USP, nos anos 1980, se dizia que a mudança na educação estava muito próxima, e que nos anos 2000 seria tudo diferente.
“Nesta minha etapa de alta maturidade, enquanto meu futuro fica mais curto, pensar o futuro da escola neste momento de um pouco de desânimo, mas ao mesmo tempo, uma época em que estamos construindo um pensamento diferente, me faz concluir que temos que pensar no futuro como algo melhor do que o presente. A escola vai ser mais interessante e a tecnologia nos trará muito mais possibilidades. Mas ao lado da utopia sabemos que há uma realidade pé no chão, e precisamos também ver esse descompasso entre sonho e realidade”, ponderou Moran.
O professor Moran continuou chamando a atenção para o fato de que as perspectivas para o futuro da educação são fabulosas, e frisou que é preciso, no momento, superar o desencontro entre expectativas e realidade. “A partir de 2023, vamos experimentar mais, arriscar mais, para construirmos uma escola mais interessante e empolgante. Sou otimista, mas também realista. E também acredito que o que faz a escola é o encontro das pessoas que querem aprender. E é preciso querer aprender sempre.”
Tamila Zaher, que admitiu ter bebido na fonte das ideias do professor Moran, também ressaltou que o local escola nunca foi tão necessário como neste momento. A empresária, no entanto, explicou que é urgente fazer com que o seu modelo de atuação mude. “É difícil se movimentar sozinho, atualmente, em qualquer setor, inclusive na educação. Por isso será cada vez mais comum uma educação mais global, bilíngue, multicultural e inserida em ecossistemas. Mas a grande descoberta, hoje, é sobre o novo essencial, que eu chamo de descoberta do passado: o processo pedagógico voltado para o desenvolvimento das soft skills.”
Thamila também tocou em outro ponto nevrálgico dessa mudança, que é o novo papel do professor, que precisa ser, além de cocriador dos processos de aprendizagem, um curador e pesquisador. “A educação do futuro também deverá ser mais assertiva, data driven, mas muito se fala sobre educação baseada em dados e pouco realmente acontece sobre isso. A digitalização também precisa se dar num conceito novo. Mas como fazer isso no dia a dia? A resposta é: o educador de hoje precisa ter um pé no futuro e o outro no passado”, provocou, destacando que cada vez mais o aluno estará na escola não para reter conteúdo, mas para vivenciar uma experiência de aprendizagem.