Um novo paradigma de formação de professores - caso prático do Colégio Dante Alighieri
Em meio à pandemia, como foi pensada a elaboração de uma nova formação para os professores?
No Dante, a formação de professores tem sido uma pauta prioritária antes mesmo da pandemia. Nós não concebemos uma ação pedagógica que prescinda de uma reflexão sobre a formação em serviço e a serviço. Durante a pandemia, nós demos continuidade de maneira remota a uma formação que já existia antes, na pré-pandemia. Focamos neste momento, obviamente, por conta da pandemia, na maior necessidade dos recursos digitais e na formação de pontos que seriam necessários para que os professores estivessem bastante desenvolvidos para que pudéssemos ter o nosso modelo virtual (on-line) de excelência.
Em paralelo, o Colégio está subsidiando uma formação focada no desenvolvimento de habilidades na gestão de ambientes digitais. É importante lembrar que temos um departamento de Tecnologia Educacional que também provê a formação dos nossos professores. Temos profissionais que estão à disposição pra fazer o que chamamos de “peer-to-peer”. Então, além dos cursos oferecidos, o professor tem à sua disposição pessoas que vão esclarecer dúvidas e fomentar esse desenvolvimento profissional, especialmente, no campo da tecnologia.
Como os professores receberam essa iniciativa?
A recepção, desde antes da pandemia, como havia citado, tem sido ótima. O Colégio tem um cuidado muito grande com o desenvolvimento profissional desde o momento em que o professor começa a trabalhar conosco e ao longo de sua carreira, seja pela disponibilidade de recursos internos ou através de subsídios.
Quais as dificuldades encontradas durante esse processo?
O grande desafio na formação de professores é identificar o momento em que cada profissional está, para que não pasteurizemos as formações. Da mesma forma que nós defendemos a personalização da aprendizagem dos nossos alunos, nós precisamos também entender que isso precisa acontecer para os nossos professores.
Outro desafio é o professor ter uma agenda específica, uma vez que ele tem sido muito demandado por conta desse cenário pandêmico.
A escola precisa entender e equacionar essas demandas. De um lado, a demanda de um profissional altamente qualificado (e também é responsabilidade da escola fomentar essa qualificação) e, de outro, a postura de sincronizar essa demanda com a agenda do professor.
As mudanças exigidas para a educação com a pandemia impulsionaram novas demandas na formação de professores. Para além das questões técnicas e de conhecimentos específicos, essa formação também atuou nos aspectos socioemocionais dos professores?
Essa pergunta traz um aspecto que foi bastante relevante durante essa jornada que tivemos durante a pandemia. Não somente os alunos, mas toda a equipe pedagógica precisou se cuidar. Foram momentos em que se misturou estresse, busca pela excelência, cuidado com os alunos. E as questões socioemocionais em vários momentos prevaleceram no cuidado que a escola teve. Nós promovemos momentos em que os profissionais foram atendidos, não só pelo plano de saúde, mas também por equipes que cuidam de saúde emocional. Nós já temos internamente para os alunos esse projeto, e estendemos para os professores para que a gente pudesse trazer uma harmonia emocional, mental, para juntos estarmos mais fortes diante da adversidade que a pandemia trouxe.
Quais os resultados obtidos até agora após essa formação docente?
É importante lembrar que essa formação não acabou. Ela é continuada. A todo momento nós avaliamos os avanços e os desafios que cada formação traz e planejamos o próximo passo. A qualidade pedagógica que se manteve ao longo da pandemia é um resultado que chama a atenção. O engajamento dos professores, a melhoria de processos pedagógicos. Tudo isso é um conjunto de ações que nós precisamos comemorar e que, com certeza, estão conectadas à formação de professores. Mas não somente a ela. A formação de professores precisa ser sistêmica e orgânica dentro das instituições. Ela precisa estar conectada com outras questões que a escola desenvolve: o cuidado com os professores durante a pandemia, uma escuta ativa para que eles possam trazer os seus medos, as suas necessidades. Isso tudo dialoga com uma situação específica, mas vai além dela. Traz a necessidade de a escola se perceber como um local onde os alunos trazem suas necessidades, mas os professores também. Vejo agora uma escola melhor, apesar de todos os desafios que estamos encontrando. Vejo uma escola que se desenvolveu, que teve uma curva de aprendizagem bastante importante, mas que se colocou à prova e “passou de ano”.
Foi possível notar algum impacto nos alunos depois desse processo com os professores?
Nós não analisamos apenas um indicador para entender como está a relação do aluno com a escola. Nós trabalhamos muito na escola pela cultura da paz, por uma comunicação não violenta, por acolhimento, uma escuta ativa. Acho que tudo isso traz uma percepção para os alunos e para a comunidade de que a escola está olhando para todos.
A formação de professores diz muito sobre isso. Mas ela tem que estar inserida em um projeto maior de escola, onde a formação de professores tem um lugar importante, mas precisa trazer outros elementos educacionais que se mesclem a essa formação.
Quais as consequências e perspectivas futuras esperadas após essa formação de professores?
Entender a real necessidade de cada professor na sua práxis, olhar para a contemporaneidade e perceber quais os caminhos propostos em termos de formação de professores, em termos de abordagens metodológicas, e traduzir numa proposta que considere a escola, suas idiossincrasias, a cultura da escola e o projeto pedagógico. A expectativa é melhorar sempre, trabalhar no aprimoramento do que já foi feito para propor um ambiente de formação continuada onde alunos, professores e escola aprendem.
A inovação nas escolas integra também a tecnologia no processo formativo dos docentes?
Com certeza. Para nós, antes mesmo da pandemia, isso já era um marco comum. E com a pandemia ficou explícita a necessidade que nós temos da integração da tecnologia no currículo. Foi um divisor de águas. A partir de agora, as formações de professores não podem continuar sendo da mesma forma que eram feitas antes da pandemia. Nós tivemos a camada tecnológica que impôs melhorias, reflexões e desafios. As escolas aprenderam a lidar com isso de uma forma mais integrada e integradora, transformando o currículo, as pessoas e a própria escola.
Como percebe a importância do desenvolvimento humano alinhado à tecnologia e aos novos recursos para a gestão de pessoas?
Este é um tema do qual gosto muito. Sempre digo que quanto mais tecnologias usamos, mais humanos precisamos ser, sobretudo nas relações. Eu defendo a tecnologia, mas defendo, antes dela, o humano. Dessa perspectiva, eu tenho certeza de que se nós tivermos um uso seguro, ético e parcimonioso da tecnologia, nós poderemos, sim, melhorar as relações humanas. Não é uma relação simplista, nem óbvia. Mas acredito que, no nosso colégio, essa tem sido a tônica. A tecnologia pode ajudar, desde que, à frente dela, tenham seres humanos preparados e, sobretudo, conscientes do limite e da amplitude que a tecnologia nos traz.
Além da pandemia, outras demandas sociais têm acelerado diversos processos no mundo do trabalho, o que coloca os professores também neste contexto. A formação proposta pelo Colégio Dante Alighieri olha para o futuro do Brasil e da educação para recuperar e propor novos desafios aos docentes?
Essa é uma pergunta que daria um belo artigo. Como disse anteriormente, a formação deve ser holística, sistêmica e sustentável. Tem que estar conectada às necessidades pedagógicas da escola, mas ela precisa ter um diálogo constante com o mundo, com o que está acontecendo fora da escola. Só assim ela se estabelece como um elemento que realmente melhora o professor como profissional, mas sobretudo como humano. Não dá para pensar numa formação de professores que não comece por essa dimensão do mundo real. A formação tem que ser pautada na pedagogia da esperança, do afeto, da excelência e numa cultura que conecte as pessoas. Sobretudo propiciando um espaço onde as pessoas se sintam muito à vontade para trazer seus anseios, suas necessidades, suas perspectivas e suas contribuições.
A escola é um espaço maravilhoso de aprendizagem, mas também é um espaço onde podemos ousar e tentar melhorar o mundo. Isso passa pela formação, passa pela educação, passa pelo nosso colégio e passa também por todas as pessoas que fazem a escola no nosso dia a dia.
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Sobre a convidada:
Valdenice Minatel Melo de Cerqueira
Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Campinas. Mestra e doutora em Educação: Currículo (na linha de pesquisa Novas Tecnologias) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (SP). Atualmente é Diretora-Geral Educacional do Colégio Dante Alighieri (SP) e também ocupou o cargo de Diretora de Tecnologia na mesma instituição. Editora da Revista de pré-iniciação científica InCiência.
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