Inteligência relacional no ambiente de trabalho
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Ano começando e, com ele, o estabelecimento de novas relações ou mesmo a reedição de antigas relações interpessoais. E nada melhor do que pensarmos em como cada um de nós, na escola, pode contribuir com a criação de um ambiente sustentável. onde prevaleçam relações saudáveis.
Para começar, vamos pensar: o que podemos considerar como um ambiente sustentável? Pare um pouquinho e pense!
Ambiente de trabalho sustentável é aquele que favorece o desenvolvimento de habilidades pessoais e coletivas e as valoriza. É aquele que motiva, gera pertencimento e favorece uma cultura de qualidade, tanto no aspecto operacional quanto no aspecto mental. É também aquele que favorece que nosso “fazer” deixe legado e, ainda, é aquele que promove uma cultura institucional de “lifelong learning”, isto é, aprendizagem contínua.
Esse é o melhor dos cenários, não é? Mas nem sempre é assim, e é preciso rever rotas individuais e coletivas para construirmos um ambiente assim! E isto por quê? Porque os conflitos existem… e a negatividade também!
Conflitos existem em diferentes contextos porque somos pessoas diferentes, umas das outras, com diferentes objetivos e interesses. Por isso, os conflitos são naturais em ambientes onde há conexões interpessoais e precisam ser vistos também como oportunidades de crescimento.
Já a negatividade tóxica também pode ser uma característica de ambientes corporativos e se caracteriza, segundo estudos da Universidade de Stanford, por reclamações crônicas que geram efeitos fisiológicos e, pela repetição, fazem com que o cérebro passe por reconfiguração neural que pode reforçar pensamentos negativos e gerar uma espécie de “contaminação do ambiente”.
Partindo destes aspectos e considerando que os conflitos devem ser vistos como oportunidades de crescimento, para lidarmos com eles, é preciso:
- 1 - Ter disposição para estabelecer conexão entre os pares
- 2 - Agir com gentileza e firmeza
- 3 - Demonstrar afeto
- 4 - Estabelecer uma comunicação olho no olho
- 5 - Utilizar uma linguagem corporal assertiva e coerente com a linguagem verbal
- 6 - Fazer uso de um tom de voz respeitoso
- 7 - Validar sentimentos dos pares
- 8 - Desenvolver uma escuta ativa
Tudo isso contribui com o desenvolvimento da Inteligência Intrapessoal e Interpessoal, por meio do desenvolvimento de habilidades para construir e manter relacionamentos satisfatórios consigo e com o outro, respeitando as diferenças. Neste contexto, é importante refletirmos sobre como, a partir destas práticas, podemos gerenciar os conflitos?
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Inicialmente, é preciso reconhecer os sentimentos e emoções que cada conflito desperta. Depois, é fundamental demonstrar comprometimento com objetivos pessoais e institucionais para que, a partir deles, possamos pensar em alternativas para a administração dos conflitos.
Em seguida, é essencial demonstrar justiça e imparcialidade em relação aos envolvidos na situação. É válido também valorizar as pessoas para contribuir com sua reflexão e empoderamento. E tudo isso se faz por meio de uma comunicação aberta e transparente!
A partir daí, contribuiremos com o desenvolvimento dos cinco eixos da Inteligência Emocional: autoconsciência, autocontrole, consciência social, gestão de relacionamento e a habilidade apaziguadora.
Para que possamos contribuir com este desenvolvimento emocional no ambiente de trabalho, é preciso ainda considerar o desenvolvimento de alguns passos, tanto no âmbito individual como no coletivo. Vejamos:
1º passo: autoconhecimento
É preciso ter uma vida equilibrada consigo mesmo para estar bem com o outro. É fundamental olhar para dentro, reconhecer potências e fraquezas, o que está ou não bem, passar pelo desconforto de reconhecer limitações e gerar um processo de reparação para a mudança.
Além disso, é imprescindível permitir-se o autocuidado e autodisciplina. Reflita: como tenho me autocuidado? Faço pausas reparadoras? Crio espaços para o lazer e o descanso? Permito-me fazer escolhas de atividades que me desestressam? Reconheço minhas conquistas ou será que prefiro pensar, como nos diz o psiquiatra Arthur Guerra: “Muitas pessoas parecem viver sempre em busca de algo mais, simplesmente não conseguem se satisfazer com o que têm, e a cada meta alcançada, estipulam novos objetivos, mais distantes. Com isso, vão deixando a felicidade para depois enquanto sabotam a si mesmas?”
Temos cuidado do nível do nosso estresse ou temos nos permitido alimentar um estresse crônico, recorrente e permanente, que pode nos levar ao Burnout?
2º passo: consciência coletiva, relacional
Você se permite conhecer e ser conhecido pelas pessoas com as quais se relaciona? Será que nos lembramos de que Instagram e as imagens que ele passa não representam o mundo real!? Você já se perguntou como conciliar suas vontades com o que o mundo espera de nós?
Você se identifica com o propósito institucional de modo que isso não se torne um fardo para você e seu trabalho represente o seu propósito pessoal alinhado ao institucional?
3º passo: exercício do respeito à liberdade pessoal e do outro
Você já refletiu sobre o que é liberdade? Como agir com liberdade, sem invadir o espaço do outro? Como manter o respeito pelas pessoas mesmo diante de situações de conflito?
Como você tem se sentido? Frustrado, culpado, desvalorizado em decorrência de relações tóxicas ou apreciado, capaz, amado a partir das relações saudáveis que você tem construído no ambiente de trabalho? Como você tem agido para combater as relações tóxicas?
4º passo: clareza da imagem construída no coletivo
Nossa imagem chega muito antes do que falamos ou defendemos. Ela se revela no nosso modo de vestir, de falar...Você já pensou o que quer passar com sua imagem?
O que você atrai? Como quer ser lembrado? Quais marcas quer deixar? Quais ações suas inspiram seu entorno?
5º passo: segurança em relação a quem sou
Você reconhece seus sentimentos e necessidades? O que te realiza? Como você busca sentir-se seguro?
Como você demonstra coragem para transformar sua prática, reconhece suas dificuldades e enfrenta novos desafios? O que você tem feito para criar hábitos saudáveis? Como você tem demonstrado confiança para fazer seus próprios planos e traçar propósitos tangíveis?
6º passo: sabedoria nas relações
Como usamos a sabedoria a nosso favor? Como tomamos decisões assertivas? Como usamos o nosso potencial a serviço do crescimento pessoal e coletivo? Coloco os meus talentos a serviço do coletivo? Como dou o meu melhor?
7º passo: empatia
Empatia é tratar o outro como o outro precisa ser tratado, respeitando suas necessidades e sentimentos. É entender o sentimento do outro. Consigo me colocar no lugar do outro? Reconheço as potências e limitações do outro nas minhas relações profissionais? Reconheço que as interações tornam o corpo e o cérebro mais saudáveis e que a qualidade nas relações é mais importante que quantidade de encontros? Tenho uma atitude de escuta ativa?
A empatia no trabalho proporciona o desenvolvimento de opiniões mais fluidas, porque uma equipe de pessoas empáticas compartilha informações e opiniões de maneira mais natural e concisa, pois a constante busca para encontrar um “denominador comum” para novas ações e cenários exige isso.
Favorece ainda o alcance de melhores resultados, porque eles são alcançados em conjunto e unem a equipe e, além disso, o ambiente passa a ser mais produtivo.
Empatia no ambiente profissional favorece a melhor gestão da equipe, potencializa o desenvolvimento de lideranças e melhora significativamente o desempenho do time como um todo, a partir de uma comunicação transparente e de feedbacks assertivos e verdadeiros.
Uma relação de trabalho pautada nestas características e reflexões acima contribuem com a saúde mental do time, porque relações saudáveis e colaborativas estão ligadas ao bem-estar, à qualidade de vida, ao equilíbrio interno que leva ao desenvolvimento de habilidades e interesses, à melhor gestão dos sentimentos e das emoções regulando-os diante das adversidades.
Diante de todas estas considerações, quais atitude o gestor deve favorecer para promover a saúde mental da equipe e oportunizar o desenvolvimento da inteligência relacional do grupo?
- Esteja aberto para ouvir e ajudar;
- Saiba se comunicar, considere o outro, pratique a “escutatória”, como dizia Rubem Alves, sem dar seus exemplos;
- Respeite a opinião alheia;
- Saiba reconhecer e interpretar as emoções do outro;
- Assuma uma postura colaborativa, pergunte como pode ajudar;
- Compreenda o perfil do outro e encontre a melhor alternativa para ajudá-lo;
- Tente engajar outros interlocutores em ações coletivas de ajuda;
- Sugira estratégias que ajudem o outro a desestressar;
- Colete evidências: clima da sala dos professores, perfil de saúde da equipe, relacionamento com pais e alunos e, a partir deles, trace um plano de ação para ajudar o grupo.
Enfim, a construção de um ambiente saudável na escola é um processo contínuo. Ele parte do olhar e perfil individual e culmina com o desenvolvimento de ações coletivas inspiradas por uma liderança receptiva, que atua inspirando e agindo de modo que, assim, possa ajudar na modelagem de comportamentos que sejam positivos para a saúde mental da equipe.
Pensem nisso: eu estou me autoavaliando e ajudando meu grupo a crescer neste aspecto?
Que 2025 seja marcado por relações positivas, saudáveis e felizes!
Sobre a autora:
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Bett Brasil.
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