José Pacheco apresenta um novo conceito de open learning em sua palestra
O professor português José Pacheco é referência na educação brasileira desde os anos 1970, quando criou a Escola da Ponte, modelo debatido e conhecido em todo o mundo. Há 20 anos transitando entre Portugal e Brasil — onde replicou o modelo da Ponte em vários projetos como o Âncora e a Escola Aberta de São Paulo –, o professor e pedagogo continua a criar, como diz, a “utopia” da educação. E foi esse o fio condutor de sua palestra que encerrou o primeiro dia da Bett Brasil sob o tema “Evolução da educação: aprender sem aulas e sem provas”.
Aos 71 anos completados nesta terça, 10 de maio — Pacheco ficou um pouco constrangido quando a plateia puxou um ‘parabéns pra você’ no Auditório 1 lotado –, o educador continua sua luta contra um modelo de escola que, diz, promove a ignorância e não respeita a Constituição. E 46 anos após ter fundado a Escola da Ponte, mergulha em um novo projeto, o Open Learning School, https://oplschool.com/ que inaugurou em Portugal a primeira escola de aprendizagem aberta com iniciativa privada, e em breve chegará ao Brasil.
“Eu passei 54 anos em escola pública, mas não posso ser preconceituoso. Se a escola pública não faz, que outros façam”, disse Pacheco, que pretende, mais uma vez, mostrar que “outra escola” é possível, e compartilhou com os congressistas um texto que sintetiza as conclusões de um estudo da OCDE e da Unesco, que diz que o atual modelo escolar não funciona mais.
“Basta olhar para as doenças dos professores, para o suicídio juvenil. Os alunos não aprendem; decoram, colocam num papel e esquecem. A escola não cumpre aquilo que está na Constituição, que a escola deve garantir o direito à educação a todos. Mas eu pergunto: a todos? Mais de metade dos jovens estão marginalizados”, constatou o palestrante.
Pacheco logo emenda que há 50 anos ouve falar da educação do futuro, mas que essa educação nunca chega. O pedagogo português diz, então, defender uma nova construção social de aprendizagem. E enumera três grandes paradigmas educacionais.
O primeiro paradigma é o da instrução, “que nasce na Prússia militar no século XVII e na França e Inglaterra no século XIX”; o paradigma da aprendizagem, “que nasce no início do século XX com a Escola Nova, em que o centro não é o professor, é o aluno, e que defende a autonomia desse aluno, o que nunca foi praticado a não ser na Escola da Ponte, no Projeto Âncora e na Escola Aberta de São Paulo”; e por fim há o terceiro paradigma, que é o da comunicação, “que vem de nomes como Paulo Freire, e dá ênfase à relação entre aluno e professor”.
“Dentro desses três paradigmas, o que nós temos de fazer é uma nova construção social. O que está hoje em causa é que o centro não é aquele que o paradigma da aprendizagem propõe, o aluno; o centro é a relação, a ligação entre o aluno e o mediador/professor, e entre eles há o objeto de aprendizagem para atribuir significado e abrir um vínculo, sem o qual não acontece nada. Esse vínculo não é só cognitivo, é também afetivo, emocional, estético, ético, até espiritual”, afirmou José Pacheco, que criticou os sistemas de avaliação, em especial os vestibulares como o Enem. “provas não provam nada”, provocou.