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03 jun 2025

Escolas: ambientes seguros para alunos e professores

por Sandra Andrade Scapin
Escolas: ambientes seguros para alunos e professores
Em tempos de tantas reflexões sobre violências nas escolas, vamos refletir sobre atitudes propositivas para uma escola acolhedora para todos

As duas instituições prioritariamente formativas de crianças e adolescentes são a família e a escola. Estes dois espaços de convivência deveriam ser espaços de cuidado, segurança, acolhimento e afetividade, mas, infelizmente, nem sempre tem sido assim!

Tanto a família como a escola têm sido espaços de muitos desafios, às vezes até contravalores, onde adultos não conseguem estabelecer-se como modelos positivos, onde falta diálogo, conhecimento do outro, empatia e referência de uma autoridade dialógica que construa um espaço de reflexão e pertencimento para nossas crianças e jovens.

Além disso, todos, desde a primeira infância, têm mergulhado nos ambientes digitais e neles têm se perdido em redes e plataformas que têm afastado crianças, adolescentes e adultos do mundo real.

Por certo isso acontece, porque família e escola são vítimas de tudo que vem acontecendo na sociedade: inversão de valores, modelos sociais contraditórios, violências variadas, ansiedades que desequilibram, depressão que paralisa...enfim precisam voltar seus olhares para dentro de si e reconstruir suas histórias para favorecer o desenvolvimento maduro das novas gerações.

Começo, então, minha reflexão a partir do olhar para a escola, porque acredito que ela possa ser um espaço de transformação e formação para si própria e para as famílias.

Muitas pesquisas recentes nos mostram que crianças e adolescentes precisam sentir-se pertencentes ao espaço escolar para que possam sentir-se motivados a aprender. Esta característica, inclusive, é muito particular para adolescentes!

Para que este pertencimento aconteça de forma natural, é fundamental olharmos para a segurança que devem sentir neste espaço. Para sentirem-se seguros no ambiente escolar, os alunos precisam sentir-se conhecidos, olhados e compreendidos em suas múltiplas características e, assim sendo, a escola precisa ser um espaço que acolhe a diversidade e desenvolve um trabalho pedagógico de equidade para favorecer a efetiva aprendizagem dos múltiplos perfis de alunos que recebe, atendendo, assim, a inclusão de todos os alunos.

Ainda olhando para a segurança, é fundamental que a escola seja um espaço de diálogo e de autoridades reconhecidas em que os conflitos que emergirem possam ser trabalhados como momentos de desenvolvimento da personalidade e crescimento pessoal e não se transformem em estopins de violências diversas.

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Para isso, se faz necessário dar conhecimento à toda a comunidade escolar (famílias, alunos, colaboradores) das normas, do regimento escolar que darão estrutura à mediação dos conflitos que surgirem e, também, e para isso, teremos que contar com adultos reconhecidos pela comunidade para atuarem como mediadores de tantas questões que emergem no cotidiano.

A partir daí, outro aspecto fundamental é que todos os adultos pertencentes à instituição escola reconheçam sua importância como modelos, como referência de valores e atitudes. Estes adultos precisam ter conhecimento das características da faixa etária com as quais trabalham, desenvolver uma escuta ativa e reflexiva, estabelecer diálogos abertos, sensatos e que transitem por diferentes assuntos, sem preconceito ou discriminação.

Estes adultos, educadores institucionais, precisam ainda desenvolver projetos e campanhas antibullying, contra racismo e quaisquer formas de discriminação, dentre tantos outros temas para que todos os alunos possam sentir-se mais seguros entre os pares e com os adultos da escola.

Desafiador demais tudo isso para nossos professores, não é?! Mas aí entra a atuação tão importante da gestão que é outra instância importante para garantir uma escola acolhedora.

Compete à gestão desenvolver um programa de formação para seus educadores que contemple variados temas que fortaleçam a atuação de docentes e colaboradores para atuar diante de diferentes demandas: fases do desenvolvimento, competências socioemocionais, competências pedagógicas, temas da atualidade e muito mais, porém sem esquecer de favorecer um ambiente de acolhimento, escuta e diálogo também para os professores que precisam ter sua saúde mental cuidada para estarem inteiros nas relações com seus alunos.

A escola precisa se constituir como rede de apoio entre pares e com os gestores para que todos sintam-se corresponsáveis pelo desenvolvimento do aluno e da própria equipe.

Para além desta segurança, a escola precisa ser um espaço de cuidado e acolhimento onde, a partir do olhar para o aluno e para o professor, para o reconhecimento das suas características, a escola seja um espaço de valorização de talentos e respeito às dificuldades. Os educadores institucionais precisam abrir-se para novas formas de ensinar, reconhecendo as diferentes maneiras que oportunizam a efetiva aprendizagem do aluno, precisam fazer uso de diferentes metodologias que tornem o aluno mais protagonista de seu processo, valorizar e dar feedbacks aos alunos para que aqueles que estão no caminho certo prossigam e aqueles que estão se desviando dos objetivos possam rever suas rotas com a ajuda dos adultos.

Importante aqui, também, favorecer o desenvolvimento de redes de valorização mútua, desenvolver projetos em que cada um dê o seu melhor naquilo que tem um talento pessoal, permitindo que múltiplas linguagens e formas de expressão sejam valorizadas. Devem ainda respeitar dificuldades, ter um olhar amoroso e acreditar na transformação do outro.

Outra característica de uma escola acolhedora é a afetividade que se manifesta no olhar, nos diálogos e nas atitudes. Para além da atitude de modelagem que o adulto deve adotar, a escola deve incorporar ao seu currículo escolar, aulas, materiais, projetos e campanhas que tragam este aspecto para a pauta.

Ainda que o aluno não tenha este modelo na família, a escola precisa oferecer atividades que reforcem os vínculos e que as situações de violência sejam administradas com rigor, mas com respeito e empatia. Estes vínculos precisam trazer as famílias para dentro do espaço escolar, por meio de atividades pedagógicas interativas, festas, datas comemorativas, reuniões de pais...


Dito isto, vamos olhar para a família!

Sabemos que muitas famílias se sentem perdidas na educação dos filhos e muitas vezes isentam-se de suas responsabilidades e, com isso, crianças e adolescentes não se sentem pertencentes a este espaço e buscam, no ambiente externo, nas redes e jogos online, este pertencimento tão importante para a faixa etária, esta escuta e o acolhimento não recebido.

Diante deste quadro, pesquisas recentes mostram crianças e adolescentes a cada dia mais perdidos, presas fáceis na mão de aliciadores, pedófilos, consultórios repletos de casos de ansiedade e depressão, enfim, crianças e adolescentes que não percebem segurança, acolhimento, cuidado e afetividade em suas casas e consequentemente, apresentam perdas na aprendizagem e queda no rendimento escolar.

E onde será que estas famílias poderão reaprender seu papel? Penso que, num primeiro momento, na escola, que deverá se colocar como parceira e modelo; que deverá abrir suas portas para acolher as famílias, oferecer formações em diferentes temas, estabelecer diálogos particulares com as famílias, atuar como mediadora de conflitos entre as famílias, chamar os pais a participarem da vida escolar.

E não posso encerrar minha reflexão de hoje indo para além destes olhares no âmbito formativo. Não podemos nos esquecer de que o professor precisa voltar a ser valorizado pela sociedade, não podemos permitir que jovens e famílias desqualifiquem o papel e a importância do educador.

Professores e professoras não podem ser alvo de nenhum tipo de violência e isso começa pela valorização que família e o Estado devem dar a este profissional.  Reconhecimento profissional, valorização da autoridade docente, uma legislação eficiente que não admita violência contra docentes e conscientização de toda comunidade contribuirão para o desenvolvimento de uma cultura apaziguadora que coloque num mesmo ambiente alunos mais motivados e educadores seguros e comprometidos com a construção de uma sociedade melhor!

Sobre a autora:


*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Bett Brasil.

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