Qual o impacto das edtechs na educação brasileira?
É complexo especificar a principal função de uma EdTech, empresa de tecnologia educacional, cujo termo é uma abreviação de EDucational TECHnology (em português, tecnologia educacional). Em primeiro plano, sem dúvida, a função essencial é desenvolver soluções e tecnologias que auxiliem no processo de ensino e aprendizagem e contribuir para a melhoria da qualidade da educação.
Muito além de desenvolverem softwares, aplicativos educacionais, plataformas e oferecer análise de dados e inteligência artificial, por exemplo, as edtechs são responsáveis pelo conjunto da obra educacional à qual são inerentes, na qual os objetivos envolvem escolas, universidades, estudantes, pais, professores, comunidade e demais entes do espectro da educação.
Pode-se dizer que há um divisor de águas na atuação das edtechs, bem como seu impacto. Sim, este divisor foi a pandemia de COVID-19 quando, apesar dos avanços observados ao longo das últimas décadas, foi preciso “trocar o pneu do carro já em movimento”.
Foi justamente no período da pandemia que a Layers Education, uma das principais do segmento no Brasil, debruçou-se e realizou um levantamento que apontou que a tecnologia na educação conquistou um avanço de 10 anos em meses. A partir do passado e de olho no futuro, Danilo Yoneshige, CEO da Layers Education, acredita que o próximo desafio é abrir as portas para que mais empresas inovadoras possam ingressar no mercado educacional e trazer ainda mais soluções às instituições.
“Fazemos isso por meio dos edtech hunters, que são os caçadores de edtechs. Profissionais capacitados que se dedicam a entender as principais 'dores' do setor e buscar startups, seus produtos e serviços disponíveis. Desta forma, as escolas conseguem conhecer as soluções mais assertivas para as próprias realidades”, afirma Yoneshige.
O impacto das edtechs na educação se traduz também pelos números apresentados pelo setor nos últimos anos. Cerca de 82% das edtechs foram fundadas a partir de 2016. O crescimento fica ainda mais visível com o passar dos anos, dada a maturidade e a expansão das edtechs, sobretudo entre 2016 e 2020, quando foi observado um aumento de 60%. Apesar das dificuldades, e contabilizando os anos de pandemia, o setor teve 40% de crescimento na quantidade de edtechs no universo de startups, de 2020 a 2022, conforme dados apresentados no relatório da ABStartups.
“Durante a pandemia, as edtechs se tornaram ainda mais importantes para a educação, permitindo que escolas e instituições de ensino mantivessem suas atividades mesmo em meio às restrições de distanciamento social e, na volta às aulas presenciais, ajudando a organizar fluxos de alunos, reduzir aglomerações e até fazer o controle de sintomas e casos de COVID-19 de estudantes e equipes”, avalia Leo Gmeiner, cofundador e CEO da School Guardian.
Caminho a ser construído
Por outro lado, ampliar a atuação das edtechs e o seu impacto na educação brasileira ainda é um caminho a ser construído. Com base nos dados de 2022, a maioria das edtechs (55%) se concentra no Sudeste do país, sendo que 38% estão no estado de São Paulo. A região Nordeste tem 17%, o Sul, 19%, o Centro-Oeste, 5%, e a região Norte, 4%. Por segmento de atuação, 40% atendem o Ensino Básico, 23% o Ensino Superior, 19% o Ensino Infantil, 16% Idiomas e 38% a Educação Corporativa.
Esse panorama nacional também demonstra a importância e o impacto das edtechs, especialmente, em áreas remotas ou com baixo acesso à educação. Para Tony dos Santos, secretário do Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de SP) e CEO da Diversidade Editora, uma das principais contribuições das edtechs é a ampliação do acesso à educação por meio de plataformas online, que permitem que alunos de diferentes regiões do país tenham acesso a conteúdos educacionais de alta qualidade a um custo mais acessível.
“As edtechs têm um papel fundamental na transformação da educação brasileira. Elas ajudam a democratizar o acesso à educação de qualidade, personalizar o ensino, superar barreiras geográficas e econômicas, melhorar o engajamento dos alunos e mudar a forma como os professores ensinam e os alunos aprendem, criando uma educação mais eficaz e acessível para todos”, comenta Santos.
Outro ponto de impacto e relevância está na própria adoção das tecnologias nas escolas, universidades e outros segmentos educacionais. Os cinco primeiros itens de produtos e soluções embarcados com tecnologias educacionais pelas edtechs na educação brasileira são: Plataforma Digital (69%), Gamificação (54%), E-learning (49%), Computação em nuvem (38%) e Inteligência Artificial (35%).
Neste universo tecnológico, além de ser protagonista em um mundo cada vez mais conectado e inserido na educação, cabe às edtechs uma função e responsabilidade que dizem respeito à sociedade e seu pacto civilizatório por meio de leis. Caso a ser observado no que tange os cuidados com o tempo de exposição de crianças e adolescentes aos meios digitais, bem como a proteção dos dados, adequação à LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) e regulamentações específicas de área, que inclui as próprias instituições de ensino.
“É verdade que o uso excessivo de tecnologia pode ter efeitos negativos sobre crianças e adolescentes, mas isso não significa que as edtechs não possam ser benéficas para o ensino/aprendizagem. Um pensamento sobre isso é que as edtechs sempre busquem desenvolver soluções a partir de entenderem não só o problema profundamente, mas também o que os educadores pensam sobre aqueles problemas e soluções”, pontua Gmeiner.
Para Tony dos Santos, do Sieeesp, respeitando as questões legais, o objetivo é, sobretudo, proporcionar benefícios para ajudar a criar uma educação mais eficiente, acessível e adaptada às necessidades individuais de cada aluno. “As edtechs têm o potencial de trazer benefícios reais para o avanço da educação brasileira, oferecendo acesso à educação de qualidade, personalização do ensino, maior engajamento dos alunos, análise de dados educacionais e modernização da educação”, analisa.
Do ponto de vista de instituição, é importante ponderar a pluralidade dentro de uma instituição de ensino. Yoneshige explica que existem alunos com diferentes aptidões e disposição para aprender por meio dos sentidos de voz, audição, visão, entre outros, e a tecnologia pode ajudar os professores a trabalhar a individualidade de cada estudante e potencializar o aprendizado.
“Com a oferta de tantas ferramentas, os professores podem se sentir coagidos no dia a dia escolar, sem saber como controlar o uso de celulares, tablets e outros componentes. Principalmente, porque a academia não ensinou o professor a ter que lidar com essas situações, ele aprende na prática. Investir na formação dos professores também é imprescindível para eles poderem lidar com essas situações”, completa o CEO da Layers Education.
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