Revogar novo ensino médio é retrocesso
Os debates em torno do currículo do Ensino Médio nada têm de novo. Remontam a polêmicas que marcaram a tramitação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 4.024/1961), portanto à década de 60 do século passado. A experiência de um currículo unitário foi exaustivamente praticada no Brasil, desde os anos 1970.
Gerações e gerações de estudantes tiveram a sua trajetória escolar submetida a um único e mesmo currículo, imposto a todos. Os resultados reiteradas vezes apurados apontam sempre para dramáticos índices de reprovação, fracasso e abandono escolar, que fizeram do Ensino Médio o segmento que mais afasta o jovem brasileiro da escola. Em especial, os mais vulneráveis.
Segundo pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a falta de interesse dos alunos está no topo da lista de motivações de evasão (40%), seguida por problemas financeiros e aumento das taxas de desemprego (27%). As demais razões indicadas no levantamento somam 33%, como relacionamento ineficiente entre escolas e alunos, falta de atividades dinâmicas, problemas socioemocionais, entre outros.
Se o ensino não é atrativo, como manter os estudantes interessados em investir em capacitação e conhecimento? É inegável – e comprovado por vários estudos – que a escolaridade está diretamente relacionada com a renda no mercado de trabalho. O abismo entre o que é ensinado em sala de aula e a vida real e profissional dos estudantes alimenta o desinteresse e esse foi um dos principais motivos para repensar o ensino médio.
A superação desse quadro só pode se dar pela flexibilização e diversidade curricular. Em sociedades democráticas, as famílias e os jovens têm ao seu alcance uma diversidade de opções educacionais entre as quais cada qual poderá escolher aquela que mais corresponda às suas perspectivas de vida. A liberdade de cátedra, de ensino e de pensamento são, a um só tempo, condição e fatores promotores de democracia.
Da forma como foi encaminhada, a reforma atribui respeito e confiança à figura do professor: por estar na sala de aula, ele é a figura mais autorizada a discernir o que convém ao seu aluno aprender. O encaminhamento proposto confere autoria e autoridade ao magistério e aos gestores. Nada lhes é imposto, nem interditado: cabe a cada um discernir, e responder pelas escolhas que faz. Já na terceira década do século XXI, a simples cogitação de que se reivindique a tutela do Estado remete a um antigo equívoco, cujo prazo de validade está irremediavelmente vencido.
Através de 22 sindicatos regionais, a Federação Nacional das Escolas Particulares (FENEP) congrega mais de 40 mil estabelecimentos de ensino em todo o território nacional. Não resta dúvida de que, após tantos anos de currículo unificado, a Reforma do Ensino Médio traz a todos grandes desafios, que convocam cada estabelecimento a se reinventar e inovar em seus processos de ensino-aprendizagem. Também não se pode correr o risco de engessamento como o anterior, cabe o debate para evolução e melhorias.
Há apostas a serem feitas e riscos a serem assumidos por gestores e professores. E de todos os públicos envolvidos, são os estudantes os que mais têm a ganhar com o Novo Ensino Médio. E, como educadores e como cidadãos, temos a serena convicção de que, são eles o foco e o propósito de nossa atuação. Por assumir esse compromisso, a Escola Privada brasileira endossa e apoia a Reforma Curricular do Ensino Médio e se posiciona contrária à revogação, que consideramos um retrocesso.
Sobre o autor:
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Bruno Eizerik
Presidente da FENEP (Federação Nacional das Escolas Particulares)
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Bett Brasil.
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