Round 6 e Tik Tok, o perigo invisível. Saiba porquê.
Muitos pais podem não saber, mas quando deixam seus filhos sem supervisão ou quando não têm tempo para se inteirarem diante a infinidade de estímulos e informações que as crianças e jovens recebem quando conectados na internet, podem não realizar os sérios prejuízos ao desenvolvimento saudável de seus filhos.
Entre a brincadeira infantil, popular principalmente entre as décadas de 70 e 80, assim como a Batatinha frita 1,2,3 (que aparece nos desenhos animados da “Peppa Pig”) e a brincadeira que aparece na série Round 6, podem até ter regras parecidas, mas há enorme diferença na forma como seus resultados afetam as emoções, o pensamento, a cognição de um adolescente, quiçá de uma criança.
Essa série da Netflix, Round 6, lembra um reality show, mas é pautada em um brutal jogo de vida ou morte, a qual não é nenhuma brincadeira, a meta pela sobrevivência. O jogo parece simples, fácil, coisa de criança. Os personagens bem reais, as regras até parecem justas quando um dos juízes do jogo, por exemplo, diz que “todos os participantes são iguais”. Um dos jogos é chamado “jogo da lula” e outro é o “batatinha 1,2,3”, que por mais que seja fácil, e que lembra aquela outra brincadeira de criança “duro ou mole”, pode levar a impactos que mais se assemelham ao jogo cujo nome é outro animal aquático, o da Baleia Azul. Para quem não lembra, Baleia Azul foi um jogo, que levou jovens ao suicídio, após propor aos adolescentes 50 desafios, por meio de desafios macabros, em 2015.
Mas não se enganem, também o TIK TOK (lançado em 2016), que é visto como divertido e inofensivo aplicativo que está “na moda", é uma espécie de “cocaína” liberada para menores, disponível para o cérebro ainda imaturo e extremamente plástico, tanto para as boas influências quanto para as ruins. O Tik Tok tem tudo que um cérebro jovem precisa para se viciar. Reparem no tempo curtíssimo de duração das informações, no modo como são comunicados, tudo isso é para seus cérebros fazerem menos esforço e quererem mais. Estimulam a ansiedade, menos paciência, onde os “desejos” são realizados em aproximadamente 15 segundos! A vida real não é assim...
E o Instagram Kids? Apesar de, por hora, ter sido suspenso (04/10/21 segundo matéria do Jornal Valor Econômico) esta rede social é uma versão de compartilhamento de fotos para crianças menores de 13 anos, a qual recebeu reações negativas de diversos órgãos governamentais. Já pensaram o quanto tal rede social poderá aumentar a ansiedade, criar expectativas inatingíveis, atrapalhar as relações interpessoais e outros? Independente de sua escolha como professor ou pai, é sempre importante poder refletir, buscar informações e diálogos pois são e continuarão a ser muitas as informações, ora fakes, ora fofocas, ora fatos, contudo os dados científicos e as evidências do quanto crianças e adolescentes são afetadas negativamente pelo uso inadequado de tecnologias e das redes sociais, não podem ser “deletadas”. É preciso ficarmos distantes das disputas por audiência e maniqueísmos corporativos, pois estamos falando do “computador” mais precioso de uma criança, o qual não é seu smartphone, nem seu laptop, mas seu cérebro, suas emoções, sua saúde mental. As famílias, as escolas, o poder público e a ciência devem se conectar para proteger o que não há como deletar, “zerar o HD” ou substituir por outro “aplicativo”.
Segundo a Unicef a pandemia é apenas a ponta de um iceberg dos problemas de saúde mental de crianças e adolescentes, que acabam sendo ainda mais prejudicadas com o uso inadequado das redes sociais. Compromisso, comunicação e ação é o que a Unicef alega que poderá promover a saúde mental de cada criança, em especial, as vulneráveis (UNICEF, 2021).
Para corroborar com tais informações, segundo o Mental Health of Children and Young People in England (NHS UK,2021),as taxas de prováveis transtornos mentais nas crianças aumentaram desde 2017 até março de 2021. Nas crianças entre 6 a 16 anos, aumentou de 11,6% a 17,4% e em adolescentes entre 17 a 19 anos, aumentou de 10,1% a 17,4%, onde tais dados mostraram semelhanças entre os anos de 2020 e 2021.
Por outro lado o contato, o convívio, o diálogo, o compartilhar são fatores protetivos e mais, são fatores que promovem a saúde mental e emocional, segundo a Unicef. Compartilhar experiências, conversar, se expressar e cultivar a autoestima também são recursos importantes para que a criança e o adolescente conviva com as redes sociais, além da necessária informação dos pais sobre o uso das tecnologias: somente a partir dos 13 anos é permitido uso do Facebook,Tik tok e Instagram. Antes das redes sociais os pais “fiscalizariam” quantos sorvetes o seu filho tomaria em um dia, logo o mesmo deve ser feito com o uso das tecnologias, certo? Monitorar, supervisionar, orientar, continuam necessários e possíveis!
Round 6, Tik Tok, Instagram para crianças e quantos outros ainda não virão! Sempre vai haver um novo jogo, novo desafio ou um novo problema a ser trabalhado, corrigido ou evitado. Cabendo aos pais, educadores, sociedade civil, poder público e instituições de pesquisas competentes, a criação de alianças e de confiança, as que podem sustentar a necessidade e a qualidade da vida mental e emocional das pessoas, sobretudo das vulneráveis.
Que possamos confiar, ficar junto, mas aquela fiação que conecta sentimentos, informações competentes e pessoas à vida real.
Referências:
NHS Digital, Mental Health of Children and Young People in England 2021 - wave 2 follow up to the 2017 survey, 30 Sep 2021
Disponível em:
https://digital.nhs.uk/data-and-information/publications/statistical/mental-health-of-children-and-young-people-in-england/2021-follow-up-to-the-2017-survey
KOETSIER, J. Digital Crack Cocaine: The Science Behind TikTok’s Success. Forbes, Jan 18, 2020
Disponível em:
THE STATE OF THE WORLD ’S CHILDREN 2021 Promoting, protecting and caring for children’s mental health. United Nations Children’s Fund (UNICEF),
New York, NY, October 2021
Disponível em:
https://www.unicef.org/media/108161/file/SOWC-2021-full-report-English.pdf
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