Educação emocional nas escolas forma jovens mais empáticos e equilibrados
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Em um cenário de aumento nos índices de ansiedade, depressão e dificuldades de convivência entre os jovens, especialistas apontam que o ambiente escolar é o espaço ideal para trabalhar o desenvolvimento de habilidades comportamentais (soft skills).
A proposta não é substituir o conteúdo acadêmico, mas compreender que o aprendizado integral envolve também aspectos emocionais e relacionais.
Para o médico, educador e escritor Jairo Bouer, a inclusão dessas temáticas no currículo escolar precisa acontecer de forma natural e integrada às disciplinas. “É muito importante garantir a discussão da saúde mental e do desenvolvimento das habilidades socioemocionais no currículo, sem perder o foco nos conteúdos formais”, afirmou.
Ele explica que as próprias aulas podem ser oportunidades para abordar o tema: “Isso pode ser feito na aula de biologia, geografia, português ou redação. São muitas as possibilidades de aproveitar o conteúdo para discutir questões socioemocionais”.
Bouer defende que o cotidiano escolar deve ser um espaço permanente de reflexão sobre emoções, empatia e convivência. “Os professores e educadores precisam estar atentos às oportunidades de trazer essas discussões. Podemos também criar momentos específicos para falar sobre saúde mental, empatia, o impacto das tecnologias ou a importância das relações. A escola é o melhor palco para isso, porque é onde os jovens convivem e aprendem a lidar uns com os outros”, ressaltou.
A professora Rafaella Cursino, da Faculdade Pernambucana de Saúde, compartilha dessa visão. Para ela, o espaço escolar deve garantir não apenas a instrução acadêmica, mas o desenvolvimento pleno da criança e do adolescente. “Quando a gente pensa na escola, precisa pensar também em cidadania, ética e convivência. A participação ativa dos estudantes, o protagonismo estudantil e o trabalho com cooperação e respeito à diferença são competências fundamentais”, afirmou.
De acordo com Rafaella, cabe ao professor olhar para além do conteúdo e refletir sobre o impacto emocional e social das atividades pedagógicas. “É preciso pensar na intencionalidade das ações. Que tipo de cooperação temos estimulado? Como temos trabalhado coletivamente? Essas perguntas ajudam a direcionar práticas que desenvolvem as habilidades socioemocionais de forma estruturada”, avaliou.
Rafaella Cursino durante painel na Jornada Bett Nordeste 2025. Foto: Bett Brasil
Em todo o mundo, há exemplos inspiradores de políticas que associam a educação emocional ao currículo. Bouer cita o caso do Reino Unido, que recentemente inseriu a discussão sobre gentileza e empatia nas escolas. “Os alunos terão um espaço específico para debater esses valores. É uma resposta à crise de empatia e diálogo que vivemos. A ideia é mostrar para os jovens que a empatia é uma habilidade que pode ser desenvolvida, e que isso tem impacto direto em todos os relacionamentos”, explicou.
Outro exemplo é a Finlândia, com o programa Kiva, criado para prevenir o bullying desde as séries iniciais. “O Kiva nasceu após episódios graves de violência escolar e mostrou resultados muito bons porque trabalha a prevenção, e não só a resolução de conflitos. Ensina as crianças a reconhecer e lidar com o bullying, promovendo empatia, respeito à diversidade e responsabilidade coletiva”, destacou Bouer.
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No Brasil, práticas simples também podem gerar grande impacto. Rafaella cita o trabalho com a literatura como uma ferramenta poderosa para abordar emoções e valores. “Os professores podem escolher livros que tratem de temas como diversidade, amizade, inclusão e respeito ao outro. E, mais do que isso, podem promover atividades em que estudantes mais velhos lêem para os mais novos, estimulando o senso de responsabilidade. O aluno não está apenas lendo — ele está sendo um modelo e aprendendo sobre convivência e solidariedade”, observou.
Apesar dos avanços, os desafios ainda são muitos. Para Bouer, o primeiro passo é sensibilizar os educadores. “Como qualquer mudança de comportamento, isso é um processo. Algumas pessoas são mais abertas, outras mais resistentes. É preciso construir uma cultura de diálogo dentro da escola”, afirmou. Ele também defende o envolvimento das famílias e da comunidade. “É importante mostrar por que falar sobre saúde emocional faz diferença. Quando o aluno se sente próximo do professor, ele se engaja mais, cria um senso de pertencimento e participa ativamente da construção de um ambiente mais saudável”, finalizou.
Na avaliação de ambos os especialistas, desenvolver competências socioemocionais não é um luxo ou um modismo, mas uma necessidade urgente.
O conteúdo desta matéria tem como base a participação do médico, educador e escritor Jairo Bouer e da Rafaella Cursino, professora da Faculdade Pernambucana de Saúde, na Jornada Bett Nordeste 2025.
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