Educação e transformação social
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.” (Paulo Freire). Conhecer para transformar é possibilitar pensar o novo, reinventar o pensar; eternizar vivências, que permitam a formação de cidadãos com novos olhares e percepção do outro e de si mesmo. A escola precisa redimensionar o seu pensar, uma educação capaz de ouvir, participar da realidade, discutindo-a e colocando como perspectivas possibilidades de mudar essa realidade. Compreender que o homem é um ser histórico, capaz de construir sua história participando ativamente com os outros no mundo.
Uma educação transformadora é capaz de promover mudanças por meio da leitura do espaço; o qual traz em si todas as marcas da vida dos homens, construído cotidianamente e que expressa tanto as nossas utopias, como os limites que nos são postos; é oportunizar a reflexão sobre o papel de sujeitos de nossa História, mobilizando para os caminhos de acesso ao conhecimento, associada a cultura, leitura crítica da realidade, desafiando-nos para que percebamos que o mundo pode ser mudado, transformado, reinventado.
A escola tem como desafio nos dias atuais a formação do cidadão para que este tenha conscientemente participação social, política e atitudes críticas diante da realidade que vive, oportunizando uma atuação e transformação da realidade histórica na qual está inserido para que se possa viver na sociedade de forma autônoma e responsável.
É imprescindível que a sociedade e o Estado percebam e assumam que a escola é uma instituição social plural, que se educa para a vida e para a cidadania, sendo o agente educador e social fundamental da nossa vida. Se fazendo necessário, repensar o significado da transformação social no cenário educacional e assim buscar para o nosso país, uma Educação Libertadora; como defendeu e propôs Paulo Freire, pois fiel aos princípios de uma educação libertadora, ele soube reinventar-se nos tempos e nos espaços em que viveu.
Assim, um dos desafios da educação é inspirar, criar e recriar possibilidades de lutas contra o preconceito, a violência, a alienação, o autoritarismo, enfim uma nova ressignificação da atuação pedagógica para aceitar e incluir as diferenças do outro, das nossas próprias diferenças e assumir uma postura diante das diferenças produzidas ao longo da História da Humanidade. Na perspectiva de Paulo Freire, o desenvolvimento da consciência está vinculado a um processo pedagógico, a uma educação libertadora. Essa proposta defende uma educação problematizadora, conscientizadora e permeada pelo diálogo, que estimula a criatividade, a reflexão e a ação do homem na sociedade. (FREIRE, 2000, p. 102).
O educador e o educando refletem sobre a realidade de forma crítica, produzindo conhecimento com e no mundo, com uma atitude mais crítica e autônoma, na consciência crítica das relações do homem com o mundo e os outros homens; são aspectos importantes na teoria de Freire.
A escola que queremos é mediadora da aprendizagem, que tem como objetivo e responsabilidade transformar os alunos em pessoas, provocando uma verdadeira transformação social. É preciso trabalhar com a possibilidade de encontrar formas de compreender o mundo, produzindo um conhecimento que é legítimo; é um desafio que motiva a escola a desencadear a procura, a aprender e reaprender a ser protagonista de sua própria história e não ser simplesmente espectadora da vida.
Aprendendo a buscar a transformação capaz de tornar o espaço mais justo, a construir a cidadania, desenvolvendo habilidades necessárias para a vida cotidiana, a partir de experiências vividas e decorrentes das ações dos próprios homens; são competências que precisam ser desenvolvidas dentro de uma escola.
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O ensino hoje, deve partir da vida, das situações cotidianas, para que seja um estudo com significado. É preciso que o professor tenha claro essa questão ao desenvolver os conteúdos selecionados. Nesse contexto, o professor necessita pensar e propor diversas situações de ensino-aprendizagem, nas quais os alunos terão a oportunidade de construir soluções para as situações, verificá-las, pensando e repensando sobre elas; Visando favorecer a formação do cidadão para que este assuma formas de participação social, política e de atitudes críticas diante da realidade que o cerca, aprendendo a discernir limites e possibilidades em sua atuação e transformação da realidade histórica na qual está inserido. Segundo Fonseca, são pessoas, sujeitos históricos, que cotidianamente atuam, transformam, lutam e resistem nos diversos espaços de vivências: em casa, no trabalho, na escola. (FONSECA, 1997, p. 18).
Para se alcançar uma educação transformadora se faz necessário fomentar a interdisciplinaridade a fim de dimensionar o ensino e aprendizagem, bem como a construção do saber. Este saber específico se faz necessário para que se entenda a relação entre diferentes tempos, significando então reconhecer o valor do passado para o presente e o futuro. Reconhecendo a importância de contemplar o ser humano como um todo, estabelecendo uma conexão do indivíduo com o meio, na formação dos cidadãos nas suas concepções mais amplas e democráticas. Em outras palavras, constituindo-se desta forma em um processo educativo fundamentalmente democrático, pelo desenvolvimento de capacidades de percepção, crítica e autoconhecimento com sujeitos de um tempo e lugar.
Compreender esse processo de transformação social, é fazer com que o homem escreva sua história, produza cultura e se perceba enquanto sujeito histórico. A escola possui papel relevante, na construção da cidadania e na emancipação social e política dos sujeitos. Problematizar os fatos é fazer com que o aluno seja estimulado na construção do saber intervindo de forma consciente enquanto no mundo e tenha o conhecimento de si mesmo como sujeito Histórico, contribuindo na construção da realidade, inspirando o interesse pela busca, por uma vivência dinâmica, em construção; buscando compreender o funcionamento daquele universo que o cerca.
A escola deve educar para a vida e na vida, desde bem cedo, entendendo a sociedade como um espaço de realizações instigando no aluno a formação de uma consciência crítica e cidadã. Para isso, será necessário, que a escola tenha clareza de seu currículo, de sua proposta pedagógica, de seu sistema de avaliação no processo de ensino e de aprendizagem, na ação educativa; discutindo-a, e colocando como perspectiva a possibilidade de mudar essa realidade, repensar a formação de homens capazes de transformar, caracterizada pela ação transformadora do mundo.
A compreensão de ser no mundo, com o mundo e para o mundo; o mundo pode ser mudado, transformado, reinventado. Segundo, Paulo Freire, uma escola em que “o direito de saber melhor o que já sabem, ao lado de outro direito, o de participar, de algum modo, da produção do saber ainda não existente” (FREIRE, 2006, p. 111).
É notório na sociedade capitalista, a qual pertencemos, evidenciar que a educação deve estar voltada para a preparação de jovens para o mercado de trabalho. Porém, enquanto profissionais da educação, não podemos reduzir nosso trabalho no mundo moderno, a prestar nossos serviços apenas para atender aos interesses de um sistema econômico, que intensifica as desigualdades sociais e diminui a ação do homem como protagonista de sua própria História.
É preciso oportunizar novos saberes e reconstruções do mesmo, mesmo que para isso precisamos descontruir verdades, atuando como instrumento de reconstrução, na transformação social. Oportunizando aos indivíduos serem ativos na sociedade em que vivemos; aplicados a novas descobertas e formas de aprender, questionadores de forma crítica aos modelos aplicados, de forma a superar as mazelas e desafios impostos no mundo em que vivemos. Em outras palavras, compreender e apreender o mundo a sua volta.
Sobre a autora:
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Simone Viana
Mestre em Políticas Sociais
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Bett Brasil.
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