Como gamificação e IA podem colocar alunos no centro da jornada de aprendizado
A diversidade das metodologias ativas de aprendizagem pode transformar a dinâmica tradicional de sala de aula, oferecendo experiências interativas e personalizadas para todos os perfis de alunos. A gamificação é a materialização de uma metodologia ativa, ao aplicar elementos de jogos, como pontuações, níveis e recompensas, para motivar e engajar os alunos no processo de aprendizagem.
Foi no início dos anos 2000 que o termo "gamificação" começou a ganhar mais destaque com a influência direta da evolução da indústria de videogames. Hoje, existem uma variedade de aplicativos e plataformas desenvolvidos para auxiliar os professores na prática pedagógica.
Carolina Pavanelli, head pedagógica da Árvore, plataforma gamificada de aprendizagem, lembra que a gamificação é uma metodologia estabelecida em outros países. "A primeira vez que me deparei com a ideia de gamificação foi antes da pandemia, em uma viagem à Finlândia. O que me chamou a atenção foi que, em várias escolas do país, havia jogos educativos nas salas de aula, seja uma lousa digital, seja Lego ou quebra-cabeças", lembra. Já em Nova York, por exemplo, a escola Quest to Learn baseia todo o currículo em gamificação. “Não é fácil de criar, mas quando o educador consegue implementar esses momentos, é nítido o aumento do engajamento dos alunos", diz Carolina.
Para o fundador e CEO da Jovens Gênios - plataforma adaptativa de aprendizagem e avaliação gamificada -, Bernard Caffé, a pandemia evidenciou a necessidade de metodologias mais atrativas para os estudantes no Brasil. Ele destaca que o foco do ensino, tradicionalmente centrado no professor, está passando por mudanças. "O grande diferencial que temos após a pandemia, aliado ao avanço da inteligência artificial generativa, é a necessidade de colocar os estudantes no centro da jornada de aprendizado", afirma Caffé.
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Ele ressalta que a gamificação oferece uma experiência mais leve e envolvente de aprendizagem. "Quando falamos de aprendizagem significativa, precisamos olhar para metodologias como o Universal Design for Learning, que considera não apenas o que o estudante está aprendendo, mas também o como e o porquê. A gamificação traz uma trajetória que trabalha o comportamento humano, ao compreender como o estudante aprende e traduzindo isso em uma linguagem de jogos o porquê ele deve aprender", explica. Caffé acrescenta: "A jornada de aprendizado não precisa ser sofrida; ela pode ser divertida. Nada melhor do que aprender se divertindo”.
Entretanto, a aplicação correta da gamificação exige atenção. Um dos maiores erros, segundo Caffé, é não considerar o público-alvo. Ele explica que temos professores imigrantes digitais ensinando nativos digitais, o que gera um descompasso geracional de interesses e desejos. Para evitar esse erro, é fundamental desenhar as regras e recompensas de forma clara, além de adaptar as experiências às necessidades dos estudantes. "Precisamos pensar em quem vamos inserir nesse processo e quais são os modelos mais eficientes", conclui.
IA + Gamificação = ‘match’ na sala de aula
Quando se trata do papel da inteligência artificial (IA) na educação, Caffé enxerga a IA como uma aliada essencial na personalização do ensino. "Inteligência artificial é basicamente o uso de ciências de dados, algoritmos e sequenciamentos matemáticos com lógicas estatísticas para replicar a inteligência humana", comenta ele.
O fundador e CEO da Jovens Gênios pontua que a IA generativa, popularizada com o ChatGPT, complementa a IA preditiva. "Na Jovens Gênios, usamos IA preditiva há mais de seis anos para recomendar trilhas de aprendizado personalizadas, com base em diversas análises em tempo real dos alunos", explica. A IA generativa, por sua vez, tem a capacidade de gerar conteúdos. “Ou seja, agora é possível criar uma trilha própria para o aluno, não apenas recomendar”, diz.
Caffé a IA está ligada a gamificação porque ao conhecer mais o comportamento humano, é possível personalizar a jornada dele nos jogos. "Os melhores jogos são aqueles em que me sinto parte do processo, pois estão personalizados para mim. A IA, seja generativa ou preditiva, é um recurso poderoso para potencializar a gamificação", ressalta ele.
Para além da gamificação em si, Carolina aborda a presença da IA na educação, destacando que, longe de ser uma ameaça, ela pode ser uma aliada poderosa. "A inteligência artificial não é o fim da educação, pelo contrário, ela pode ajudar e atualizar. Não é possível continuar dando o mesmo tipo de aula que se dava há 5, 10, 50 anos. E, daqui a cinco anos, a aula vai ter que ser diferente da de hoje", afirma.
Assista a entrevista de Carolina Pavanelli no Conexão Bett:
Ela acredita que o avanço de ferramentas como o ChatGPT transformará a dinâmica em sala de aula. "Hoje, os alunos têm acesso a ferramentas como o ChatGPT, que oferece uma riqueza de informações com base em bancos de dados globais, muito maiores do que o conhecimento individual de um professor. Quem ainda está no modelo de aula tradicional, de falar e copiar, está ficando para trás", destaca.
A head pedagógica da Árvore sugere que os professores devem abraçar essa nova realidade. "Não adianta ficar brigando contra a IA. Enquanto um professor resiste, outro está aprendendo a usar o ChatGPT para melhorar seu plano de aula, tornando a aula mais interessante e engajadora", argumenta Pavanelli, reforçando que já há muitos recursos disponíveis, muitos deles gratuitos, para auxiliar na adoção da IA.
A Árvore, por exemplo, oferece formações pedagógicas específicas para o uso de IA, respondendo à demanda das escolas. "A escola pede, e a gente faz uma formação com os professores sobre o uso de IA. O professor precisa se atualizar, porque o ChatGPT não vai roubar o trabalho dele. Pelo contrário, quem souber usar bem esses recursos será o profissional que vai se destacar", conclui.
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