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22 out 2024

Professor: qual seu papel em relação à tecnologia na educação?

por Guilherme Cintra
Professor: qual seu papel em relação à tecnologia na educação?
No Mês dos Professores, é essencial discutir desafios dos educadores na implementação de ferramentas mais modernas em sala de aula

Ao trabalhar com inovação e tecnologia em educação já escutei, muitas vezes, que escolas são conservadoras e que os educadores não estão dispostos a mudar, apesar do desejo dos alunos por um ensino mais atrativo e inovador. Mas o quanto essa mensagem carrega um estereótipo que não corresponde à realidade?

A experimentação necessária durante o isolamento causado pela pandemia da Covid-19 reduziu as barreiras para aceitação do uso de tecnologia no contexto educacional. A onda recente do uso de Inteligência Artificial gera um entusiasmo pela adoção de novas ferramentas. Isso aumenta a cobrança, especialmente direcionada aos docentes, em relação aos desafios de implementar ferramentas e métodos mais modernos na escola.

A questão, no entanto, é mais complexa. Acredito que, na realidade, dentro do ecossistema escolar, exista a resistência de quatro agentes fundamentais: alunos, famílias, gestores escolares e, sim, também dos professores. Mas há nuances e causas que devem ser tratadas ao se inovar no contexto educacional.

Os alunos vivem em um mundo hiperconectado e a escola não pode se alienar deste fato. Porém, a forma de se inserir a inovação no cotidiano educacional deles muitas vezes não atende às expectativas, visto que, em grande parte, ferramentas educacionais não atingem (e talvez nem devam) os mesmos graus de entusiasmo por parte dos discentes. Essa hipótese foi corroborada por um estudo da companhia americana BrightBytes, que mostrou que nos Estados Unidos apenas 30% das licenças de aplicativos compradas pelas escolas são usadas pelos alunos e 98% delas nunca foram usadas com intensidade, ou seja, utilizadas por, pelo menos, dez horas entre duas avaliações.

Outro elemento fundamental são os tipos de incentivos que damos aos alunos. Escolas, por vezes, dão pontos extras aos alunos para que estes se engajem com o uso de ferramentas. Porém neste sentido, falham em promover um engajamento genuíno com o aprendizado.

Em um exercício prático que fiz ao entrevistar “bons” e “maus” alunos, de acordo com parâmetros de notas e comportamento, obtive a mesma resposta: viam a ferramenta educacional apenas como uma forma de ganhar pontos extras e não algo que os ajudaria a aprender. Essa situação só mudava quando a escola envolvia os professores no projeto com orientações de uso da ferramenta aos estudantes e com o acompanhamento de todo o processo.

Papel da tecnologia na escola junto aos alunos

O segundo agente, as famílias, temem que mudanças na educação possam comprometer o futuro acadêmico e profissional de seus filhos, preferindo aderir a abordagens educacionais tradicionais e comprovadas. Isso acontece porque há preconceitos e falta de conhecimento quando falamos sobre o uso da tecnologia como aliada, e é difícil compreender novos caminhos quando seus resultados só são enxergados, em geral, a longo prazo.

A realidade escolar vivida pelas famílias é totalmente diferente da que hoje suas crianças e jovens vivem. Assim como a experiência dos alunos que estão atualmente na escola será diferente daqueles que cursarão o ensino básico no futuro.

Por outro lado, os gestores também hesitam em adotar inovações educacionais devido ao risco de falhar em atingir metas de desempenho estabelecidas, pois espera-se que secretários de educação, diretores, coordenadores, de escolas públicas ou privadas, alcancem resultados expressivos. Além disso, há uma enorme pressão para manter práticas educacionais convencionais, como já citamos, por parte das famílias. Apostar em uma empresa nova para um trabalho a ser realizado, por exemplo, pode gerar problemas que os levam a ser cobrados no futuro.

Por fim, os professores. Eles enfrentam obstáculos práticos e culturais ao integrar tecnologias na educação, desde a infraestrutura inadequada até a resistência (do sistema e dos outros agentes) a mudanças nos métodos de ensino.

Qualquer um que já deu aula usando tecnologia em uma escola que não está preparada para utilizar essas ferramentas passou “problemas técnicos”, como internet ruim, projetor que não funciona ou tablets individuais que não conectam. Cabe ressaltar que o acesso a equipamentos deste tipo é uma realidade que poucas escolas têm em nosso país.

Além da falta de infraestrutura, que pode acabar com qualquer planejamento de aula, temos elementos culturais. Há projetos de lei que proíbem o uso de celulares e equipamentos eletrônicos em escolas, explicitando que existem exceções no caso de atividades educacionais. Porém, isso já denota uma aversão ao uso desses aparelhos – comportamento validado por dados e evidências.

Estudos da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), por exemplo, mostram que não há uma correlação entre fortes investimentos em tecnologia e aprendizado, nas implementações em média. Outras pesquisas mostram que escrever em computadores prejudica mais do que ajuda a retenção de conhecimento e que a folha de papel tem efeitos importantes.

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Por outro lado, um estudo realizado pelo Núcleo de Estudos Raciais do Insper (NERI), com apoio da Fundação Telefônica Vivo, que utilizou como base dados do Censo Escolar e do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica, do Governo Federal), identificou a relação positiva de como a tecnologia pode influenciar no ensino e na aprendizagem, em diferentes etapas da trajetória escolar dos estudantes. Olhando para a educação básica, analisou-se quanto o grau de exposição dos estudantes à tecnologia pode impactar os resultados na prova do Saeb e como as diferenças de desempenho estão associadas a questões raciais.

O que aqui mais importa, porém, que é o “como usar” a tecnologia na educação, não está sendo amplamente discutido. Leis que proíbem o uso de equipamentos reforçam o fato de que não acreditamos que seja possível o professor ensinar seus alunos a usarem a tecnologia com responsabilidade. Mas, com visão sistêmica, isso é possível.

Uma escola que queira efetivamente aproveitar o melhor das ferramentas tecnológicas precisa de um ambiente propício para um formato no qual o professor tenha a inovação como parte do processo de aprendizagem.

Em entrevista à Escola Viva, em 1993, Paulo Freire, ao falar sobre a incorporação das tecnologias de seu tempo às escolas nos brindou com a seguinte frase: “a primeira condição para que um educador ou educadora tenha seu discurso válido é estar à altura de seu tempo”. Frase essa que permanece absolutamente atual. E acrescento a necessidade de que isso estenda-se não somente ao educador, mas à comunidade educacional como um todo.

Neste mês dos professores, cabe destacar seu papel importantíssimo em ajudar a desenhar modelos atuais para um ensino completo, atrativo e moderno, incorporando as tecnologias de nossos tempos. Sempre com objetivos concretos em mente. São estratégias que farão com que, de fato, mudanças aconteçam e o sistema educacional inteiro se mova e se renove.

Sobre o autor:


*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Bett Brasil.

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