Muitas são as reflexões que temos que fazer para refletir sobre o porquê a violência tem aumentado tanto nos ambientes escolares. Algumas hipóteses podem nos levar a buscar alternativas de ação que nos ajudem a superar este cenário.

Infelizmente, temos vivido uma cultura marcada pelo ódio, pela intolerância e pela polarização de ideias em todas as esferas da sociedade. Muito pouco tem se aceitado a diversidade! Faltam ainda modelos parentais que, em algumas realidades, revelem a empatia, a tolerância e o diálogo. Nas relações sociais, crescem os atritos causados pelas desigualdades e fata de empatia, além do que há um movimento pela impunidade e pela falta de definição de limites claros que pautem as relações na família e na escola.

Estas hipóteses vão na contramão do desenvolvimento de uma cultura apaziguadora onde prevaleça o desenvolvimento das habilidades socioemocionais de nossas crianças e jovens.

A BNCC nos impulsionou a retomar o olhar para este importante viés de formação e é fundamental que nós educadores possamos desenvolver um trabalho preventivo onde possamos desenvolver, nas múltiplas ações na escola, habilidades de autogestão, engajamento com os outros, amabilidade, resiliência emocional e abertura ao novo. O desafio da escola começa por aí, pensar não só num Plano de Convivência, que construa normas de maneira reflexiva e dialógica, mas também definir ações alinhadas ao desenvolvimento acadêmico onde o educando seja encorajado a olhar para o outro com mais empatia e acolhimento.

Neste passo posterior à definição das normas de convivência, precisamos envolver os educadores num processo de tomada de decisão acadêmica em que as escolhas pedagógicas mobilizem o aluno para este desenvolvimento. 

Muitas são as estratégias didáticas e multidisciplinares que podem nos ajudar neste processo: projetos sociais e campanhas educativas podem nos ajudar a não só desenvolver a resolução de situações – problema, mas a  empatia e também favorecer a capacidade de nos colocar no lugar do outro, respeitando as diferenças; projetos de formação, cine fórum e estudos de caso ajudam a demonstrar assertividade e engajamento em novas propostas e a refletir sobre diferentes realidades, além de demonstrar empatia; aprendizagem cooperativa, rodas de leitura e projetos interdisciplinares promovem o respeito a diferentes pontos de vista e ao tempo do outro, favorecem a demonstração da organização, determinação e entusiasmo e ajudam a assumir responsabilidades; definição das regras da turma, debates sobre conflitos da atualidade e mediação de conflitos ajudam no desenvolvimento da resiliência emocional, da tolerância ao estresse e frustração; novas configurações da sala de aula ajudam a desenvolver a cooperação e a abertura ao outro.

Ah, e não podemos nos esquecer das reuniões e formação de pais e Conselhos de Classe Participativos, que desenvolvem engajamento diante de novas ideias e propostas, além de favorecer efetiva parceria entre escola e família.

Neste processo preventivo que deve ser carregado de intencionalidade, não bastam as medidas pedagógicas, é fundamental que o educador se aproprie de um trabalho baseado na disciplina positiva e na comunicação não violenta, ambas focadas na solução e prevenção de conflitos e não na sanção diante deles.

A disciplina positiva visa o desenvolvimento do respeito, da coragem, do prazer de aprender a ser e conviver baseado em princípios humanistas, da incorporação de habilidades para uma vida bem-sucedida baseada no empoderamento individual.

Precisamos salientar que, se educados desta forma, crianças e adolescentes não crescerão acreditando na permissividade, mas sim vão perceber-se capazes de contribuir de forma significativa nas situações de conflito, saberão fazer escolhas positivas, reconhecendo, inclusive que o erro é permitido e é etapa de crescimento, vão se tornar mais disciplinados a ouvir e ser ouvido, saberão trabalhar com os outros e a  entender os próprios comportamentos, além de saber julgar suas ações.

Ao desenvolvermos a disciplina positiva é fundamental o uso da comunicação não violenta que “é a capacidade de desenvolver habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem a capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas.”, segundo Marshall B. Rosenberg. Isso implica uma nova forma de comunicação onde somos mais capazes de ouvir e falar com o outro com empatia, respeito e atenção.

No entanto, sabemos que nem sempre todo este trabalho intencional e preventivo nos garante isenção de violência, de conflitos na escola e então entra em ação uma nova frente, a intervenção corretiva que deve encarar o conflito como uma oportunidade de crescimento inerente a ambientes diversos e democráticos.

Na análise dos conflitos, é fundamental que nós, educadores, sejamos capazes de identificar diferentes tipos de problemas de convivência para que a partir da caracterização de cada um deles possamos adotar ações diferenciadas que sejam adotadas em cada caso.

Há conflitos a que chamamos de indisciplina e que são aqueles que manifestam comportamentos que comprometem a aprendizagem, como conversar durante a explicação do professor. Neste caso, a intervenção passa pela diversificação de estratégias de ensino que motivem mais o aluno para a aprendizagem ou também pela adoção de atividades mais desafiadoras ou até menos para atender ao nível de competência para a aprendizagem do aluno e até usar as rodas de conversa para retomar as normas combinadas. 

Além deste primeiro tipo de conflito, podemos ter a incivilidade que são os comportamentos que ignoram a boa educação, como falar palavrão e, neste caso, faz-se necessário que o adulto manifeste sua autoridade usando da comunicação não violenta, mas assegure que no ambiente cumpram-se os combinados. 

Outro tipo de problema de convivência é a violência física ou emocional, que deve ser combatida não só nas rodas de conversa, mas também mediante a adoção de sanções por reciprocidade onde o agressor seja levado a assumir ações que estejam relacionadas ao mal causado para repará-lo. 

Temos também a transgressão, descumprimento contínuo de regras definidas, como não usar o uniforme e a esse tipo de problema de convivência podemos usar rodas de conversa para negociação ou não das regras, atendimentos para reflexões individuais e assembleias escolares.

E, por último, temos o bullying/cyberbullying, agressão cruel e repetida à mesma vítima com o objetivo de atingir determinada fragilidade. Considerando este problema já ser considerado crime, requer uma intervenção pontual que se estabeleça de maneira assertiva desde o início da ocorrência visando que situações desta natureza não se instalem e tenham consequências fora da esfera da escola.

Em quaisquer destes tipos de conflito, poderemos usar o recurso da mediação de conflito como alternativa de ação. A mediação de conflito é um método não hierarquizado de solução de desafios entre duas ou mais pessoas, com a presença de um mediador que tem por principais características: ser um indivíduo disciplinado, ser uma pessoa com experiência, capaz de intervir quando necessário, com conhecimento de causa, tenha uma postura imparcial, não podendo externar julgamento de valor, ter escuta ativa, ter uma conduta independente em relação ao assunto tratado, não escolher sobre o que pode falar, deve ser um indivíduo aceito pelas partes e não adotar postura de aconselhamento.

No processo de mediação, o acolhimento e a escuta das partes são fundamentais para que, em conjunto, sejam tomadas medidas necessárias para que os conflitos sejam sanados e não se repitam. A escuta ativa é aquela sem julgamentos em que todos os envolvidos terão direito de fala. Importante também que cada um assuma e retrate sua participação e que o mediador se coloque isento de qualquer das partes envolvidas sem pré-julgamentos. A mediação não pode ter um viés de ameaça e deve finalizar com a definição de compromissos a serem assumidos e, especialmente, acompanhados pelo mediador na pós-realização da mediação.

Assim sendo, a proposta que se apresenta neste texto é que o combate aos conflitos e toda forma de violência passa por um trabalho educativo preventivo que envolve família e escola de modo que ambas assumam seu papel de modelo positivo e assertivo. A partir daí, escola e família devem ser parceiras nos princípios e valores em que se baseiam as relações e, assim, garantam uma sintonia de ações.

Além disso, a escola deverá adotar ações de caráter acadêmico que contribuirão com reflexões e o desenvolvimento de competências socioemocionais que serão levadas para vida. E, para finalizar, na ocorrência de qualquer situação de conflito, as rodas de conversa e as rodas de mediação poderão ser momentos úteis de reflexão e solução de problemas de convivência!

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