A saúde mental na docência é uma pauta que precisa ser amplamente endereçada. Devido à natureza de seu trabalho, que envolve demandas emocionais e cognitivas intensas, além de pressões constantes, muitos docentes acabam desenvolvendo o esgotamento crônico.

A síndrome de burnout é um distúrbio psíquico de carácter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso, causado pelo excesso de trabalho e pelo estresse crônico relacionado ao ambiente profissional.

Dados publicados em uma matéria da BBC Brasil, com o título "O Brasil enfrenta uma epidemia de 'burnout'?", revelaram que em 2023, 421 pessoas foram afastadas do trabalho por burnout - é o maior número dos últimos dez anos no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). De 178 afastamentos por burnout, em 2019, o Brasil passou para 421, em 2023, um aumento de 136%.

Em entrevista ao Conexão Bett, a educadora e diretora da Escola Vila Aprendiz, dedicada ao ensino infantil e fundamental, Paula Leão, aborda a síndrome de burnout, que é uma realidade no ambiente de trabalho também nas escolas. 

Assista ao episódio completo:

Paula destaca que vivemos hoje em um cenário drasticamente diferente de duas décadas atrás, especialmente quando o assunto é burnout e saúde mental. Segundo ela, o aumento de casos de esgotamento e até mesmo de suicídios está diretamente relacionado com mudanças profundas na sociedade e intensificadas pela pandemia.

"A pandemia foi um impulsionador desse cenário, que já era alarmante. Hoje, vivemos em uma sociedade adoecida", afirmou. Ela acrescentou que esse problema está mais próximo do que nunca: “Em um grupo de 20 amigos, praticamente todos conhecem alguém que foi impactado diretamente por isso. Isso nunca esteve tão próximo da gente”.

Para Paula, a condição de burnout é resultado de várias pressões modernas, especialmente o uso excessivo de celulares e o bombardeio constante de informações. "O volume de conteúdos que sentimos necessidade de absorver é um dos maiores responsáveis pelo esgotamento. Basta abrir o Instagram e ver algo novo para já nos sentirmos desatualizados. Isso nos leva a abrir mais abas, pesquisar mais, e essa aceleração acaba sobrecarregando nossas mentes", ressalta.

A diretora da escola Vila Aprendiz relatou experiências pessoais que ilustram esse cenário. Durante uma sessão de liderança em um shopping center em Recife, ela presenciou o impacto que uma notícia de suicídio teve sobre a equipe.

"Foi um choque. Estávamos ali para discutir estratégias de marketing, mas tivemos que lidar com uma realidade dolorosa. Há 20 anos, o marketing de um shopping era focado em registrar momentos felizes, como pedidos de namoro e noivado. Hoje, os profissionais precisam estar preparados para lidar com tragédias e garantir que informações sensíveis não vazem", disse Paula. Esse tipo de evento ilustra como as responsabilidades mudaram. "É um desafio aprender a lidar com essas novas demandas que pesam nas costas, na cabeça e no coração de todos".

Na Vila Aprendiz foram adotadas estratégias específicas para apoiar a equipe docente. "Nosso time de coordenação e supervisão atua quase como um 'paredão' para proteger os professores", explica.

A ideia é criar uma camada de apoio que absorva demandas excessivas e reduza a pressão sobre os docentes. "Perguntamos o tempo todo: 'Isso me pertence? Eu devo carregar essa reclamação comigo?'. É uma forma de descomprimir a equipe e manter um ambiente saudável, apesar dos desafios". Paula reconheceu que não há respostas prontas, mas enfatizou a importância de buscar soluções: "Ninguém sabe tudo, mas precisamos estar empenhados em fazer a diferença".

Além do Youtube, o Conexão Bett também está disponível nas principais plataformas de áudio, como Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Amazon Music e Google Podcasts, entre outras e no portal do Educador21.

Troca de experiências

A troca de conhecimentos e experiências no ecossistema de educação é essencial para a evolução do setor. Neste sentido, a diretora de Conteúdo da Bett Brasil, Adriana Martinelli, participou do podcast “Papo de Vila”, produzido pela Escola Vila Aprendiz. A conversa foi o processo de formação de professores, que exige um currículo com teoria pedagógica e experiências práticas em sala de aula. Ouça o podcast abaixo:

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