HumaNÓS e o poder da colaboração: quando a escola se torna um coletivo
Com o tema central “Inteligências Individuais, Coletivas e Artificiais: todas em nós, agora! Quando elas dialogam, a educação se transforma”, a Bett Brasil, o maior evento de Inovação e Tecnologia para a Educação da América Latina, chega à sua 31ª edição, de 5 a 8 de maio de 2026, no Expo Center Norte, em São Paulo. Para aprofundar o macrotema, o Bett Blog inicia uma série de quatro matérias dedicadas aos subtemas que estruturam a programação do evento.
Neste texto, será abordado o ‘Eixo HumaNÓS – Inteligências Coletivas’, que destaca a força da inteligência coletiva, presente na gestão escolar, na sustentabilidade ambiental, social e de governança e nas redes de colaboração.
Traz ainda o protagonismo da educação e o reencantamento docente, com práticas que renovam o sentido da profissão. Além de integrar o papel das redes sociais e plataformas digitais como espaços de pertencimento, aprendizagem e convivência — ao mesmo tempo em que desafiam a escola na mediação de conflitos e no combate ao cyberbullying.
A inteligência coletiva tem ganhado centralidade nas discussões educacionais por responder a uma demanda contemporânea: a aprendizagem e o trabalho deixaram de ser processos individuais para se tornarem experiências em rede.
Para o conselheiro da Bett Brasil e superintendente de Educação Profissional e Superior do SENAI, Felipe Morgado, essa mudança precisa estar no centro da ação das escolas. “O mundo do trabalho, para o qual preparamos os alunos, é fundamentalmente colaborativo”, afirma.
Segundo ele, as competências mais valorizadas, como resolução de problemas e pensamento crítico, dependem da troca, da escuta e da ação conjunta. A escola, portanto, deve funcionar como laboratório dessa cultura, antecipando para os estudantes a dinâmica que enfrentarão fora dela.
O sentimento de pertencimento para docentes e alunos é parte essencial dessa construção. Morgado destaca que, ao romper o isolamento histórico da docência, a colaboração fortalece a confiança e a capacidade de inovar.
Entre estudantes, o pertencimento se torna base para a segurança psicológica necessária à aprendizagem, especialmente diante de desafios como cyberbullying e disputas simbólicas nas redes sociais. “A escola como ‘coletivo seguro’ é o principal fator de proteção”, reforça.

Felipe Morgado explica as principais discussões do subtema 'HumaNÓS' da Bett Brasil 2026. Foto: Reprodução
Os impactos positivos da inteligência coletiva também se expressam na gestão escolar. “Saímos da gestão de problemas para a gestão de projetos coletivos, como iniciativas de convivência e ações ESG. A escola se torna mais resiliente, pois capta soluções em rede, e se especializa no que é insubstituível na era da IA: a empatia, a ética e a construção de consensos”, avalia o conselheiro da Bett.
Esse olhar também aparece nas reflexões aprofundadas pela pedagoga Sandra Scapin, em seu artigo “Escolas: ambientes seguros para alunos e professores”, publicado no Bett Blog. Para ela, o pertencimento nasce quando a escola se torna um ambiente no qual crianças e adolescentes se sentem reconhecidos, valorizados e compreendidos em suas múltiplas características.
Acolher a diversidade e trabalhar pela equidade, afirma a pedagoga, é condição para que a aprendizagem aconteça de forma plena. Sandra ressalta ainda que a segurança se constrói na clareza das normas e na existência de adultos reconhecidos como mediadores de conflitos — figuras que, pela escuta ativa e pelo diálogo, transformam tensões em oportunidades de crescimento.
Sandra observa também que a conexão entre famílias, estudantes e educadores fortalece a corresponsabilidade e favorece uma visão compartilhada sobre a importância da convivência no ambiente escolar. Segundo ela, ao estimular práticas de cooperação e canais transparentes de comunicação, a escola amplia sua capacidade de prevenção, atua mais cedo em conflitos e se torna um espaço em que todos reconhecem seu papel na manutenção de um ambiente seguro.
Formação continuada de professores
A formação continuada aparece como outro pilar dessa inteligência coletiva. Morgado defende que ela é estratégica para o “reencantamento” docente, desde que abandone o modelo transmissivo e volte às questões reais da prática escolar. “O professor se torna protagonista quando é convidado a ser um pesquisador da própria prática”, diz.
Para ele, a formação mais eficaz é aquela que acontece entre pares. “Quando professores compartilham e constroem soluções em comunidades de prática, eles renovam o sentimento de pertencimento”, afirma.
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O conselheiro da Bett destaca ainda que, ao dominar novos desafios da contemporaneidade, o professor experimenta um sentimento de competência, e a competência gera o protagonismo.
Essa perspectiva converge com o artigo do professor e Centro de Estudos Avançados (CEA) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ronnei Prado Lima, “Formação continuada: o protagonismo docente como base transformadora”, publicado na Folha de Pernambuco, no qual reforça a importância de colocar o docente no centro da própria formação.
Amparado nas reflexões da educadora Magda Soares, Ronnei defende que a formação precisa reconhecer o professor como autor de conhecimento, e não apenas receptor de conteúdos. Grupos de estudo, comunidades de prática, pesquisa-ação e espaços de debate ampliam a identidade profissional, fortalecem a colaboração e criam ambientes de troca capazes de transformar o cotidiano escolar. “Esse ciclo contínuo promove uma formação mais significativa, já que conecta teoria e prática de forma orgânica”, diz.
Ao integrar as vozes de gestores, professores, estudantes e famílias, o subtema HumaNÓS evidencia que a educação se transforma quando o coletivo se reconhece como corresponsável.
Em tempos de desafios complexos, a inteligência coletiva se mostra não apenas uma estratégia pedagógica, mas uma condição para construir escolas mais seguras, humanas e capazes de formar cidadãos que atuam com empatia, ética e colaboração.
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