Se vamos ter que aprender por toda a vida, por que não começar já?
Estamos muito acostumados a ver tecnologia na educação como uma possibilidade de substituir professores, ou como algo “moderno”, seja para se comunicar com os alunos ou para mostrar para os seus pais ou comunidade que a instituição (ou a rede de ensino) está atualizada.
Raramente a tecnologia na educação é vista como capaz de ensinar e aprender o que não seria possível sem ela.
Quais são as situações em que a tecnologia oferece um jeito alternativo de ensinar
Na última década, no Ensino Superior, vimos a Educação a Distância como grande força de redução de custos por meio de redução de hora-aula de docentes que foram substituídos por conteúdo estruturado e tutores. Por outro lado, essa forma de oferecer educação de baixo custo trouxe uma possibilidade de inclusão de alunos que moravam longe dos grandes centros, que tinham menos dinheiro para investir em estudos, que tinham parado de estudar após o Ensino Médio e que já estavam em uma fase da vida em que tinham que conciliar estudos com trabalho, filhos, pais idosos e afazeres domésticos, entre outros.
Já na Educação Básica, como a carga horária presencial não pode ser alterada, a tecnologia entrou para revelar modernidade: gestores de escolas e prefeitos gostavam de mostrar os equipamentos para as suas comunidades, revelando investimentos em uma educação atualizada, e um argumento muito forte para defender esses investimentos era que a tecnologia motivaria os alunos a aprender mais e melhor, visto que trazia uma linguagem com a qual os jovens já estavam acostumados.
Todos esses exemplos, por mais que tenham trazido mudanças na forma de ensinar e aprender, e que tenham dado acesso a novos segmentos da população para o Ensino Superior, remetem a estratégias para os alunos aprenderem os currículos tradicionais mediados por tecnologia: os cursos de Nível Superior revelaram que é possível aprender com conteúdo estruturado e tutoria, e essa estratégia se revelou tão eficaz, que os cursos a distância só têm ampliado a sua aceitação ao longo dos anos, até por alunos que não precisam recorrer a eles por questões de preço, geografia, idade ou necessidade de lidar com outras questões da vida.
Já na Educação Básica, conta-se com momentos de uso da tecnologia em laboratórios de informática fixos ou móveis, com softwares que permitem aprender algo específico (matemática, leitura, redação, simulados do ENEM, entre outros), acompanhados de professores regulares.
É nesse momento que os professores se perguntam se esses recursos são de fato melhores que as suas aulas. Esse questionamento, na verdade, é legítimo: será que os softwares ensinam melhor que um bom professor? Possivelmente, sim, mas nem sempre, sem contar que ter aula com um bom professor e interagir com os colegas costuma ser uma experiência muito boa que não deveria ser substituída sem um bom motivo para tanto.
Quais são as situações em que a tecnologia abre possibilidades de aprendizagem impossíveis sem ela
O questionamento se professores são melhores ou piores do que tecnologia, ou se a tecnologia pode substituir um professor só faz sentido quando estamos falando de conteúdos curriculares. No entanto, se o assunto é a necessidade de se preparar para um mundo tecnológico e o desenvolvimento das habilidades essenciais que só conseguimos aprender por meio da tecnologia, essa dicotomia deixa de existir.
Matemática, Leitura, Habilidades do ENEM, História, Ciências e Filosofia podem ser perfeitamente desenvolvidas em ambiente offline, sem qualquer tecnologia. Softwares podem trazer uma melhoria incremental (ou nem isso). Por outro lado, aprender a digitar e usar recursos de edição, lidar com planilhas digitais, comunicar-se em diferentes espaços digitais, refletir sobre as implicações das redes sociais na nossa vida política ou fazer pesquisa relevante em ambientes não estruturados são habilidades essenciais para qualquer cidadão do mundo de hoje que não podem ser aprendidas sem tecnologia. Pode parecer que os jovens aprendem tudo isso sozinhos, mas também não é verdade. Eles precisam de acesso a tecnologia e orientação específica para desenvolver essas habilidades – e a escola precisa tomar a si essa tarefa, se quiser preparar os alunos para o mundo em que vão ter que trabalhar e viver.
Já vivemos em um mundo em que teremos de aprender por toda a vida, seja fazendo breves consultas na internet ou realizando cursos breves ou longos para garantir que estamos atualizados ou aptos a avançar nas nossas carreiras ou até a fazer migração de carreira. Isso vale para todos os profissionais, não só os de alto nível instrucional. A escola e a universidade precisam ajudar os alunos a fazer pesquisa com autonomia, a se comunicar respeitando o outro em diferentes mídias, a descobrir as habilidades que precisa desenvolver e identificar a melhor maneira de fazer isso. A entender os momentos em que se aprende melhor em cursos autoinstrucionais ou quando o apoio humano se torna essencial para o desenvolvimento do indivíduo. A trabalhar colaborativamente presencialmente e a distância, por vezes em diferentes línguas.
Cada vez mais, os aprendizes de todas as idades e em todas as fases da sua formação e carreira precisarão demonstrar autonomia para a aprendizagem e saber buscar o que precisam. As habilidades de persistência para atingir objetivos variados serão cada vez mais valorizadas. A capacidade de contribuir para projetos coletivos, também. Se isso será necessário para todos nós, e por toda a vida, o melhor é começar já. E tudo isso só é possível com tecnologia. A melhor escola e o melhor professor não conseguem deter e transmitir todo o conhecimento que um indivíduo precisará aprender ao longo da vida. O melhor é que ensinem os alunos a desenvolver estratégias para aprender por toda a vida com autonomia (o que não significa sozinho), usando os recursos tecnológicos como espaços para colocar essas habilidades em prática.
Se o foco da educação for se preparar para aprender por toda a vida, não fará sentido nenhum discutir se as máquinas são melhores do que os professores ou se eles serão substituídos. Afinal, somente com máquinas, professores e alunos trabalhando juntos poderemos atingir o objetivo de aprender sempre e se desenvolver sempre, até em territórios imprevisíveis, que é o mundo em que vivemos hoje.
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