(Re)pensando a Universidade
Participei, na semana passada, da 200ª reunião do Conselho Deliberativo do Instituto de Estudos Avançados da USP. Na ocasião, decidiu-se celebrar grandes líderes acadêmicos que estiveram à frente do Instituto, criado e 1986 como um espaço de integração, de caráter interdisciplinar, de discussão e pesquisa, das questões fundamentais da ciência e da cultura.
O instituto tem uma vocação para abrigar iniciativas que conectam a universidade com a comunidade externa, que removem os muros que separam diferentes áreas de conhecimento, introduzindo mais flexibilidade, mais inovação e internacionalização na universidade.
De uma maneira ou outra, isto tem sido levado à frente pelo IEA, em diálogo com as escolas e a sociedade. Uma cadeira de Educação Básica foi criada, temas interdisciplinares geraram pesquisas valiosas e uma importante discussão sobre o futuro vem sendo levada à frente, incluindo o futuro da Universidade no Brasil.
Mas a COVID 19 tem nos levado a pensar mais nas emergências do Presente que no futuro. Afinal, nenhuma instituição de Ensino Superior passou incólume. Muitas instituições privadas perderam matrículas e outras fontes de receita, dada a crise econômica que acompanhou a sanitária. Além disso, a aprendizagem e mesmo muitas das pesquisas tiveram que ocorrer de forma remota. É verdade que muitas instituições públicas demoraram a se preparar para esta modalidade, chegando alguns de seus professores a defender que seria inaceitável que se conduzisse o processo de ensino com mediação da tecnologia.
No entanto, quando esta narrativa paralisante foi superada pelos fatos e pela percepção de que as instituições poderiam apoiar os estudantes que não contavam com equipamentos ou conectividade, o processo avançou, beneficiando-se, inclusive, da internacionalização das pesquisas que já havia produzido, nos últimos 20 anos, repositórios de artigos científicos e relatórios de pesquisa online, nas mais diferentes áreas do conhecimento.
A USP padeceu da mesma demora e dúvidas iniciais, bastante compreensíveis no contexto. Mas algo permaneceu aberto na USP e em várias universidades públicas que nos enchem de orgulho. A pesquisa científica relacionada à COVID não parou e foi, em muitos casos presencial. Levantamento realizado pela Agência USP da Gestão da Informação Acadêmica (Aguia), a partir de dados de uma plataforma global com informações sobre pesquisas e artigos científicos, a Dimensions, mostra que o Brasil está em 11º lugar entre os países que mais publicaram estudos sobre a doença, na frente do Japão, da Holanda e da Suíça.
Evidentemente não foram só universidades que tiveram publicações sobre a COVID 19, a Fiocruz e o Instituto Butantan têm feito um trabalho excepcional, mas a USP, a UNICAMP e a Universidade Federal do Paraná estão entre os que mais contribuíram, apesar do corte, pelo governo federal, da cota de importação de equipamentos e insumos destinados à pesquisa. A UNICAMP, por exemplo, criou uma Força Tarefa que ajudou na padronização do teste diagnóstico RT-PCR e na realização de exames em mais de cem municípios.
Na UFPR, os pesquisadores estão usando a nanotecnologia para desenvolver uma vacina, trabalhando com bactérias que produzem um polímero, o polihidroxibutirato.
Mas um dia a pandemia vai passar, e aprenderemos a conviver com o vírus e suas mutações. As aulas presenciais serão retomadas e a pesquisa poderá, mesmo em outras áreas, contar com a colaboração presencial entre cientistas. Os benefícios são claros: maior interação humana, entre alunos, professores e pesquisadores, não necessariamente programada ou estruturada, facilidade de acesso a livros não digitalizados e poder ter um contato com manifestações artísticas e museus presentes em muitas instituições de ensino.
No entanto, as aprendizagens da crise vivenciada, que nos obrigou a nos repensar como professores, estudantes e mesmo pesquisadores com um sentido acrescido de urgência frente aos desafios colocados pela pandemia deveriam permanecer. Afinal, foi nas crises que a humanidade mais inovou e quebrou paradigmas que permaneceram nos séculos seguintes.
É bom lembrar que foi durante a grande gripe de 1918, equivocadamente chamada de espanhola, como mostra John Barry em seu “A grande gripe”, que as escolas de Medicina mais avançaram nos Estados Unidos, introduzindo hospitais universitários e laboratórios de pesquisa que trouxeram um diálogo muito maior entre teoria e prática a esta profissão tão relevante para os tempos em que vivemos.
A Universidade como um todo, desta vez, poderá se repensar!
Participei, na semana passada, da 200ª reunião do Conselho Deliberativo do Instituto de Estudos Avançados da USP. Na ocasião, decidiu-se celebrar grandes líderes acadêmicos que estiveram à frente do Instituto, criado e 1986 como um espaço de integração, de caráter interdisciplinar, de discussão e pesquisa, das questões fundamentais da ciência e da cultura.
O instituto tem uma vocação para abrigar iniciativas que conectam a universidade com a comunidade externa, que removem os muros que separam diferentes áreas de conhecimento, introduzindo mais flexibilidade, mais inovação e internacionalização na universidade.
De uma maneira ou outra, isto tem sido levado à frente pelo IEA, em diálogo com as escolas e a sociedade. Uma cadeira de Educação Básica foi criada, temas interdisciplinares geraram pesquisas valiosas e uma importante discussão sobre o futuro vem sendo levada à frente, incluindo o futuro da Universidade no Brasil.
Mas a COVID 19 tem nos levado a pensar mais nas emergências do Presente que no futuro. Afinal, nenhuma instituição de Ensino Superior passou incólume. Muitas instituições privadas perderam matrículas e outras fontes de receita, dada a crise econômica que acompanhou a sanitária. Além disso, a aprendizagem e mesmo muitas das pesquisas tiveram que ocorrer de forma remota. É verdade que muitas instituições públicas demoraram a se preparar para esta modalidade, chegando alguns de seus professores a defender que seria inaceitável que se conduzisse o processo de ensino com mediação da tecnologia.
No entanto, quando esta narrativa paralisante foi superada pelos fatos e pela percepção de que as instituições poderiam apoiar os estudantes que não contavam com equipamentos ou conectividade, o processo avançou, beneficiando-se, inclusive, da internacionalização das pesquisas que já havia produzido, nos últimos 20 anos, repositórios de artigos científicos e relatórios de pesquisa online, nas mais diferentes áreas do conhecimento.
A USP padeceu da mesma demora e dúvidas iniciais, bastante compreensíveis no contexto. Mas algo permaneceu aberto na USP e em várias universidades públicas que nos enchem de orgulho. A pesquisa científica relacionada à COVID não parou e foi, em muitos casos presencial. Levantamento realizado pela Agência USP da Gestão da Informação Acadêmica (Aguia), a partir de dados de uma plataforma global com informações sobre pesquisas e artigos científicos, a Dimensions, mostra que o Brasil está em 11º lugar entre os países que mais publicaram estudos sobre a doença, na frente do Japão, da Holanda e da Suíça.
Evidentemente não foram só universidades que tiveram publicações sobre a COVID 19, a Fiocruz e o Instituto Butantan têm feito um trabalho excepcional, mas a USP, a UNICAMP e a Universidade Federal do Paraná estão entre os que mais contribuíram, apesar do corte, pelo governo federal, da cota de importação de equipamentos e insumos destinados à pesquisa. A UNICAMP, por exemplo, criou uma Força Tarefa que ajudou na padronização do teste diagnóstico RT-PCR e na realização de exames em mais de cem municípios.
Na UFPR, os pesquisadores estão usando a nanotecnologia para desenvolver uma vacina, trabalhando com bactérias que produzem um polímero, o polihidroxibutirato.
Mas um dia a pandemia vai passar, e aprenderemos a conviver com o vírus e suas mutações. As aulas presenciais serão retomadas e a pesquisa poderá, mesmo em outras áreas, contar com a colaboração presencial entre cientistas. Os benefícios são claros: maior interação humana, entre alunos, professores e pesquisadores, não necessariamente programada ou estruturada, facilidade de acesso a livros não digitalizados e poder ter um contato com manifestações artísticas e museus presentes em muitas instituições de ensino.
No entanto, as aprendizagens da crise vivenciada, que nos obrigou a nos repensar como professores, estudantes e mesmo pesquisadores com um sentido acrescido de urgência frente aos desafios colocados pela pandemia deveriam permanecer. Afinal, foi nas crises que a humanidade mais inovou e quebrou paradigmas que permaneceram nos séculos seguintes.
É bom lembrar que foi durante a grande gripe de 1918, equivocadamente chamada de espanhola, como mostra John Barry em seu “A grande gripe”, que as escolas de Medicina mais avançaram nos Estados Unidos, introduzindo hospitais universitários e laboratórios de pesquisa que trouxeram um diálogo muito maior entre teoria e prática a esta profissão tão relevante para os tempos em que vivemos.
A Universidade como um todo, desta vez, poderá se repensar!
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