Inovação aberta: o futuro da educação está na colaboração
A inovação é uma necessidade indiscutível em todos os setores, e na educação não é diferente. Instituições educacionais, sejam da educação básica, profissional ou superior, estão percebendo a urgência de adotar novas tecnologias e estratégias para se manterem competitivas e relevantes em um mundo em rápida transformação. Todos sabem a importância de inovar e o impacto das inovações no dia a dia, no entanto, a inovação corporativa é mais ampla que a aquisição de plataformas e salas coloridas.
Em um mercado de trabalho imerso em transformação digital, indústria 4.0, bioeconomia e transição energética, novas competências estão sendo exigidas dos profissionais.
Segundo o Fórum Econômico Mundial, até 2027, seis em cada dez trabalhadores precisarão se requalificar e o Mapa do Trabalho Industrial 2025-2027, elaborado pelo Observatório da Indústria, identificou que o Brasil precisará qualificar 14 milhões de profissionais. Crescem profissões como especialistas em inteligência artificial, sustentabilidade e machine learning, e habilidades como pensamento crítico, criatividade, resolução de problemas e o uso de tecnologias digitais serão cada vez mais importantes. Neste contexto, não cabe uma abordagem tradicional para construir competências cada vez mais diferenciadas.
A tecnologia também tem um papel fundamental na inclusão. Ferramentas como inteligência artificial, plataformas adaptativas e tecnologias assistivas podem personalizar o aprendizado, garantindo que estudantes com diferentes demandas ou necessidades especiais recebam o suporte adequado. Trata-se também de um desafio para viabilizar e disponibilizar a tecnologia para todos.
O estudo TIC Educação 2023 identificou que apenas 55% das escolas brasileiras utilizam tecnologias digitais para atividades educacionais e com disparidades regionais e socioeconômicas. O Relatório Global de Monitoramento da Educação de 2023 da UNESCO afirma que os avanços expressivos na tecnologia digital estão transformando o mundo rapidamente, mas ainda promovem mudanças desiguais.
Para enfrentar o ODS 4 (Educação de qualidade), o relatório indica que é preciso utilizar a tecnologia de forma igualitária, escalonável e sustentável, contribuindo para alcançar melhores resultados na aprendizagem e complementar uma educação baseada na interação humana.
Sendo assim, nas escolas a abordagem precisa ser sobre tecnologia e com tecnologia. E da mesma forma, sobre inovação e com inovação, pois tecnologia e inovação não são sinônimos e nem sempre a inovação vem por novidades tecnológicas.
Inovação como processo, envolve estabelecer sua sistemática e desejo genuíno de explorar o novo, entendendo que é possível fazer isso de diversas maneiras diferentes e que experimentação e riscos estão envolvidos. Em um ambiente tão regulado e complexo como a educação, em muitos casos, este espaço não está bem definido.
A inovação incremental, quando evoluímos e melhoramos algo que já existe é o caminho para iniciar esta jornada, aproveitando soluções mais maduras do mercado e apoiando em suas adaptações e implementações. Em busca da disrupção, temos modelos mais ousados e completamente novos para o negócio, abrindo espaço para novos produtos, serviços e mercados inexplorados.
Em especial, a inovação aberta, conceito popularizado pelo professor Henry Chesbrough (2003), propõe que as organizações não precisam limitar seus esforços de inovação às suas próprias equipes internas. Em vez disso, podem colaborar com fontes externas, como startups, universidades e outras instituições, para desenvolver novas soluções. Para o setor educacional, essa abordagem pode ser extremamente vantajosa, especialmente quando se trata de edtechs, as startups focadas em soluções para educação.
O mercado mundial de edtechs foi avaliado em 2023 em USD 144.60 bilhões de dólares e está concentrado na América do Norte, Europa e na Ásia Pacífica. Na América Latina, o Brasil representa o principal mercado, com 42% das 100 edtechs mais promissoras da região de acordo com a premiação da HolonIQ, The Latin America Edtech 100 de 2023.
Nos mapeamentos realizados pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups), em 2022, as edtechs representam 14,5% das startups brasileiras e totalizam 813 ativas no Brasil. Essas startups estão divididas em diversas áreas, com plataformas de aprendizado, gestão escolar, inteligência artificial, realidade aumentada e outras tecnologias emergentes. Aproximadamente 80% das edtechs mapeadas já estão nas fases de operação, tração e escala, ou seja, possuem soluções consolidadas e atuação ativa no mercado com algumas delas já partindo para internacionalização.
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Sendo assim, apesar do termo startup muitas vezes estar associado a soluções de baixa maturidade, existem muitos casos destes novos negócios baseados em tecnologia estarem em amplo crescimento e com soluções disruptivas, maduras e relevantes.
Para se conectar e estabelecer um relacionamento profícuo com este ecossistema, muitas instituições de ensino têm adotado hubs e programas de inovação aberta como estratégia para enfrentar os desafios da educação moderna.
Organizações como SENAI e SESI, com a NAV, a FTD Educação, com o Órbita e o grupo Ânima, com o Learning Village, têm se destacado nesse cenário. Esses hubs conectam as instituições a edtechs e tecnologias de ponta, promovendo um ambiente fértil para a criação de soluções inovadoras que atendem às necessidades dos estudantes e do mercado.
Aproximadamente com um ano de operação, a NAV, hub da área de educação do SENAI e do SESI, já está conectada com mais de 100 edtechs no Brasil. Por meio de programas, projetos e parcerias, as conexões geram oportunidade de desenvolvimento e novas soluções para evolução das redes de educação básica, profissional e superior.
São 48 projetos de diversas tecnologias educacionais como plataformas, aplicativos, sistemas imersivos, entre outros. Assim, a NAV se posiciona como parceiro na jornada de trazer a educação inovadora como base para a construção do futuro do trabalho e do país.
Os rankings que retratam as empresas mais inovadoras do Brasil, apresentam setores como de saúde, papel e celulose, materiais, energia, tecnologia, entre outros. Em 2024, no ranking do MIT Technology Review Brasil, não há nenhuma empresa de educação entre as 20 mais inovadoras. E no Prêmio Valor Inovação Brasil do Jornal Valor Econômico, não há entre as 10 mais inovadoras, com a primeira empresa de educação aparecendo na 27ª posição (Cogna Educação). Faz-se necessário realizar uma análise do porquê e especialmente construir estratégias para mudar este cenário.
A inovação aberta é um caminho eficaz para acelerar e buscar parceiros estratégicos para fazer as mudanças acontecerem. Por meio das conexões, união de esforços e a colaboração com edtechs, por exemplo, é possível implementar rapidamente soluções que melhoram a experiência de aprendizagem, personalizam o conteúdo para cada aluno e tornam o ensino mais inclusivo e acessível.
Sobre o autor:
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Felipe Morgado
Superintendente de Educação Profissional e Superior, SENAI - Departamento Nacional
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Bett Brasil.
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