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Verdadeiro ou falso?

Redação Bett Blog
Verdadeiro ou falso?
A propagação incontrolável de fake news e os efeitos nocivos da desinformação evidenciam a urgência da implementação da educação midiática na dinâmica das escolas

Você viu o que saiu na internet? Soube que... Li que era verdade... Que era mentira... Nos tempos atuais, os conceitos de verdadeiro ou falso se confundem com a rapidez de um clique, e a desinformação se propaga na velocidade da luz. A pandemia do coronavírus pode ter ficado para trás, mas outra disseminação tão virulenta e perigosa dá mostras que tem força para resistir à objetividade do bom senso: a das fake news.

Não que as fake news como recurso da desinformação tenham surgido recentemente. O que mudou foi a assertividade com que são construídas e a rapidez com que se propagam. Os meios digitais são fluxos ininterruptos de informações, o que é relevante do ponto de vista da oportunidade de ascender a todo tipo de conteúdo, mas identificar o que é verdadeiro ou falso é que são elas.

Não se afogar nesse 'oceano' de dados significa contar com um repertório de ferramentas que viabilizem diferenciar uma fonte confiável ou não. Considerando os mais jovens, as gerações Z e Alpha, os nativos digitais, a construção desse repertório só é possível por meio da educação. 

“A educação é um caminho essencial, não apenas para nos defendermos das fake news, mas para que possamos atuar como agentes de transformação do ambiente informacional”, avalia Daniela Machado, coordenadora do EducaMídia (programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta). Ela alerta que as escolas devem se preparar para ensinar a pesquisar, validar, interpretar e utilizar as informações que estão disponíveis na internet e em outras mídias. Dessa forma, os estudantes passam a ser protagonistas da própria educação.

Outra especialista que concorda com Daniela é Sandhra Cabral, docente universitária, mestre em Inovação na Comunicação de Interesse Público e CEO da Educar para Ser Grande. “O combate às fakes news não é simples e muito menos fácil de se executar, uma vez que os mecanismos de produção e veiculação da desinformação são bastante eficientes e quase sempre ocultam e protegem a identidade dos criminosos. Exatamente por esse motivo, precisamos capacitar nossos docentes para apropriação da educação midiática e para adotar a educomunicação como rotina nas escolas, a fim de formarmos gerações capazes de eliminar essa prática da sociedade a médio prazo”, comenta Sandhra.

Escola-Fake-News

Na visão da educadora, nas escolas, o enfrentamento das notícias falsas passa pelo letramento digital. “Trata-se da conscientização dos estudantes de que estão imersos em bolhas formadas pelos algoritmos, a partir do que pesquisam, postam, compartilham e comentam na internet, e orientação profunda sobre a produção, disseminação e efeito nocivo das fakes na sociedade, bem como a desconstrução das notícias para averiguação”, destaca.

Segundo Alexandre Sayad, educador, jornalista e cochairman da UNESCO MIL Alliance, a educação é parte da solução contra as fake news. “É muito importante a escola estar envolvida na questão da desinformação. É preciso olhar para a mídia desde a educação infantil até o fim do Ensino Médio, de forma sistêmica, porque a desinformação atinge outros atores da sociedade. A escola é parte da solução. A questão da desinformação diz respeito, sim, às fontes, mas também é um assunto mais amplo, que envolve diversos atores da sociedade”.

O caso finlandês

A Finlândia tem uma longa história de promoção da alfabetização midiática como uma ferramenta crítica para uma democracia estável e uma sociedade saudável. Desde a creche, a educação midiática no país está presente em todo o currículo educacional e não para quando a escola termina. A Semana de Alfabetização Midiática, celebrada na Finlândia todos os anos em fevereiro, tem por objetivo alcançar também os adultos.

Em entrevista publicada no portal ThisisFINLAND, Leo Pekkala, vice-diretor do Instituto Nacional de Audiovisual da Finlândia, uma agência governamental do Ministério da Educação e Cultura, comentou: “As pessoas precisam entender a mídia de forma crítica – quem a cria e por quê. Na década de 1950, o foco acadêmico estava nos meios de comunicação de massa, como televisão e jornais. Na década de 1980, elementos audiovisuais foram adicionados à educação midiática. Agora, muita atenção está na mídia digital.”

Segundo a reportagem, a educação midiática na Finlândia adota uma abordagem inclusiva para toda a sociedade. Diferentes organizações cívicas participam do desenvolvimento e da implementação de programas de aprendizagem, incluindo escolas, bibliotecas, departamentos governamentais, universidades e ONGs. 

Trata-se da visão sistêmica do impacto da informação na sociedade à qual se referia Sayad. “Todos estão envolvidos na busca no combate à desinformação. Dentro da Unesco, por exemplo, temos a participação das bibliotecas, dos museus, dos arquivos públicos, das ONGs e da cidade. Todo esse sistema funciona na Finlândia com a preocupação de olhar para a mídia de forma a que forneça informação de qualidade”, diz o cochairman da UNESCO MIL Alliance.

Do discurso à prática

“O problema da desinformação pode ser tratado de formas diferentes na escola, respeitando contexto e particularidades. É possível desenvolver projetos específicos de combate às fake news, mas creio que uma maneira ainda mais eficaz seja incorporar o tema ao currículo, de modo que possa ser tratado transversalmente e em várias oportunidades”, sugere Daniela, que complementa.

“Usemos como exemplo uma aula de ciências: é possível combinar o conteúdo sobre doenças virais e vacinas com um debate sobre as consequências da desinformação no campo da saúde. Em matemática, uma possibilidade é refletir sobre como gráficos podem ser construídos de modo a apresentar diferentes recortes de uma informação”, relata.

Fake-News

Sayad acrescenta que uma iniciativa ideal é aquela que não coloca a educação midiática como uma disciplina a mais na escola. "É um projeto que deve ser transversal na escola e conversar com muitas disciplinas. Vejo muitas oportunidades para um projeto contra as fake news estar ligado à área de linguagem, como um projeto interdisciplinar, que nasce na linguagem, mas que transita por outras disciplinas. Outra possibilidade é começar como parte de um itinerário formativo”, expõe.

Sandhra Cabral corrobora com Daniela e Sayad. “A escola tem papel decisório na resolução dessa questão, sendo a única forma de acabar com as fakes news, por meio de investimento pesado e focado em educação midiática e nos letramentos digital e informacional na educação formal de crianças, jovens e adultos”, analisa.

Conteúdo próprio

Projetos de criação de mídias nas escolas podem ser um caminho para conscientizar e alfabetizar os estudantes para que tenham ferramentas para analisar conteúdos e se defenderem das fakes news.

“É importante que a escola ofereça aos estudantes oportunidades para a produção de mídias, e não apenas atividades de leitura crítica das informações. Isso porque, fora da escola, é crescente o número de crianças e jovens com acesso à internet e às redes sociais e que já atuam como criadores de conteúdo em algum grau — sem necessariamente refletir sobre suas responsabilidades, sobre o alcance do que publicam e sua repercussão na vida de outras pessoas”, afirma Daniela Machado.

De acordo com os entrevistados, esses projetos de criação de mídias devem estar inseridos em um contexto maior de letramento informacional e digital, para que os estudantes compreendam como funcionam os mecanismos e as ferramentas de manipulação que regem a internet, orientando-os a pesquisar de forma adequada, em sites confiáveis, fazendo a verificação e curadoria dos conteúdos acessados.

Contexto brasileiro

Por ser um dos países que mais consome conteúdo digital no mundo, como está o Brasil em relação a projetos de educação midiática? “A educação midiática ganhou essa relevância agora, porque por conta das mídias digitais e da democratização da internet, por um lado, e da chegada da inteligência artificial, por outro. Isso eleva o tema que tem tocado nos sistemas democráticos no mundo todo. Mas a percepção de que essa é uma necessidade para o sistema educacional é ainda fraca no Brasil. E é essa percepção sistêmica é que precisa crescer”, avalia Sayad.

Para Daniela, de maneira geral, tem crescido o interesse pelo tema da desinformação nas escolas. “No EducaMídia, programa de educação midiática do qual faço parte, temos visto interesse cada vez maior na formação de professores para que compreendam melhor tais fenômenos ligados ao universo da informação e possam incorporá-los às aulas. Na rede pública, parcerias com secretarias municipais e estaduais de educação têm permitido inserir a educação midiática no currículo ou, em outros casos, desenvolver ações mais pontuais visando o combate às fake news. Escolas particulares também trabalham o tema, por meio de disciplinas eletivas, itinerários ou outros formatos”, conta.

Imprescindível para Daniela é reconhecer a educação midiática como um direito de todos os estudantes, para que possam acessar, analisar e criar informações, participando efetivamente do ambiente midiático de maneira crítica e responsável. “Documentos como a própria BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e o recém-aprovado Plano Nacional de Educação Digital reforçam a importância da educação midiática”, conclui.

 

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