O Dia do Professor tem origem na primeira lei sobre a educação básica no Brasil, promulgada por Dom Pedro I. Mais do que um dia de celebração, a data se torna um convite à reflexão sobre a importância da profissão que sustenta o desenvolvimento social e econômico do país.

Sem dúvida, o caminho mais eficaz para elevar a qualidade da educação é investir na valorização e na formação dos professores. Portanto, no Dia do Professor, celebrar é também reconhecer os desafios que persistem.

A valorização da carreira, o cuidado com a saúde mental e a formação de qualidade são pilares fundamentais para fortalecer a docência no Brasil. Sem professores bem formados, reconhecidos e saudáveis, não há futuro possível para a educação de qualidade no país.

Políticas públicas e valorização da carreira docente

Um olhar positivo é que o governo federal tem sinalizado um compromisso com a valorização do magistério. Em janeiro deste ano, o Ministério da Educação (MEC) anunciou o Programa Mais Professores, que busca fortalecer a formação docente e incentivar o ingresso e a permanência na carreira.

A iniciativa se organiza em cinco eixos: seleção por meio da Prova Nacional Docente; incentivo financeiro para licenciaturas com a Bolsa Pé-de-Meia; Bolsa Mais Professores para a atuação em regiões com déficit de docentes, formação continuada por meio de portal digital e políticas de reconhecimento social da profissão, estabelecidas por meio de parcerias com outros ministérios e órgãos públicos.

Outra iniciativa que deve ganhar força é a Carteira Nacional Docente do Brasil (CNDB), documento de identificação que visa promover o reconhecimento social dos professores. Com o CNDB, o professor terá descontos em eventos culturais (cinema, teatro e shows), acesso a cartão de crédito pela Caixa Econômica Federal ou Banco do Brasil sem cobrança de anuidade e o direito a 15% de desconto em diárias de hotéis, em parceria com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH Nacional).

O Mais Professores do MEC representa um passo importante, porém vale ressaltar que as políticas públicas para o magistério são urgentes e exigem continuidade e coerência entre os diferentes níveis de governo.

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Até 2040, o Brasil poderá ter déficit de até 235 mil docentes na educação básica, segundo dados de projeção feita pelo Instituto Semesp, representante das instituições mantenedoras do ensino superior no país.

Ou seja, o plano de valorização dos professores precisa avançar a passos largos e com ações no longo prazo para a educação não perder talentos para outras áreas mais atrativas.

Saúde mental: o cuidado com quem cuida

O trabalho docente vem sendo marcado por altos índices de adoecimento emocional. Um levantamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) indica que um terço dos professores da educação básica sofre de síndrome de Burnout.

Nos eventos organizados pela Bett Brasil, a saúde mental é uma temática sempre recorrente. A diretora executiva do Centro Lemann de Liderança para Equidade na Educação, Anna Penido, reforçou que as competências socioemocionais também precisam ser trabalhadas entre os profissionais da educação.

“Gestores e professores vivenciam situações desafiadoras, nas quais o enfrentamento exige mais do que competências técnicas. O baixo engajamento dos estudantes, os conflitos e as reações intempestivas que impactam a qualidade do clima escolar, a fragilidade dos vínculos de afeto, confiança e pertencimento na escola, são exemplos disso. Todas essas questões demandam um conjunto de competências sociais e emocionais por parte dos profissionais da educação, que também precisam ser acolhidos, cuidados e apoiados no desenvolvimento de capacidades como autoconhecimento, autocuidado, empatia, colaboração, abertura, flexibilidade, resiliência, entre outras”, explicou.

O desenvolvimento socioemocional dos profissionais desempenha um papel essencial no ambiente escolar. Quando fortalecem suas próprias competências emocionais, os educadores aprimoram as relações interpessoais e se tornam mais aptos e confortáveis para promover a aprendizagem dessas mesmas habilidades entre os alunos.

Formação docente: o desafio da qualidade

A formação inicial dos professores brasileiros ainda enfrenta grandes lacunas. Segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2024, um em cada três professores da rede pública não possui formação adequada na disciplina que leciona, e 12,8% dos docentes não têm graduação.

A diretora da Faculdade da Educação (Feduc), Rosemary Schettini, avaliou que a formação inicial de professores necessita de uma profunda reavaliação. Para ela, a formação docente ainda foca excessivamente na teoria, com pouca aplicação prática, o que compromete a preparação dos futuros educadores.

Ela aponta também desafios estruturais, como a predominância de estudantes de baixa renda em cursos noturnos e na modalidade a distância, o que dificulta o cumprimento das exigências de estágio supervisionado. “É preciso adotar modelos de residência pedagógica, que aproximem o aluno da realidade escolar desde o início da formação”, sugeriu.

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