IA personaliza o ensino superior, sem alterar currículos, diz especialista
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A Inteligência Artificial (IA) está revolucionando o ensino superior ao permitir uma aprendizagem mais adaptada às necessidades individuais dos alunos. Segundo Maurício Garcia, cientista digital da Solvertank, a personalização do ensino, que já foi uma meta almejada há anos, agora ganha força com uma nova abordagem.
"O conceito da 'aprendizagem adaptativa' já esteve em alta no passado, propondo trilhas personalizadas para cada aluno com base em suas preferências e gaps de aprendizagem. No entanto, essa abordagem exigia grandes alterações curriculares e gerava desafios logísticos e financeiros. Com os avanços recentes da IA, a personalização volta ao debate, mas de uma forma mais viável: por meio do 'conteúdo adaptativo', que não requer alteração nas estruturas curriculares, apenas os conteúdos apresentados em cada aula que são personalizados", explica Garcia.
De acordo com ele, essa transformação será mais perceptível no ensino a distância, onde alunos já estão conectados a sistemas digitais. "No EAD, acredito que veremos mudanças significativas, inclusive com a geração de conteúdo em tempo real. No ensino presencial, o impacto tende a ser menor", afirma.
Para demonstrar na prática os benefícios da IA no aprendizado, Garcia tem desenvolvido soluções educativas gratuitas na plataforma SolverEdu, onde disponibiliza códigos abertos para que qualquer pessoa possa acessá-los.
Desafios éticos
A crescente adoção da IA nas instituições acadêmicas também levanta questões éticas, especialmente no que diz respeito à avaliação dos alunos. De acordo com Garcia, nos Estados Unidos, onde a frequência nas aulas presenciais não costuma ser controlada e as notas são baseadas em trabalhos, universidades renomadas como Harvard, Duke e Princeton têm registrado taxas de absenteísmo de até 70%. "Os alunos estão utilizando a IA de forma massiva para realizar suas tarefas, e isso está gerando preocupações", observa ele.
Cientista digital Maurício Garcia será um dos palestrantes do Fórum Ahead by Bett. Foto: Arquivo pessoal.
Apesar dos desafios, ele destaca que a IA já faz parte do cotidiano acadêmico e que tanto alunos quanto professores estão utilizando essa tecnologia. "As instituições precisarão reformular seus modelos pedagógicos, considerando que os alunos inevitavelmente usarão IA. Neste sentido, a discussão ética sobre o uso da IA está muito mais relacionada com seus impactos na sociedade, como o desemprego, a desinformação e a deterioração do meio ambiente, do que propriamente no ambiente acadêmico no que se refere aos processos de avaliação”.
O novo papel do professor
Com a IA cada vez mais presente no ensino superior, o papel do professor também está em transformação. Segundo Garcia, o impacto da IA será diferente conforme a modalidade de ensino. "No EAD, a IA atuará em diversas frentes, desde a geração de conteúdo até a correção de atividades e suporte aos alunos. O professor terá um papel mais voltado para o design curricular e supervisão da IA nas atividades", explica.
Já no ensino presencial, ele acredita que a automação será mais limitada. "A IA será usada principalmente no planejamento das aulas e na correção de tarefas, por meio de aplicativos especializados. No entanto, fora da sala de aula, os alunos contarão com sistemas semelhantes aos desenvolvidos para a educação a distância", acrescenta.
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Para lidar com essa nova realidade, Garcia defende que a formação dos docentes deve ser ampliada. "Os professores precisarão adquirir conhecimentos em design curricular, uso da IA e, principalmente, desenvolvimento de sistemas educacionais baseados em inteligência artificial. Saber programar, ao menos conceitos básicos de Python, será essencial", conclui.
Maurício Garcia estará presente no Fórum Ahead by Bett, durante a 30ª edição da Bett Brasil, na palestra “Inteligência Artificial e o Novo Paradigma na Educação Acadêmica”, no dia 30 de abril, às 10h. Para participar do Fórum Ahead by Bett, inscreva-se aqui.
Brasil é um dos polos de IA na América Latina
Na corrida global pelo desenvolvimento de IA, o Brasil se consolida como um dos principais pólos da tecnologia na América Latina. O país conta com 144 unidades de pesquisa dedicadas ao tema, conforme levantamento do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE).
A produção científica nacional na área colocou o país na 15ª posição no ranking mundial de publicações acadêmicas entre 2000 e 2022. Além disso, os investimentos públicos em IA devem alcançar R$ 22 bilhões até 2028, com cada real investido pelo setor público correspondendo a R$ 3,34 do setor privado.
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